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Capítulo 29

Quando acordei, minha cabeça doía muito. Eu ainda estava com a roupa da apresentação e o vidro de remédios estava jogado no chão. A porta estava trancada.
Peguei meu celular e vi que já haviam se passado dois dias.
Minha mãe nem se quer tivera o trabalho de arrombar a porta ou algo do tipo para me procurar.
Devia estar com muita raiva.
Mandei uma mensagem para Ágata, mas sabia que ela não iria me responder. Ainda estava bloqueado.
Não sei o que era pior. A Ágata ou minha própria mãe não estarem nem aí pra mim. Fui tomar banho e esfriar a cabeça. Demorei mais ou menos uma hora. Dizem que pessoas solitárias demoram mais no banho. Realmente é verdade. Eu estava me sentindo um lixo. Minha vontade era ficar no quarto para sempre, mas minha barriga estava roncando. Minha mãe deveria chegar daqui a pouco. E eu não estava preparado para isso.
Sentei no sofá e comecei a assistir TV. Minha mãe chegou minutos depois.
- Mãe...
- Eu não sou sua mãe.
- Senhora Criatina, eu queria conversar.
Ela me ignorou e foi para seu quarto. Fui atrás dela.
- Só não lhe boto para fora de casa porquê você é uma criança! Um infeliz que não tem onde cair morto! Sabe o que dói mais? Não é que a vizinhança toda pense que meu filho é uma bichinha, é que você não pensou em nenhum momento em mim. Não pensou no modo como passariam a me olhar depois disso, não pensou em me contar, simplesmente fez e acabou, não importa os outros, não...
- Eu pensei muito na se...
- NÃO ME INTERROMPA. Além de perder meu tempo falando com você ainda sou tratada com mal educação? Por favor né, me deixe em paz!
- Não, eu não deixo! Eu pensei na senhora todos os dias. Mas se eu lhe contasse a senhora ia deixar?
- Francamente, quer mesmo que eu responda?
- Não precisa. Esse é o meu sonho e eu não podia deixar que a senhora o levasse embora.
- E podia levar minha vida embora? Porque está tudo acabado pra mim.
- Eu sinto muito...
- Quem sente mais sou eu. Sinto muita decepção. Agora, saia da minha frente.