❀Capítulo 1❀

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   A loira de olhos claros dormia profundamente em minha cama. Eu já a havia chamado milhares de vezes, mas ela continuava a dormir, com seus longos cabelos loiros espalhados pelo rosto. Ela ergueu a mão, pedindo para que eu parasse. Sabia que tínhamos uma longa viagem até o campus.

   — Jô! Por favor, levanta, você sabe que dia é hoje. Então, por favor, levanta — disse, vendo-a abrir os olhos lentamente e sorrir.

   — Que... horas... sãoooo? — perguntou entre bocejos.

   — Quinze para as duas — respondi. Ela se sentou na cama, parecendo desorientada, como se tivesse vindo de outro planeta. Sua cabeça pendeu para frente algumas vezes.

   — Por que não me chamou mais cedo? — resmungou, e eu revirei os olhos.

   — Estou te chamando desde as nove. Minha mãe já me ajudou a colocar nossas malas no carro, já que você não se levantava — fui até minha escrivaninha para pegar meu celular. Quando me virei, ela ainda estava sentada, encarando o chão. — Deixei essas roupas para você usar agora — apontei para as peças em cima da cama.

   — Obrigada — sorriu sem graça e pegou as roupas. — Prometo que não vou demorar, não quero que se atrase — disse, entrando no banheiro.

   Saí do quarto e caminhei até a sala. Assim que cheguei, sentei no sofá e liguei a televisão. Comecei a passar pelos canais à procura de algo interessante, até parar no E! Eles estavam falando da chegada de Leon ao país. Senti um frio na barriga só de lembrar que iria reencontrá-lo hoje. Durante todo esse tempo, sempre conversamos pelas redes sociais, mas passamos um bom tempo sem nos comunicar quando ele se mudou para a Inglaterra. O pai de Leon, o Sr. Perth, tem uma rede de empresas espalhadas pelo mundo, e quando a sede das empresas se mudou para o Reino Unido, todos se mudaram para lá. No começo, fiquei com raiva de Leon, mas com o tempo percebi que ele não poderia ter feito nada. Faz cerca de oito anos que não nos vemos pessoalmente.

   Meu celular vibrou e o peguei. Quando vi a notificação, era uma mensagem de Leon. 


   Como foi seu aniversário?

Foi bom 😊

   Foi bom? Isso mostra que foi um desastre.

Não, foi legal

   Você que sabe hehehehe

   Eu queria muito ter comparecido.

Eu pensei mesmo que você iria aparecer na última hora .-.

   Espero que não tenha ficado a festa toda olhando para a porta.

Quase isso 😅 Como foi à viagem?

   Cansativa, mas está tudo combinado para hoje à noite. Você ainda vai, certo?

Claro 😊 Estou voltando para o campus agora.

   Podíamos ir para a Inglaterra juntos o que acha?

Seria legal

Como está seu pai? Ele ainda está te enchendo?

   Um pouco

Tenho que ir agora, nos vemos mais tarde.

   Okay! Vou pedir para o Sam ir te buscar. Sua amiga também vem né?

Sim ela vai 😊

  Até mais tarde anjo.

Até mais tarde Leon.


   Desligo o celular e o coloco no bolso. Minha mãe está vindo em minha direção, sorrindo enquanto limpa as mãos no pano.

   — Por que você e a Jolie não ficam o resto da semana? — Ela mexe nos cabelos castanhos, colocando todos os fios para o lado direito, caindo sobre o ombro.

   — Temos planos para hoje à noite e não podemos faltar — não contei nada aos meus pais sobre a volta do Leon. Minha mãe o culpa pelas decisões que tomei, mas tudo que ele fez foi me encorajar a fazer o que eu já deveria ter feito há muito tempo.

   — Você tem falado com o Noah? — indagou.

   Sabia que uma hora ela iria tocar no assunto Noah. Ela estava esperando por esse momento há semanas. Pensei que ela faria isso assim que pisasse em casa, mas depois de cinco dias, achei que ela havia superado. Pensei que amava o Noah, mas percebi que só estava usando-o. Noah surgiu assim que Leon se foi, e acabei me apegando a ele. Os anos foram se passando, e Noah me pediu em namoro. Decidi dar uma chance para ele. Depois de dois anos de namoro, Noah me pediu em casamento, e foi quando percebi que não o amava. Aconteceu tudo ao mesmo tempo: o noivado, o Leon, a morte do meu avô. Foram tantas coisas que mal podia respirar.

   — Estou pronta! — Jolie grita descendo as escadas. Depois, tenho que agradecê-la por ter nos interrompido. — Vamos, são meia hora de viagem e não queremos nos atrasar — ela caminha até nós. Seus cabelos estão bem penteados para trás, grudados no couro cabeludo. Ela leva a bolsa ao ombro e sorri para minha mãe. — Obrigada por tudo, Sra. Samuels, foi um prazer conhecê-la — ela estende a mão, mas minha mãe a puxa para um abraço.

   — O prazer foi meu — diz ela. Levanto-me e me despeço da minha mãe. Ela me faz prometer que ligarei assim que chegarmos ao campus. Jolie e eu saímos da casa em direção ao carro e entramos.

***

   — Como estou? — pergunto para Jolie, ainda em dúvida sobre meu visual. Estou usando um vestido preto básico, enquanto ela está com um dourado.

   — Está ótima — responde, terminando de passar seu batom.

   — Então vamos?! — Ela confirma com a cabeça. Pego minha bolsa e meu celular antes de sairmos do dormitório.

   Assim que chegamos à entrada do campus, vejo um senhor com uma placa escrita "Anjo?!". Um sorriso bobo se estampa no meu rosto. Jolie me dá uma cutucada com o cotovelo e reviro os olhos. Cumprimentamos o motorista ou segurança, não sei direito, ele se apresenta como Sam.

   Entramos no carro e ele logo dá a partida. O caminho é demorado e me dá tempo para pensar em tudo. Jolie está mais nervosa que eu; ela fica mexendo na alça do cinto o tempo todo. Sorrio quando meu celular toca e logo abro a bolsa.


   Estão a caminho?

Sim, não vamos demorar :p

   Como ele não falou mais nada, devolvo meu aparelho celular para a bolsa. A estrada está quase vazia e o relógio do rádio do carro marca 21:35 de um sábado à noite. Olho para minhas mãos que tremem. Não sei por que estou tão nervosa, é só o Leon, meu melhor amigo. As batidas do meu coração ficam mais fortes. Fecho os olhos e respiro fundo.

   Volto a abrir os olhos quando escuto gritos. O carro começa a virar, a pouca luz me cega. Quando tento focar no que está acontecendo, o som dos pneus cantando rompe os gritos, e o carro para.

   Meus olhos se encontram fechados. Sinto o vento frio colidindo contra meu corpo, me puxando cada vez mais para a escuridão. — Lizz — ouço alguém gritar ao fundo. Tudo está escuro e minha cabeça dá voltas.

   Tento abrir os olhos, mas a pressão que sinto neles me impede. O ar me falta e sinto uma agonia por todo o corpo. Não consigo me mover, não consigo abrir os olhos e não consigo sentir meu corpo. Ouço algumas sirenes, mas tudo parece tão longe. Algo começa a subir pela minha garganta, impedindo minha respiração. Começo a tossir e meus olhos se abrem lentamente, mas também se fecham lentamente. Tento virar a cabeça e a tosse fica mais forte. Um líquido sobe pela minha garganta e sai pela minha boca.

   — Senhorita? — ouço, mas não identifico a voz.

Sonhei Que Amava Você 》 Book OneOnde histórias criam vida. Descubra agora