Dor

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   O ambiente do hospital era deprimente. Pessoas choravam pela perda de entes queridos, outras estavam ali só aguardando notícias, alguns só estavam ali por algum tipo de dor física. A todo momento entrava alguém gritando e ensanguentado. Mesmo não tendo nenhum tipo de parentesco, o moreno se sentiu comovido e todo o seu corpo estremecia. Ele odiava hospitais por isso, ele odiava ver a dor das outras pessoas.

   Ele se levantou da última poltrona da sala de espera. Ele estava escondido, só aguardando o momento que a Sra. Samuels saísse. Ele sabia que ela nunca o deixaria ver sua filha, ela já havia o expulsado três vezes do hospital. Já o seu marido era mais maleável, ele havia prometido que o deixaria visitá-la, mas só quando sua mulher não estivesse. Ele não queria problemas com ela, ela tinha tanto direito quanto ele para proibir o moreno de visitar a garota em coma. Ele entendia o lado de sua esposa, mas não achava justo para sua filha e nem para o moreno.

   Quando as portas do elevador se abriram, ele caminhou em passos largos. Ele não teria muito tempo para ver a morena, sua mãe poderia voltar a qualquer momento. Ele não temia por ele, mas sim por Gustavo, que estava se arriscando ao deixá-lo visitar sua filha sem o consentimento de sua esposa. Quando ele finalmente chega ao corredor onde fica o quarto da morena, ele vê a loira sentada numa das cadeiras em frente à porta, que rapidamente é aberta. Ele vê o moreno alto saindo de lá, ele estava usando a mesma roupa de ontem, uma calça jeans azul e uma camisa de linha cinza, seus cabelos estavam molhados, completamente lambidos para trás.

   — Alguma notícia nova? — indagou o moreno, chamando a atenção de todos. A loira dá uma olhada rápida, ela cruza os dedos encarando o chão, mas a atenção do moreno não está nela, está no pai da garota. Ele nega e olha para o fim do corredor, ele temia que sua esposa aparecesse.

   — Por que não entra um pouco? — ele aponta com a cabeça para a porta do quarto onde a jovem está.

   — Obrigado por deixar que eu possa vê-la — seus olhos estão na porta. Ele queria entrar lá agora o mais rápido possível, mas não queria parecer ignorante.

   — Ela gostaria que estivesse aqui — declarou o pai da morena.

   — Me desculpa por tudo — ele volta a encarar o mais velho.

   — Você não tem culpa de nada, meu jovem, não se deixe abater pelas palavras de minha esposa. Ela precisa culpar alguém para não se culpar por tudo — sua mão direita segurou o ombro do moreno. Ele não o culpava diretamente, ele sabia que o moreno nunca machucaria sua filha.

   — Se eu tivesse aparecido no aniversário dela como havia prometido, nada disso teria acontecido — sua voz falha e ele não consegue encarar o pai da morena.

   — Vamos parar de pensar no passado, ela é uma garota forte. Você vai ver, ela vai acordar logo logo e vai rir de nossas caras — ele forçou um sorriso. Ele estava tentando se convencer disso, mas só estava piorando a situação.

   — Será que posso entrar agora? — indagou o mais novo depois de um tempo.

   — Claro — sorriu. — Você tem menos de uma hora antes dela voltar.

   — Obrigado mais uma vez — o pai da garota faz uma reverência rápida com a cabeça em forma de confirmação.

   Quando o moreno entra no quarto, todo seu corpo estremece. Era algo estranho, seu corpo entrou em choque e ele não ignorou as lágrimas que queriam sair. Ele não acreditava no que estava vendo, sempre era assim, como se ele estivesse entrando aqui pela primeira vez. A morena tinha sua cabeça enfaixada, um tubo ajudava na sua respiração, e uma prótese estava em seu pescoço. Ele caminhou lentamente até a cama, o rosto da morena estava cheio de cortes e alguns hematomas, seu braço esquerdo estava cheio de marcas roxas. Sua perna direita estava erguida um pouco, por conta da prótese de ferro. Ele se sentia mal só em olhar aqueles ferros dentro da perna da morena.

   — Eu andei vendo alguns vídeos de pessoas em coma que acordaram — ele começou. Sua voz era fraca, ele não conseguia olhar para a morena sem se sentir mal por isso. — Alguns alegaram que ouviam o que seus parentes diziam. Não sei se você está me ouvindo, mas eu sei o quanto você é corajosa e espero que não esteja com medo. Eu sempre estarei aqui com você. Eu não vou prometer porque não sou muito bom em cumprir promessas, mas espero que saiba que te amo e farei de tudo para te ver sorrir e andar mais uma vez. Talvez isso demore um pouco, mas sempre estarei aqui, fisicamente e mentalmente.

   O moreno se aproxima mais da cama, mas dessa vez ele leva suas mãos até a mão da morena, que se encontrava fria. Ele tentou aquecê-las com as suas, mas era inútil. Ele se sentia impotente, ele não poderia fazer nada para ajudá-la e isso o deixava mal. Ele se aproximou da morena, ela cheirava a álcool como tudo ao seu redor, mas ele imaginou lírios. Ele sorri para si mesmo antes de deixar um beijo na testa da morena.

   — Que sua coragem seja mais forte do que seu medo — ele proferiu as palavras que sempre ouviu quando criança. — Você se lembra? Seu avô sempre dizia isso quando você estava com medo de algo — ele acariciava a mão da morena com esperança que ela acordasse, mas nada, nem mesmo um mexer de dedos. — Talvez eu volte amanhã, torça para que sua mãe tenha que sair — ele voltou a deixar um beijo na testa da morena. — Se cuida, anjo.

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⏰ Última atualização: Aug 20 ⏰

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