Deitada em minha cama a doce lembrança de minha infância me vem à mente, assim tirando um sorriso do meu rosto. Me sento na cama, faço um coque com meus cabelos tentando arruma-los, puxo minha franja encachando-a atrás de minha orelha, movo minhas pernas a beira da cama ,me levanto e ando tropeçando nas caixas espalhadas pelo chão do meu quarto. Estávamos mudando, meu pai havia recebido uma promoção de sua empresa que melhoraria nossas vidas, porém o cotidiano seria diferente. Procuro minha maleta de pinturas e a pego de cima ao criado mudo. Faço um rascunho de estrada em algumas folhas que restava do caderno a procura de inspiração e,assim que comecei ,meu pai vem até a porta.
— Sofia,seu amigo Taylor veio se despedir. Entre,Taylor, ela está aqui. ─ Taylor era meu melhor amigo, porém o único que me compreendia entre todos os "amigos" que já tive.
—Oi Taylor, sente ai — assim que terminei a frase ele dá um pulo em minha cama ,ficando de frente para mim e observando meu desenho.
— Não acredito que vai me abandonar, como ousas? — ele me dizia com cara de deboche.
— Eu já te expliquei mil vezes,sem falar que ainda vamos nos ver— repliquei enquanto andava pelo quarto tentando encontrar o quadro que havia pintado para ele.
— Vamos nos ver pouco "affs", mas enfim, ainda vai ler meus livros.
Encontro no meu ateliê improvisado o retrato de Taylor que fora pintado a óleo em um tela grande. Eu o retratei na sua paisagem favorita:o outono na mansão de seus avós, mil flores de ipês pelo chão e outras mil enchendo o céu de cores vivas. Taylor tinhas lábios finos, levemente corados, seus cabelos eram negros e seus olhos que mais pareciam esferas incrivelmente cinzas. Sua pele branca com pintinhas amarronzadas e seus cílios grandes me deixaram com dificuldades na hora de retrata-lo. Nada que eu não pudesse resolver. Eu estava orgulhosa de meu trabalho, quase sem coragem de entregar a ele. Eu coloquei muito de mim no quadro, eu lhe impregnei com minha alma, o sujei com meus sentimentos, agora éramos como um só. Todavia, me posiciono com o quadro na frente dele, que me olhava já sabendo do que se travava.
—Toma, para não se esquecer de mim — ele abre o pacote,e me dá um sorriso sincero porém desajeitado.
—Uau Sofia, que lindo!Obrigado,vou sentir saudades de suas pinturas...- ele me dizia ajeitando seu óculos. —Prometo não esquecer de você. Agora chega de drama,antes que eu chore — me sento na cama e ficamos relembrando nossas aventuras.
Eu conhecera Taylor desde os dez anos: eu não conseguia fazer amizades e ele também não. Taylor é escritor e, assim como eu, não tem muitos amigos. Ele sempre foi o menino nerd, com uma franja desajeitada e um óculos. Ele acompanhava meus desenhos, mas não tanto quanto meu pai que sempre me incentivara. No entanto, depois do incidente, ele parece ter trabalhado mais.
Aos meus dez anos surgiu uma face em meus desenhos e conforme os anos foram se passando esta imagem não saía de mim: está em meus sonhos, quando tento estudar, quando eu tento dormir, nos meus pensamentos e principalmente em minhas pinturas. É uma aparência dócil,com olhos claros e os cabelos ondulados e castanhos, o formato de seu rosto era delicado assim como cada detalhe, e sempre penso: será que está face é real? Minha mãe sempre disse que era só fruto da minha imaginação. Bem ,então minha imaginação é persistente já faz seis anos que ela vai se evoluindo em mim. Depois de me despedir de Taylor, finalizo a organização das bagagens, tomo um banho, onde meus pensamentos voam e sempre pousam no mesmo lugar, a doce e singela face da menina que perturbava minha mente. Ao terminar meu banho deito em minha cama e adormeço. Me desperto com uma batida na porta, meu pai me chama e diz para me arrumar que já íamos partir. Eu sentiria falta daquela cidade e da casa, porém tudo seria parte de minhas lembranças naquele dia em diante. No banheiro tomo um banho rápido, visto minha calça jeans ,uma camiseta preta com uma caveira mexicana estampada e calço meu all star surrado. Meu pai já havia levado as bagagens para o caminhão de mudanças, pego minha mochila e vou até o carro, fecho a porta e depósito minha mochila ao lado de meu corpo passando o cinto de segurança. Enquanto o carro ia seguindo a estrada eu olhava para trás, meu corpo partia enquanto meu coração se desprendia de tudo que vivi nessa cidade até hoje. Coloco meus fones e ao som de Troye Sivan adormeço.
YOU ARE READING
O Ateliê De Sofia
RomansaNão importa quanto tempo passe, a lei do retorno não falha, está história é apenas uma história que pode ter existido ou não. Cabe a vós decidir, acreditar, ou não acreditar, toda arte nasce de uma verdade, e toda verdade se encontra na vida, e como...