† Asas feridas †

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"Pois, se o fogo alcançar meus ossos, talvez eu mereça a vida eterna;
Minha alma será purificada e poderei sonhar, mesmo que ainda esteja cego.
Calarei as vozes que desnudam minha pele interior, em troca de ver minhas lágrimas ferirem o céu, e me tornarei fantasma de meu próprio ego.
Serei desconhecido de meus próprios irmãos e incógnito de meus ilusórios assédios;
Sentirei dor em minhas paixões e assim verei a vida como se nunca fossemos cúmplices do destino.
Pois, se o vento calar meu coração, talvez eu mereça o amor verdadeiro;
Reescreverei os capítulos de minha traição e me libertarei dos amargos olhares de cinza, ainda que seja o último culpado.
Caminharei só pelas estradas seletas da história e questionarei a lição de cada gota de suor que agride meus pés.
Rasgarei os sonhos que me foram creditados e doarei aos que me amam em segredo;
Perseguirei a vela de minhas falsas esperanças e apagarei sua sofrida chama em meu tímido suspiro.
Pois, se a água velar meus desejos, talvez mereça uma última chance;
Romperei as paredes tóxicas que aprisionam minha santidade e venerarei o fim do mundo, ainda que o frio alimentasse todas as raízes de minha crença iníqua.
Deixarei de lado as fianças de minha fidelidade e libertarei as artes aprisionadas em meu círculo vicioso.
Pois, se a terra purificar minha'lma, talvez eu mereça chorar entre os vivos;
Manterei os sossegos de minha virtude a salvo de meus algozes e me definirei nas desventuras de meus amigos imaginários canonizados.
Entenderei toda a ciência de uma reflexão inacabada e a mecânica de um sentimento não-correspondido.
Intensificarei a sede de vingança por aqueles que aprenderam a assinar meu nome e afogarei minhas mágoas em seus néctares espirituais...
Pois, se agora meu corpo se tornou pão e azeite, talvez eu receba a redenção por todo pecado que temperei em meu sangue sagrado.
Amém..."

Jorge Junior

O Silêncio dos GóticosOnde histórias criam vida. Descubra agora