Fairhope, Pennsylvania.
Lucy Meyer gostava da profissão que escolhera. A diversidade de pensamentos e comportamentos na sala de aula empolgava a professora de 32 anos. Era uma daquelas pessoas que chama o trabalho de "prazer", e desconversa sobre isso nos dias em que as crianças estão impossíveis, porém não se deixa prender a isso.
Fazendo o caminho até a escola na qual lecionava, ela havia visto um de seus alunos do quinto ano saindo de uma lanchonete de esquina que nunca conseguira decorar o nome. Michael Anderson tinha um muffin em uma mão e, a outra, segurava a de seu pai, Josh. Como mãe ela sentiu um aperto no peito pela situação em que aquela família se encontrava atualmente. Há duas semanas Jocelyn Anderson havia cometido suicídio na cozinha de casa com o marido e o filho na sala ao lado enquanto assistiam TV.
Por toda a cidade todos souberam da estranheza do caso, o velório e enterro foram envoltos por muitos conhecidos e solidários que tentavam apaziguar as dores de pai e filho com o que podiam oferecer, mas também por muitos curiosos que sussurravam baixo e trocavam informações escassas sobre o que sabiam do caso, calando-se quando Josh passava os olhos sobre eles, mas ninguém se preocupava em parar de falar quando era Michael que os fitava. Ele sempre fora uma criança energética e inteligente, tendo facilidade em assuntos que parte dos alunos tinha dificuldade. Porém estivera mais calado e quieto depois do acontecimento trágico.
Despertou de seu breve devaneio quando ouviu o sinal estridente anunciando o fim do intervalo. Olhou em volta, os colegas de profissão falavam empolgados sobre as festividades de fim de ano que estavam as portas. Mary Anne, a colega mais íntima dela ali, aproximou-se com o material de aula em mãos enquanto Lucy ainda tinha metade de seu segundo sanduíche de frango em sua tupperware vermelha.
– Está tudo certo para mais tarde, não é? – Mary sorriu amistosa, esperando pacientemente por uma confirmação enquanto a amiga procurava em sua mente ao que ela se referia.
– Sim. – Lembrou-se do jantar que haviam marcado. Um encontro duplo de casais para descontrair. – Estaremos lá às oito horas, confirmei com a babá hoje pela manhã e ela vai poder ficar com Max.
– Te vejo lá – e logo se apressou em colocar: – acho melhor você terminar isso logo, o Sr. Carter não vai gostar nada se souber que você se atrasou para a aula.
Como se despertasse uma segunda vez, Lucy olhou para seu meio sanduíche e levantou para pegar seu material.
As crianças estavam mais agitadas que o comum e Lucy Meyer acreditava que fosse pelo mesmo motivo que os professores, as festas de fim de ano estavam as portas. Tentando manter a ordem, ela passou uma atividade de complemento para o assunto de matemática da aula passada, logo, apaziguando os ânimos da turma.
Sentada por trás de sua mesa e de frente para a turma, a mulher prendia o cabelo ruivo em um coque impecável devido aos anos de prática, em seguida, dispondo-se a começar a corrigir alguns trabalhos do inicio da semana e tirar algumas dúvidas dos alunos.
Perdida entre questões e o esforço para compreender algumas caligrafias, Lucy só se deu conta do que estava acontecendo no fundo da sala quando a aluna mais próxima dela reclamou que não estava conseguindo se concentrar na atividade com tanto barulho. De inicio, a professora achou que fosse um exagero de Rachel Edwards, pois não seria a primeira vez que a garota transformava uma chuva em tempestade, porém prestou atenção ao que ela dizia.
De cenho franzido e pouco a vontade, ela pigarreou alto. Várias cabecinhas se ergueram em atenção, e os dois garotos sentados mais ao fundo se calaram de imediato.
– Levine e Anderson, por favor, mantenham o foco em suas atividades. – Repreendeu tentando não soar ríspida em excesso.
No geral os alunos nunca reclamavam dela como professora, muitos até simpatizavam com sua personalidade materna e atenciosa, porém sempre haviam os que reclamavam da matéria que ela normalmente lecionava: matemática.
Chamar a atenção de dois de seus melhores alunos não lhe agradava, mas era necessário para que todos soubessem que não havia entre eles nenhuma distinção.
Quando toda a turma voltou para a atividade, ela pôde perceber os olhos escuros de Michael Anderson fitando-a com o rosto vermelho e os lábios em uma linha reta. Conhecia aquela expressão mal humorada de quem estava chateado. Para descarrego de consciência ela resolveu não retribuir o olhar e se passar por despercebida.
Foi então que sentiu. De inicio não parecia nada muito preocupante, vez ou outra sentia um pouco de dor de cabeça por conta do estresse diário, mas nada que um comprimido e descanso não resolvessem, ao contrário disso o que sentia agora parecia crescer de uma forma assustadora e a dor que começou em um ponto isolado na cabeça, se espalhou por toda ela. A visão ficou turva e ao tentar focalizar as letras dos trabalhos sobre a mesa viu a pequena mancha vermelho que horrorizada presumiu ser sangue. Seu sangue. Passou a mão rapidamente no nariz constatando que o sangue vinha dali.
Lucy se levantou apressada, assustando os alunos quando a cadeira foi empurrada para trás com violência. Viu o medo e a surpresa de todos estampados nos olhos de Rachel que a encarava de boca aberta.
– Não se preocupem, é apenas... – A dor lhe cortava o pensamento e a visão antes turva parecia gerar pontos vermelhos para qualquer direção que olhasse. – E-eu já volto – e sem esperar resposta disparou porta a fora.
Correu pelo corredor vazio, tentando encontrar apoio nas paredes. Seu cérebro parecia estar trabalhando a mil por hora, achava que sua cabeça fosse explodir a qualquer minuto. No meio de todo o torpor, o resto de consciência lhe indicava o banheiro mais próximo como melhor lugar para ir.
Quando passou pela porta do banheiro, ela não conseguiu distinguir se era masculino ou feminino, mas parecia vazio, ao menos, sob a névoa que envolvia sua cabeça. Parou de frente a uma das pias que ficavam logo abaixo do grande espelho que tomava toda a parede esquerda. O pavor tomou conta e seu coração pareceu se contrair assustado com a imagem que o espelho refletia: havia uma Lucy descabelada e sangue escorria por seu nariz, ouvidos e olhos. As bochechas eram lavadas pelo líquido vermelho.
Lucy ligou a torneira, esfregando as mãos molhadas de maneira desesperada, tentando estancar o sangramento. As mãos tremiam, as pernas falhavam, o coração batia apressado e mais sangue escorria, porém o que arrancou um grito esganiçado da professora de matemática do quinto ano foi a presença negra que se materializou logo atrás dela.
Não sabia de onde aquilo havia vindo, era como se sua própria sombra antes inofensiva a fitasse sem olhos existentes. E mais impossível ainda foi quando a mão da sombra erguida conseguiu tocá-la como se fosse física, então o pior veio.
Ela não teve forças pra resistir, seus nervos estavam em frangalhos e sua mente ainda nublada. A sombra a segurou pelos cabelos e empurrou sua cabeça com violência contra o espelho. Uma, duas, três vezes, até rachar. Aparentemente não satisfeita, a sombra manteve o aperto em seus cabelos e a lançou com o rosto direto contra a pia de mármore negro.
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SCARY MONSTERS. (AU! Ziam Mayne)
FanfictionOs Agentes Liam Payne e Zayn Malik do FBI, a pedido de uma amiga, investigam o caso de um garotinho que está no centro de várias mortes misteriosas na Pennsylvania envolvendo criaturas que desafiam a lógica.