Capítulo 5
Às sete da manhã, pontualmente na hora marcada, Cristian chega para me buscar. Entro no carro grande preto, sou péssima para nomes de carros, levando apenas uma bagagem de mão. O sol ainda está baixo, mas o dia promete ser quente.
É bem estranho ficar sozinha com ele e tão próxima, mas como ultimamente meus pensamentos estão todos focados no assunto meu pai, eu não tenho condições psicológicas de me distrair com outras coisas. Além disso, ele é apenas meu chefe e está noivo. E agora analisando melhor, ele nem é tão parecido com o Jonnhy Depp...
Cristian tem os cabelos mais curtos e num tom de castanho mais claro do que o ator. Seus olhos sob a luz da manhã possuem um leve toque esverdeado, algo que eu não tinha reparado antes. E ele não se veste de uma maneira estilosa como JD, suas roupas são bem casuais. Também não usa cavanhaque, bigodinho, nem aqueles chapeuzinhos engraçadinhos que o interprete do meu pirata favorito curte. Mas tirando isso, eu admito que ele passaria muito bem por um clone do JD.
Falamos inicialmente sobre amenidades. Coisas do tipo:
- Que ótimo que o tempo está bom, né? - eu digo, pois não sei sobre o que conversar.
Cristian sorri, mas não deixa de prestar então na estrada. A BR101 está em obras e tem alguns desvios meio perigosos.
- Quem sabe não dará tempo de pegarmos uma praia? - ele comenta - Trouxe o biquíni?
Mas não me permite responder, pois logo ele começa a falar de trabalho e não para mais. Não fazia idéia que Cristian era do tipo tagarela. Ele me explica tudo, cada detalhe do projeto. Que o terreno é em cima de um morro, tendo de um lado vista para a praia do Siriú e do outro para Garopaba.
Diz que eles querem construir um condomínio fechado com casas de luxo. Que está cada vez mais perigoso deixar as casas de veraneios sozinhas o ano todo por causa dos assaltos. Comenta sobre todo o esquema de segurança. O muro. O policiamento 24 horas. Fala sobre a metragem do terreno e eu me espanto. É bem grande. Terá inclusive quadra de tênis e piscina. Usa vários termos técnicos dos quais eu havia me esquecido. Palavras que eu não ouvia desde a época da faculdade.
Ele fala, fala e fala. O tempo todo sorrindo e olhando para frente, enquanto ultrapassa os outros veículos. Ele corre um pouco, mas espantosamente eu não sinto medo. Cristian não comete nenhuma imprudência, parece um motorista experiente.
Falando em experiência, qual será a idade dele? Imagino algo entre 34 e 37 anos, mas não sei ao certo. Sempre fui péssima para esse tipo de adivinhação.
Observo-o atentamente enquanto ele fala e dirige. Quando ele sorri, os cantos de seus olhos se apertam e aparecem algumas ruginhas charmosas. Nunca gostei de homens mais velhos, mas tenho que admitir que ele é muito sedutor.
Cristian continua tagarelando, e eu me questiono se ele não sente sede, porque é certo que já gastou muita saliva. Tenho bastante saliva na minha boca sobrando, se ele quiser um pouco emprestada...
Ele parece empolgado com o projeto, como se realmente adorasse o que faz. Acho isso legal. Sua alegria passa um pouco para mim, que me animo e começo a fazer perguntas. Ele me explica tudo sem perder o humor e ainda me estimula a querer saber mais. Como se eu não fosse apenas a sua secretária, mas sim uma participante ativa.
Conforme os quilômetros avançam, eu vou conhecendo mais o meu chefe. Ele é legal, simpático e atencioso. Além de ser muito gato. E de perto o desgraçado é ainda mais atraente. Então eu me questiono: por que será ele está com aquela noiva nojenta? Tudo bem que o amor é cego e que ela é meio Gisele Bündchen, mas... Sei lá.
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O mundo de Jacke (DEGUSTAÇÃO)
RomanceJaqueline dedicou os últimos anos da sua vida cuidando de sua amada mãe doente. Largou a faculdade e se afastou dos poucos amigos. Seus avós morreram quando ela tinha 15 anos e desde então ela e sua mãe viveram sozinhas, sendo muito apegadas uma a o...