Capítulo III. A primavera Parte II

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   O frio incomodava suas pernas e instintivamente Daisuke levou a mão aos pés, buscando o conforto de seu edredom. Foi quando se deu conta de que sequer lembrava de ter ido deitar-se na noite anterior, certamente devido à exaustão.

  - Tenho que me levantar ou vou acabar atrasado para o trabalho. - Daisuke abriu lentamente os olhos, com a visão embaçada. Então, percebeu uma antiga cômoda de pinho ao lado da cama, (que por sinal estava irreconhecivelmente macia) com um porta retratos exibindo a foto de um garoto, uma garota e um homem mais velho, todos ligeiramente familiares para Daisuke...mas de onde diabos ele lembrava daqueles rostos? Onde ele estava?
  
   Após um esforço que exigiu bastante de sua mente, o garoto  se lembrou do acontecido. Uma moça de belo e longo cabelo ruivo, pele branca e sensível, acompanhada de um idiota que zombava do emprego de Daisuke e um homem mais velho, (do tipo de poucas palavras) havia recitado algumas estranhas frases e de repente tudo se apagou, em um sono reconfortante.

    O rangir da pesada porta abrindo assustou Daisuke, que se levantou rapidamente, em um movimento de reação automática, o que lhe fez ficar alguns segundos atordoado. Em seguida estendeu a mão, à procura do canivete que sempre deixava embaixo da cama. Se lembrou então que não estava em casa e sentiu sua barriga doer de medo.

   - Até que enfim acordou bela adormecida, levante logo, tem uma pessoa te esperando lá embaixo.

   Daisuke reconheceria aquele rosto em qualquer lugar. O rosto jovem de barba falha, imatura, o olhar de superior, um penteado estranho e aquela capa branca que cobria todo o corpo do rapaz. O garoto na porta era o mesmo que caçoou Daisuke no dia anterior. 

   - Desgraçado. Para onde me trouxe? O que vocês querem comigo? - Daisuke apanhou o porta retrato de cima da cômoda e atirou no rapaz à sua frente.

   Com um leve movimento, Tiago desviou do porta retrato e esboçou um sorriso de deboche. Foi quando sentiu o impacto. Ao arremessar o porta retrato, Daisuke havia disparado na direção de Tiago e agora o atingia com um soco, colocando naquele ataque toda a raiva que Tiago o fez passar no dia anterior.

   Daisuke sentiu um imenso prazer tomar conta de seu corpo ao ver o jovem marrento voar para o outro lado do corredor, atingindo uma porta de pinho que provavelmente daria para outro quarto. O garoto não conseguiu impedir que um grande sorriso tomasse conta de seu rosto. Sorriso este que foi completamente desfeito ao ver a porta do quarto ao lado abrir e um vulto sair.
 
   - Meu Deus Tiago! Você não consegue ficar um minuto sem fazer barulho? - o vulto praguejou claramente irritado.

    Daisuke agora o via claramente. Era o homem que acompanhara Tiago no dia anterior.

    - Em nome dos quatro guardiões peço perdão pelo incômodo. Se desejar, posso punir este insolente que lhe incomodou enquanto o senhor repousava. - Mateus sugeriu, jogando seu olhar afiado para Tiago.

    - Até parece que você consegue.- Tiago riu enquanto falava e viu o arco de luz de Mateus iluminar sua face. - E-eu estava brincando Mat...abaixa isso aí cara!

    Ao ver materializar um arco de luz na mão do homem grisalho, Daisuke respirou fundo assustado, tentando se convencer que era provavelmente um equipamento de alta tecnologia, ou, quem sabe um truque de ilusionismo.

   - Não é nenhum truque. - Mateus afirmou e atirou uma flecha, que percorreu todo o corredor, como um raio, atingindo a clareira acesa no fim do corredor, que brilhou queimando um fogo dourado. - Está convencido agora?

     Daisuke correu de volta para o quarto, desesperado com o que havia contemplado. Se lembrou então da fria brisa que o incomodara enquanto dormia. Se havia frio, mesmo com a clareira acesa, só poderia significar uma coisa. Janela. Bateu a porta com uma força considerável, arrastou a cama e a cômoda no rumo da porta, fazendo uma barricada. Em seguida, avistou a janela pela qual entrara a brisa fria. Salvo de um sequestro pelo incômodo do frio, que ironia. Então, sem perder tempo observando a altura considerável da mansão, o jovem disparou em direção à janela, fechou os olhos, sentiu seu coração palpitar e quase sair pela boca, se atirou.

S4VIOR - Os Guerreiros Do GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora