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27/03/15.

Aqui eu não fico mais. Odeio ser mandada, odeio essa vidinha cheia de mandamentos. Ou eu mando, ou eu vou embora. Você que escolhe. –Bati pé firme. Eu já estava impaciente sobre aquela discussão patética.
–Gabriela..–Minha mãe me olhou feio e se sentou no sofá. Balançou  a cabeça negativamente e apoiou a mesma sobre suas mãos delicadas.–Eu já não sei mais o que fazer contigo garota. O Hunter é totalmente diferente de você, ele pensa, ele sabe o que faz, e não é querendo lhe diminuir, é querendo te ajudar..–A impedi de continuar.

Eu não ia continuar ali mais nenhum segundo, quer dizer, até a noite, eu ia embora daquele lugar. Eu não quero mais uma família mandando em mim. Quero ser livre. Não quero ter de ser impedida a ir num shopping só porquê pode ter traficantes inimigos me cercando, não quero mais ser impedida de nada, quero fazer e acontecer. Quero viver o impossível. Literalmente.

–Eu fico de boa. Quer saber, eu deixo isso passar, beleza ?–Joguei meus cabelos negros pro lado, revirei meus olhos pretos e suspirei.–Acho que sou capaz.–Assenti e subir as escadas sem dar ouvidos ao que minha mãe falava.

Me tranquei no meu quarto e me pus a arrumar as malas, coloquei todas minhas roupas, sem deixar uma peça, coloquei tudo necessário, eu ia começar uma nova vida, fora deste lugar cheio de regras.

Exatamente às 00hrs da madrugada eu saí, não deixei bilhete nem nada, eu ia me livrar daquela vida sem deixar vestígios, minha vida iria ser outra daqui por diante. Eu ia pegar um ônibus pro outro lado da cidade, e ia dar meu jeito, eu ia conseguir, eu sempre do meu jeito.
Desci o morro frio e sem movimento algum depressa, a única coisa que podia ser escutado era o vento rodopiando pelo local vazio. Quando cheguei ao ponto de ônibus, já estava mais aliviada, os ônibus da madrugada normalmente eram vazios, mas naquela madrugada eu não contei com a sorte, estava meio cheio e eu tinha medo de encontrar um dos inimigos da minha mãe. Me sentei num último banco do ônibus, coloquei minha mala sobre meu colo e pluguei meu fone, tirei meu chip do celular e quebrei, o atirei pela janela para que minha mãe não pudesse me rastreiar. O caminho até o outro lado da cidade não demorou muito, o lado em que eu morava era o menos cobiçado, as coisas eram mais escassas, já o que eu estava prestes a chegar, era luxuoso, só coisas boas ocorria lá, era copabana, era tudo naquele lugar, era o centro do Rio de Janeiro. Ao fazermos uma parada, uma mulher de cabelos ruivos que aparentava ter lá seus 43 anos, se sentou ao meu lado, ela usava um sobre-tudo, que encobria a maior parte do seu corpo.

–Olá menina. Sozinha nessa madrugada ? Vai encontrar seus pais ?–Ela me perguntou com um sorriso no rosto, ela parecia ser bem simpática e por impulso contei que estava fugindo.
–Eu estou fugindo de casa. Meus pais me proibem de tudo, simplesmente de tudo, e eu gosto de ser livre, gosto da liberdade.–Disse me sentindo um livro aberto.
–Oh céus.. Eu te aconselho voltar para casa moça.–Ela me olhou feio.–Quantos anos tens ?
–Tenho 17, na verdade, hoje é meu aniversário. –Disse meio constrangida, por está comemorando meu aniversário desta forma.
–Ah, meus parabéns linda. Pelo visto, seu aniversário virou seu adversário. –Ela sorriu e eu conhecia aquela frase.–Tem idéia de onde vai ficar ? Casa de um namorado, amiga, ou algo do tipo ?–Ela me perguntou preocupada.
–Ah, não, não tenho muitos amigos. Pretendo ir pro outro lado da cidade, copacabana, mas ficarei na rua por enquanto.–Disse preocupada só com o fato de ficar na rua.
–Ah, não, isso não querida.–Ela negou. –Posso te oferecer casa, comida, emprego, e muito mais.–Ela me ofereceu.
–Como assim ?–Perguntei sem entender, esse tipo de coisa não caí do céu.
–É algo complicado sabe .. Como é seu nome mesmo ?
–Gabriela. –Eu senti que podia confiar naquela mulher, ela me passava confiança.
–Me chamo Marcela. Eu também fugi, com essa idade sua mesmo. Eu não aguentava ver minha mãe apanhar dia e noite, noite e dia, era insuportável demais para mim. Por isso fugir, e montei um grupo, de garotas que ia encontrando, só para deixar claro, não forcei nenhuma delas, elas aceitaram e temos regras.–Uma curiosidade se formou na minha cabeça, que tipo de grupo era esse que precisava de arrodeios ?
–Que grupo é ou era este ?–Perguntei já não me aguentando de curiosidade.
–Somos prostitutas Gabriela. Prostitutas profissionais e de luxo.–Quase caio para trás quando descobri e uma vontade enorme de saber como era aquilo se formou em mim, era maior que a vontade de ser livre.
–Eu quero fazer parte. Eu quero experimentar isso.–Disse segura de minha escolha.
–Você tem certeza ? Não é algo que se aceita agora e desiste amanhã.–Eu compreendi e se fosse pra ser livre e dona de mim, eu aceitaria qualquer coisa.
–Claro que aceito.–Disse mais segura ainda.

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