Perdido

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Naquele dia chovia

Lágrimas de dor e sal,

Emoções perdidas

E há muito esquecidas.


Os labirintos de ruas

Vazias traziam velhas memórias,

Dolorosas e saudosas

Do bom tempo que passou


Lembraste de tudo?

Eu lembro-me,

Lembro-me do inicio

Do meio e do fim.


Lembro-me do Sol que havia,

Do calor que fez naquele Julho

À beira mar.

Das gargalhadas que ecoavam

Como um profundo bater de coração

Perdido de amar um amigo.

Mas a tempestade acabou por vir

E como sempre aconteceu

As flores sorridentes de outrora secaram-se

Os rios murcharam e o Sol foi-se.

Ficou o frio, a chuva e eu.


Porque partiste?

Porque me deixaste cheio de perguntas,

Dúvidas e interrogações?

Saíste sem nunca me dizer porquê...

E todas as noites,

Sozinho na rua,

Penso porque o fizeste.


Sinto que os deuses conspiraram contra mim.

Que o fado não quer que eu tenha alguém

Para além de eu mesmo.

Destinado ao sofrimento,

À dor e à inquietude de espirito.

Oh deuses como sois maldosos!


Sinto a chuva escorrer-me pelo rosto,

Vermelha e salgada'

Lenta e pesada

Sinto o vento levar-me

Carinhoso e áspero.

Todos me abandonaram menos vocês,

Meus queridos amigos.


Tudo passa e vai

Tal como a corrente de um velho rio plantado

A vida acaba e sai do palco do espetáculo.

Depois da vida vem a morte,

Fria e calma como um leopardo na caça

Dá-nos a mão e leva-nos com ela

Para o outro lado.


Sinto que não fiz nada em vida,

Que foi tudo em vão,

Tudo desperdiçado por um sonho inútil

De ser alguém que não fui,

Algo que não cheguei a ser,

Que nunca poderia ser.

Sinto que me perdi na corrente,

Na maldita corrente que me afogou.


E sozinho choro porque me perdi e os perdi a eles.

-JM

Poemas de Uma Alma PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora