DE REPENTE NÓS

Capítulo 16

Peço que leiam ouvindo a música. Esse, sem dúvidas, é o capítulo que eu mais amei escrever até agora. Lá embaixo conversaremos mais. 

Boa leitura! 

Desde muito cedo aos domingos eu frequentava a Igreja com meus pais, e cresci rodeada de crenças, aquelas do tipo que tudo acontece no momento certo, de que Deus nunca dá um fardo maior do que podemos carregar, e a maior de todas: TUDO ACONTECE por um motivo.

Ao crescer, eu fui deixando de frequentar a Igreja, e depois isso se tornou apenas uma memória muito distante. Cheguei a certos momentos dizer que não acreditava em Deus, mas quando o calo apertava, era pra Ele que eu recorria, e implorava para que Ele me perdoasse por tudo o que eu havia dito. Sou humana e erro, eu sei disso. E quanto as minhas crenças, deixe-as de lado. Eu achava que tudo tinha que acontecer do meu jeito e quando eu queria a típica menina mimada, mas aos poucos coloquei meus pés no chão e entendi que tudo era o tempo, ou até mesmo o destino. Nós fazemos escolhas, e o que acontece é resultado do que escolhemos, mas uma crença eu levo comigo pra sempre e levarei até a morte, é a de que nada acontece por acaso. Se aconteceu, ela estava fadada a acontecer.

Quanto eu tinha dez anos, achei um filhote de passarinho caído na entrada da minha casa. Eu havia acabado de chegar da escola e quando fui passar na porta, eu o vi. Ele piava fracamente, quando o peguei, notei que sua asa havia sido quebrada e chorei. Chorei porque eu conseguia imaginar como era a dor do pobre passarinho, alguns minutos se passaram e ele deu uma ultima e rasa respirada e morreu em minhas mãos. Entrei em casa chorando e minha mãe veio logo ao meu socorro achando que tinha acontecido alguma coisa, e quando eu lhe contei o que tinha acontecido, ela apenas sorriu e me abraçou e com a sua voz doce me disse que essas coisas acontecem, é a lei da vida, mas pra isso acontecer, o Moço lá de cima, precisa permitir. Ela falou uma coisa, e eu nunca mais esqueci.

"Minha pequena grande menina, não fique triste pela morte do passarinho. Ele com certeza já cumpriu a sua missão aqui na Terra e Papai do Céu o quis de volta. Ele irá se recuperar, e irá voltar como um outro serzinho e novamente cumprirá sua missão. A vida é assim meu amor, são os ciclos. Olhe pra cima e apenas agradeça a Deus por ter criado esse belo passarinho e por você ter o encontrado, ele teve seu ultimo suspiro sabendo que alguém se preocupava com ele. Lembre-se sempre minha filha, as coisas só acontecem porque Ele lá em cima permite."

Depois de me beijar amorosamente, fomos até o quintal e criamos uma pequena sepultura pro passarinho, e desde então nunca mais esqueci aquela cena e as lindas palavras da minha mãe.

Houve um tempo também em que comecei a culpar Deus por ele ter me feito passar o que eu passei, e ter me escolhido para ser a mulher que nunca poderia ter filho e novamente as palavras de minha mãe me vieram a cabeça, e mais uma vez eu pedi perdão pelo que eu tinha pensado. Se ele me escolheu pra ser assim, é porque uma coisa muito grande e boa ele tinha pra mim e eu estava certa.

Agora estou aqui sentada contra o chão frio do banheiro, olhando para cinco palitinhos com duas linhas indicando que eu estava grávida. Sim, depois de tanto sofrimento, eu finalmente consegui ser presenteada com a benção que é ter um filho. Lágrimas quentes escorrem pelos meus olhos e eu não consigo acreditar que isso está acontecendo.

Nunca iria imaginar que eu poderia estar grávida. Primeiro que não tive sintomas, apenas senti meus peitos um pouco inchado e a menstruação que atrasou, mas isso sempre foi normal, depois de uns dias ela desceu então eu achei que tudo estaria bem, mas o que me chamou a atenção foi o meu enjôo ao tomar a minha vitamina que tomo toda manhã, foi ali que eu percebi que alguma coisa estava errada, e eu estava certa. Dra. Eliza explicou que era raro, mas acontecia de muitas mulheres não terem sintomas e por esses motivos só descobriam a gravidez quando a barriga já estava crescendo.