A tragédia de Birlstone
E agora pedirei licença para fazer desaparecer, por alguns momentos, a minha
insignificante pessoa e descrever os fatos sucedidos antes da nossa presença no local do
crime e que chegaram ao nosso conhecimento posteriormente. Somente desse modo
poderei fazer com que o leitor julgue as pessoas nele envolvidas e o estranho cenário
para onde os seus destinos foram lançados.
A vila de Birlstone é um pequeno e vetusto grupo de casas de madeira e tijolos, situado
na fronteira setentrional do condado de Sussex. Conservara durante séculos o mesmo
aspecto, mas há questão de poucos anos o pitoresco de sua fisionomia e localização
atraiu alguns moradores abastados, cujas casas de campo se vislumbram por entre a
folhagem dos bosques circundantes. É crença local que esses bosques constituem a orla
extrema da grande floresta de Weald [1], que se vai tornando menos densa ao atingir as
dunas calcárias do norte. Aqui e ali começou a surgir certo número de pequenas lojas
para atender às necessidades da população em crescimento, de maneira que isso nos faz
crer que Birlstone possa em breve passar de antiga vila a cidade moderna. É o ponto
central de uma área considerável da região, pois Tunbridge Wells, o lugar mais próximo
digno de importância, fica de quinze a vinte quilômetros a oeste, além das fronteiras de
Kent.
A oitocentos metros da povoação, no meio de um parque famoso pelas suas gigantescas
faias, situa-se a velha Mansão de Birlstone. Parte desse venerável edifício data da época
da primeira cruzada, quando Hugo de Capus construiu uma fortificação no centro da
propriedade, que lhe havia sido outorgada pelo Rei Vermelho. Esse forte foi destruído
pelo fogo em 1543, e parte dos seus alicerces, enegrecidos pela fumaça, foram
utilizados quando, na era jacobita, se ergueu uma casa de campo de tijolos sobre as
ruínas do castelo feudal. A casa senhorial, com os seus inúmeros torreões e as suas
minúsculas janelas de vidraças em forma de losangos, ainda conserva muito do estilo
que o primitivo construtor lhe havia fixado no princípio do século XVII. Dos dois
fossos circundantes que tinham protegido os belicosos antepassados, o externo foi
secado e servia modestamente de horta, e o interno ainda era conservado, abraçando a
casa e medindo treze metros de largura, posto que tivesse agora pouco mais de um
metro de profundidade. Era alimentado por um pequeno regato que o atravessava, de
modo que o lençol de água, embora turvo, não tinha aparência de estagnado ou
insalubre. As janelas do térreo elevavam-se a apenas trinta centímetros da superfície da
rua. O acesso à casa era feito exclusivamente através de nina ponte levadiça, cujas
correntes e guindastes há muito se encontravam quebrados e cobertos de ferrugem. Os
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sherlock holmes: o vale do medo.
RomanceNos Estados Unidos, uma sociedade secreta comete uma série de crimes e espalha terror e medo num vale inóspito do leste do país, compondo o cenário ideal para que o requisitado detetive Sherlock Holmes entre em ação, com a ajuda de Dr. Watson, para...