Na noite passada tive o mesmo sonho. Só que não é um sonho. Sei disso porque,quando começa, ainda estou acordada.
Lá está minha mesa. O mapa na parede. Os bichinhos de pelúcia com os quaisnão brinco mais, mas que não guardo no armário para não magoar meu pai. Possoestar na cama. Posso estar em pé no meio do quarto, procurando uma meiaperdida. De repente, não estou mais.
Desta vez eu não apenas vejo algo. Sou levada daqui para LÁ.
Parada às margens de um rio em chamas. Milhares de marimbondos emminha cabeça. Brigando e morrendo dentro do meu crânio, seus corpos seamontoando por trás dos meus olhos. Picando e picando.
A voz do meu pai. De algum lugar do outro lado do rio. Chamando por mim.
Nunca ouvi sua voz desse jeito. Ele está tão assustado que não conseguedisfarçar, ainda que tente (ele SEMPRE tenta).
O cadáver passa boiando.
O rosto para baixo. Então espero que sua cabeça se erga, que mostre osburacos no lugar dos olhos, que diga alguma coisa com seus lábios azuis. Uma dascoisas terríveis que ele poderia fazer. Mas ele apenas passa, como um tronco deárvore.
Nunca estive aqui antes, mas sei que é real.
O rio é a divisa entre este lugar e o Outro Lugar. E eu estou do lado errado.Há uma floresta escura aqui, mas não é esse o problema.
Tento ir para onde meu pai está. Os dedos dos meus pés tocam o rio, e elemurmura dolorosamente.Então há braços que me puxam para trás. Arrastando-me para as árvores.Parecem braços masculinos, mas não é um homem que coloca os dedos na minhaboca. Unhas que arranham o fundo da minha garganta. Pele que tem gosto debarro.
Mas um segundo antes, antes que eu esteja de volta ao meu quarto com ameia perdida na mão, eu me dou conta de que estava chamando meu pai damesma maneira que ele estava me chamando. Dizendo a mesma coisa o tempotodo. Não palavras que saem da minha boca atravessando o ar, mas que saem domeu coração atravessando a terra, para que nós dois possamos ouvi-las.
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O Demonologista
TerrorO Demonologista - "A maior astúcia do Diabo é nos convencer de que ele não existe", escreveu o poeta francês Charles Baudelaire. Já a grande astúcia de Andrew Pyper, autor de O Demonologista (DarkSide® Books, 2015), é fazer até o mais cético dos lei...