o menino assentado sobre o sofá vinho com amarelo mostarda.

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“Aprendi também que por mais que você queira muito alguém, ninguém vale tanto à pena a ponto de você deixar de se querer.”

Tati Bernardi.

eu adoro café gelado, o que é engraçado já que muitíssimas pessoas me crucificam por tal ato. mas é só o meu gosto, o que há de tão errado? mas obviamente, as vezes eu gostava de um bem quentinho, para soprar e sentir o aroma, além é claro, de ganhar um par de óculos embaçados.

eu gostava de coisas simplistas, como poesias e marés, como chuva e cheirinho de terra molhada. não havia felicidade maior! e foi numa dessas manhãs incandescentes que eu o vi. o cabelo todo desgrenhado e molhado — talvez pela recém garoa que caía lá fora —, a camisa branca encharcada e as calças jeans abarrotadas de lama.

eu sorri. gostei da cena, era bonito. de forma até... hipnótica. não consegui parar de observá-lo e acho que ele percebeu, pois vinha em minha direção com as mãos numa tentativa falha de arrumar os fios acastanhados. eles pareciam sedosos e eu quis minimamente tocá-los. mas me contive, como um mar enlouquecido para desaguar.

oi.” foi o que disse.
“olá.” o respondi, energético, feliz, talvez a cafeína tenha surtido efeito, pensei.

“você parece ter vindo preparado.” gesticulou para o meu casaco de moletom cinza sobre o sofá vinho com amarelo mostarda daquela lanchonete.

“gosto de moletons.” dei de ombros, pondo minhas mãos sobre a mesa, especificamente à procura do meu café — que havia sido esquecido quando o outro adentrou o estabelecimento —.

“o que você gosta de fazer?” questionou interessado, me fazendo fitá-lo novamente. notei que este parecia bem à vontade, já que as pernas estavam abertas e os ombros relaxados e encostados na parte pouco fofa do velho sofá.

“eu pinto.” comecei.
“mas também escrevo poesias, fotografo e danço.” disse a última parte baixinho, quase inaudível, mas o moço prestava bastante atenção ao que saía dos meus lábios maltratados, devido a ansiedade constante dos outros dias nublados.

“você é um artista.” me mirou.
“uau, eu nunca conheci alguém tão intenso e cheio de vida como você.” continuou com a voz impressionada e pouco alta. sorri ladino, tomando mais um gole daquele café amarronzado. tentei disfarçar minhas bochechas vermelhinhas, mas fora impossível para o meu tom de branco.

“todos nós somos. há uma pequena parte do universo em todos nós.” pausei, tímido e receoso, mas ele me motivou a continuar, acenando com a cabeça.

“somos poeiras de estrelas, como fora dito por um cientista. e elas são especiais, o que me faz acreditar que podemos ser muito mais.” sorri sem poder conter minha excitação pela conversa.

“é só olhar para nossas orbes, elas nos mostram uma galáxia todo dia. cada pessoa é uma descoberta diferente. é fascinante, fascinante!” tamborilei meus dedinhos no copo de plástico em que ingeria o conteúdo.

acabei prolongando o último adjetivo, hábito que tinha quando me animava em demasia.

“você é cativante, céus. eu estou sem palavras diante dessa sua magnitude.” abriu um sorriso embasbacado, parecia ter escutado coisa de outro mundo. o que me fez rir alto.

“só sou um pouco pensativo demais. nada muito grandioso.” expressei sem muito medo.

seus olhos se voltaram novamente para mim e com um teor sério me respondeu: “você é grandioso. muito mais que isso até, então não diminua jamais quem és. você é um universo inteirinho, não deixe o seu pequeno príncipe entristecido.” a citação ao livro do francês antoine de saint- exupéry mexeu comigo. soltei um risinho baixo e o agradeci sem palavras.

e naquele instante eu soube que amaria kim taehyung e que estaria destinado a ele. soube que me deixaria ser enfeitiçado e me amarraria a ele. era tudo sobre ele. mas acabou faltando o “mim.”

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essa capa linda demais foi feita pela: KSJocker.

⳽oᑲɾᥱ ᥴᥲƒᥱ́⳽ ᥱ ɾᥱᥴɩρɾoᥴɩᑯᥲᑯᥱ. • taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora