Ao sair do prédio Eve respirou fundo e resolveu ir caminhando até a toca que foi chamada de casa no anúncio do site da imobiliária. Respirar a brisa gelada da noite ajudou um pouco na sua dor de cabeça, ficar horas confinada em um corredor sentada em cadeiras de plástico ao lado de pessoas mal-humoradas e ansiosas não faz bem à ninguém, mas Eve sabia que a dor de cabeça que sentia era por causa da fome e agora já não tem nada mais aberto nessa cidade (não mercados ou lanchonetes "entráveis") pois tudo que parece existir nessa cidade são bares, restaurantes e lanchonetes para solteirões carentes e o McDonald's fica do outro lado da cidade, assim como qualquer outro fast-food comestível. O jeito seria se sustentar com barrinhas de cereal por mais um tempinho.
Assim que fechou a porta Eve jogou bolsa e chaves no sofá e foi tomar, até mesmo deixou a água gelada inicial cair sobre seu corpo. Durante o banho ela recapitulou o dia entediante e estressante que teve e a conversa absurdamente esquisita que teve com aquele homem que ela sequer sabe se é o gerente que precisa de assistente, se é o ex assistente ou alguma outra pessoa de cargo mais ou menos bom na empresa. Mas nas horas que passou no corredor da morte (teve tempo o suficiente para escolher esse nome) viu nove pessoas interessadas na vaga saírem por aquela maldita porta de madeira e nenhum deles parecia estar relaxado, nem um pouquinho. Todos saíram batendo o pé com força no piso ao marcharem até o elevador e ela, logo ela, sequer foi entrevistada e com total certeza foi grossa o suficiente para o homem ter motivos para mandá-la para fora do prédio e de repente, contratada. Será que ele estava brincando? Se não estivesse com certeza mudaria de ideia após ler seu currículo, só havia um trabalho de quatro meses como babá e além de ter sido um desastre isso não tem nada a ver com assistente pessoal, nada mesmo. Será que ela daria cenouras picadas na boca do gerente da Editora? Tomara que não. Mas se preciso, daria. Qualquer coisa para não se vestir de pizza e ficar no meio da calçada entregando panfletos e fingindo bom humor para atrair clientes.
-Você está comendo? E se hidratando? Você precisa tomar água. Água de verdade, H2O, não refrigerante ou sucos artificiais.
-Tia, eu vou sobreviver.
-Não faça eu me arrepender de ter te dado um empurrãozinho. Dezenove anos não é mais ser um bebê.
-Tia....
-Já conheceu alguém? Fez amigos? Algum bofe? -bofe? Quem fala bofe nesse século?
-Tia, preciso ir. Te ligo outra hora, beijos.
-Eve, viva sua vida.
-É o que estou fazendo.
-De verdade. Não seja antissocial, se divirta mas não engravide, crianças não tão divertidas quando parecem ser, só são no colo dos outros.
-Tchau tia.
-Amo você, Eve.
-Amo você.
Leslie sabia ser uma boa tia quando estava sóbria e preocupada demais também, ela sempre foi uma boa pessoa mas sempre meio aérea, o que foi bom, ela sempre deu espaço suficiente para Eve ser quem realmente é. Nunca a forçou ou proibiu de nada. Mas não havia muito do que proibir, livros e filmes são o que construíram a adolescência de Eve.
Eve fechou a janela do quarto e saiu para ver se encontrava o mercado da propagando que havia visto no dia seguinte.Evecomprou comida por um bom tempo. Toda aquela torrada e geleia de morangodurariam por um mês mais ou menos. O que faria Leslie surtar, se soubesse. Aovoltar para o prédio Eve empurrou com o quadril a porta de metal que leva paraa escadaria e se assustou ao ver um homem parado ao lado da mesma.
-Desculpe, não quis te assustar -ele disse levantando as mãos como se estivessese rendendo e lhe lançou um sorriso amigável.
-Tudo bem -ela sorriu de volta e começou a subir as escadas mas parou quandoele a chamou com um "hey".
-Quer ajuda?
-Não, tudo bem. Obrigada.
-É sério -ele subiu alguns degraus e ficou dois abaixo dela e pegou um dossacos de papéis que tinha alguns vidrinhos de geleia.
-Obrigada então -ela lhe lançou um pequeno sorriso e começou a subir as escadasnovamente -Tem certeza que quer subir quatro andares?
-Você mora lá em cima? Eu moro no segundo andar e quase me jogo da escada paradescer rolando -Eve riu e negou com a cabeça.
-Seria um desastre -falou e deu uma rápida olhada em seu físico. Ele tinhaombros largos e era uns quinze centímetros mais alto que ela, tinha olhos quepareciam ser verdes ou azuis, Eve nunca sabia diferenciar e seu cabelo eraescuro.
-Aposto que sim -ele respondeu rindo e estalou a língua no céu da boca -Apropósito, meu nome é Cody.
-Eveline, mas pode ser Eve -ele alargou seu sorriso e ela se sentiuconstrangida. Pessoas que sorriam demais deixavam Eve desconfortável poisfaziam ela parecer mal-humorada e carrancuda.
-Você é nova aqui?
-Sim, cheguei esses dias.
-O que uma pessoa da sua idade vem fazer nessa cidade e pior ainda, nesseprédio?
-Falou o sênior -ela ironizou.
-Os trinta estão chegando -Cody falou balançando a cabeça mas ainda assimsorrindo.
-Estava na hora de eu me virar sozinha e não sei o motivo, mas minha tia achouessa cidadezinha o País das Maravilhas.
-Ela deveria estar bêbada. Perguntou à ela novamente? -Eve riu. Isso nãodeixava de ser verdade. Leslie estava sempre embriagada.
-Deveria ter insistido -brincou e abriu a porta que dava para seu corredor-Obrigada Cody -Eve fez menção de pegar suas compras mas ele afastou.
-Eu levo -ela assentiu agradecida e caminharam até sua porta. Vinte e sete.
-Obrigada, de verdade.
-Sem problemas. Qualquer coisa para adiar ter que lidar com o mau-humor do meuchefe.
-Você trabalha aqui perto?
-Na Editora do centro -céus.
-O chefe é ruim?
-Ruim? Ruim é o diabo, aquele homem faz o diabo correr -Eve deixou sua chavecair e se abaixou rapidamente para pegá-la -Tudo bem?
-É só que, acredito que eu seja a nova assistente pessoal dele -Cody a encaroupor um tempo e depois soltou um assovio.
-Vou rezar pela sua alma -Eve deve ter empalecido pois logo Cody corrigiu -Nãoé tão ruim -ele não estava sendo nada sincero.
-Tudo bem -ela deu os ombros tentando parecer indiferente.
-É sério.
-Vou saber lidar com mau-humor, sério.
-Claro que sim -ele tentou soar confiante. Falhou, Cody.
-Obrigada -Eve pegou suas compras e abriu a porta.
-Até mais, Eve.
-Até.
Eve praticamente bateu e porta e deslizou por ela até se sentar no chão. Ter umchefe mal-humorado com certeza não é o que ela chamaria de começar com o pédireito. Mas também pode ser que ele nem a chame, não é mesmo? Ele poderiaestar só tirando com a cara de apavorada dela e por que ele a contrataria entrenove pessoas que eram no mínimo cinco ou seis anos mais velhas que ela e quecom certeza tinham alguma experiência além de babá? Não há com o que sepreocupar, pensou. Ele nem vai me chamar.
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Wake Me Up Inside | Justin Bieber FANFICTION
RomanceJá era ruim o suficiente ser e estar sozinha. Era ruim o suficiente morar em um loft que mal cabia ela mesma. Era ruim o suficiente começar do zero em uma cidade completamente desconhecida. Era muito ruim, mais que o suficiente, ter que lidar com o...