Capítulo II. A primavera Parte I

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   Tiago sentiu por alguns segundos seu estômago congelar, mas, num rápido giro em semi-círculo para a esquerda fez com que a besta que vinha acelerada em sua frente passasse direto e batesse a cabeça no balcão do bar.

- Não tenho tempo para isso ursão, vá hibernar. Tiago sussurrou e arremessou um de seus machados em seu inimigo.
A medida que o machado se aproximava, Desmond ria um sorriso malicioso. Com um movimento selvagem o homem desviou o machado para a direita e a fazendo com que o machado negro afundasse na parede facilmente, como se os tijolos fossem feitos de borracha.


- Vou sim, mas antes irei almoçar um veadinho. - O homem gritou, enquanto o sangue que escorria de sua testa e o esboço de um sorriso disputavam espaço em sua pequena e deformada face.

Sério que isso foi uma piada? Espero que estejam deixando as melhores para o final, gritou uma voz zombeteira ao fundo.

- Cale a boca seu mer...- Desmond foi interrompido pelo assobiar de um feixe de luz perfurando o ar e segundos depois caiu ensanguentado com furos do tamanho de balas seis milímetros, um em cada joelho. O homem mal sentiu a dor e mais dois feixes atravessaram o ar, atingindo-o cada um em um cotovelo.

- Mas que porra Mateus! A luta estava ganha seu maldito. - Tiago se virou enfurecido para trás. Via-se nitidamente as veias de seu pescoço pulsando e seus olhos correndo em volta da sala, procurando Mateus.

- Ele ia me chamar de nome sujo e depois me fazer lamber seu sangue cara, que nojo. Me recuso a correr esse risco. Ah cara, que nojo, só de imaginar meu estômago se revira.

- Você só pode estar brincando, estragou minha festa de novo? - Tiago balançou a cabeça várias vezes de um lado para o outro.

- Pare de reclamar mano, Alice encontrou o cara. Vamos embora desse lugar fedido e mal frequentado.

Tiago caminhou decepcionado até onde estava seu machado, retirou-o com certa dificuldade da parede mofada, praguejou algumas palavras amaldiçoando seu parceiro e jogou algumas notas para o garçom que estava boquiaberto com o que acabara de ocorrer.

- Ow cara, vai entrar uma mosca aí - Tiago disse num tom de deboche.

O garoto virou e foi embora logo atrás de Mateus, deixando para trás dezenas de homens que com as mãos trêmulas seguravam seus revólveres aterrorizados.

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Alice já estava nervosa com a demora, andava de um lado da sala para o outro, amaldiçoando a irresponsabilidade de Tiago. Faziam cerca de quatro horas que a "Princesa de fogo" - como era conhecida graças ao seu cabelo ruivo e seu olhar que aparenta sempre estar em chamas - havia escutado Mateus dizer que buscaria Tiago para a missão e até agora eles não voltaram.

- Bando de incom...- Alice foi interrompida pelo arrastar de pés de Tiago.

- Chegamos princesinha - Tiago bateu a porta e praguejou.
Como sempre, aquela sala fedia a tédio e tinha aquele clima de conversas que nunca agradavam o jovem, além do cheiro de perfume caro que Alice sempre usava. Tinha uma estante gigante cheia de livros e esculturas à esquerda, um tapete espesso no chão, uma mesa de reuniões (que substituiu a única coisa que agradava o jovem, um sofá macio e espaçoso) e um lustre imenso que certamente era a peça mais odiada por Tiago. O garoto queria sair logo dali.
Alice moveu os lábios prestes a começar um discurso sobre a irresponsabilidade de Tiago, que percebendo o movimento se apressou.

S4VIOR - Os Guerreiros Do GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora