Dádiva

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Acordo com o despertador fazendo um escândalo! Odeio esse despertador, mas foi presente da minha mãe e é melhor ele estar aqui, caso ela venha me visitar. Ele é, digamos, muito, extravagante, exagerado, meio Lady Gaga. Mamãe realmente só entende de moda.

Eu o desligo, respirando fundo para não o jogar na parede. Me espreguiço e logo vou até o banheiro fazer minhas higienes. Visto uma camisa branca, um paletó cinza e uma bela gravata. Azul ou a vermelha? Vermelha! Termino de me arrumar e vou até a cozinha tomar um café. Encontro Luiz, meu faz-tudo, servindo o café.

Otaviano:
Bom dia, Luiz! - Sorrio.

Luiz:
Bom dia, senhor! - Ele responde com a animação de sempre. - Aí está o café do senhor.

Otaviano:
Obrigado! - Digo dando um gole no café.

Luiz:
Com licença. - Ele se retira.

Termino meu café, desço até a garagem e entro em minha BMW, para me dirigir à clínica. Não é um dos meus melhores dias, tenho que ficar duas horas sentado e com uma agulha no meu braço, não é legal, mas é necessário. Chego, me identifico na recepção e logo liberam minha entrada para minha sala particular. Sim, eu tenho uma sala só minha. Se eu tenho que vir aqui quase sempre e para o resto da minha vida, o que não me parece muito tempo, pelo menos que seja exclusivo.

Me sento na cadeira, tiro meu paletó, o coloco nas costas da cadeira e arregaço a manga da camisa. Vejo Lucy, minha enfermeira, entrar na sala. Ela é uma senhorinha muito amável, me lembra a minha avó. Lucy é de minha extrema confiança e cuida das minhas transfusões.

Lucy:
Bom dia, senhor! - Ela sorri simpática.

Otaviano:
Bom dia, Lucy! - Respondo já desanimado ao ver a agulha em suas mãos.

Lucy
Qual o motivo da tristeza, senhor? Faz tempo que não o vejo tão desanimado. - Diz limpando meu braço com um algodão com álcool.

Otaviano
A vida, Lucy... Ou a morte, já não sei de mais nada. - Disse sorrindo sem mostrar os dentes.

Lucy:
Senhor Otaviano. - Ela dá uma risada baixa. - Não seja dramático. - Ela insere a agulha que está ligada a uma bolsa de sangue. - O senhor não vai morrer.

Otaviano:
Como sabe? Eu já pensei em desistir, mas penso em minha mãe, ela é o único motivo pelo qual eu venho aqui.

Lucy:
O senhor não pode desistir do tratamento, tenha fé! Logo o senhor encontra um doador de medula.

Otaviano:
Não sei se existe esperança. Você sabe que posso morrer daqui uns meses, um ano, quem sabe dois... Você sabe o quão triste é estar sozinho?

Lucy:
O senhor não está sozinho. A sua mulher está por aí, mas ela só vai aparecer na hora certa.

Otaviano:
Nenhuma mulher vai querer um cara que pode morrer a qualquer momento.

Lucy:
Todos nós iremos morrer. Só cabe a nós a decisão de aproveitar a vida, ou sofrer pensando na morte. - Ela sorri novamente. - Vou lhe dizer uma coisa: "O ontem é história. O amanhã é mistério. Mas o hoje é uma dadiva. É por isso que se chama presente."

Otaviano:
Nossa, que profundo, Lucy.

Lucy:
Eu vi em um desenho. - Ela ri e se retira.

Lucy é muito sabia, e gosta de desenhos animados. Não posso negar que os conselhos dela são os melhores. Me vejo rindo dessa situação, porque Lucy é a única amiga que tenho e não vou negar, é a melhor. "A sua mulher está por aí...", Deus a ouça!
Coloco meus fones e ouço um pouco de Cazuza.
Lucy aparece na porta, me espia, vê que estou bem e se retira em silêncio, sempre com um sorriso no rosto. Logo ela volta para retirar a agulha e fazer um curativo.

Otaviano:
Obrigada, Lucy. - Sorrio simpático. - Por tudo!

Lucy:
Foi um prazer, senhor.

Fico ali por mais um tempo, tomo um suco na cantina da clínica e logo vou para o trabalho.
Eu sou advogado, e bem sucedido, modéstia parte.

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Deixo aqui o meu agradecimento à dona Calyne!!! 💓
Obrigadinha por ajudar a escolher um nome para fic! Esse cap é pra tu!💙

Contratada Para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora