THREE.

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       Quando eu tinha por volta dos seis anos, eu acordava todos os dias de manhã, bem cedo, antes que todos se levantassem de suas camas e ia para sala ver televisão. Eu colocava em uns canais de beleza, sempre passava um concurso de miss e isso era tudo que eu queria ser, quando criança. Fazia todos os gestos, as emoções delas, acenava contra a televisão e às vezes conseguia fazer meus olhos lacrimejarem, só pra parecer real, e eu sonhei com isso até as treze anos de idade, mas acabei vendo que isso não era pra mim e que minha realidade era totalmente diferente de um concurso de beleza.
Acabei adormecendo na sala, a casa era grande demais pra mim, eu pensei que seria bom me mudar pra um pequeno apartamento no centro da cidade, seria bem mais econômico pra mim e eu podia adotar um gato. Mesmo sendo alérgica, ficar espirrando parecendo uma foca fazendo fezes, eu amava os gatos. Levantei cedo, subi a escada e caminhei até o meu quarto, ao adentrar no cômodo, dei alguns passos até meu guarda roupa, peguei uma calça jeans, camisa branca e jaqueta jeans. Iria ao dentista, nossa, eu morria de medo de ir no dentista desde do dia que ela me disse que se eu comece muito doce, eu ficaria sem dente, foi tipo uma tortura mental pra mim.
Após tomar uma ducha gelada e demorada, desci a escada um pouco pensativa sobre o que eu iria fazer com o casa, caminhei até a cozinha e peguei uma maçã, olhei pela janela pra ver se meu amigo, Max, já havia levantado, e pela janela fechada e o silêncio de uma certa forma perturbador, notei que ele ainda estava dormindo.

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Quando eu cheguei no hospital, senti aquele cheiro de naftalina com queijo, sei lá como era, mas era o famoso cheiro insuportável de hospital, crianças choravam ao sair da sala de pediatria e umas gritavam pra não entrar. Me sentei entre duas idosas, a da minha esquerda dormia segurando sua dentadura, a da direita parecia um pouco mais moderna, estava lendo a nova revista seventeen e no seu iPod, sobre sua bolsa de crochê tocava 'Roar - Katy Perry', talvez essa seja eu no futuro, uma senhora de idade que curte Katy Perry e revista sobre os famosos.
Retirei um livro de minha bolsa, se chamava 'As Cinco pessoas que você encontra no Céu', a capa estava toda danificada por estar no porão da minha casa e de vez em quando lá embaixo alagava, então as coisas não duravam como meu pai esperava que durava. Foquei nas pequenas letras do livro, lendo com toda minha atenção, quando senti alguém cutucar meu ombro, bufei e revirei meus olhos, subi meu olhar e olhei pra cima, era Max.

— Não está me seguindo, está? — perguntei curiosa.

— Não, por que estaria? — ele sentou-se ao meu lado, já que a senhora da dentadura foi chamada à sala.

— Não sei, nunca te vi por aqui.

Fechei o livro, marcando a página para não parecer uma retardada mais tarde. Levei meu olhar ao dele, seus olhos azuis, pareciam o oceano, algo encantador, assim como seu sorriso.

— Bom, sou o novo dentista daqui. — ele apontou para seu crachá com sua foto de identificação, seus lábios se curvaram em um alegre sorriso.

— Ah, é? Só falta você ser o meu dentista, aí com certeza você não está me perseguindo. — esbocei um sorriso tímido, levei minha destra até a nuca, cravando meus dedos ali.

— Se você for Kate Howard, 23 anos.. Você é sim minha paciente!

Max me deu um leve empurrão com seu ombro.

— Nossa, agora eu acho que tenho minhas respostas. Está me perseguindo.

Franzi meu nariz dando uma risadinha, minhas bochechas se coraram de timidez. Max balançou a cabeça negativamente, com seu inferior entre os dentes.

— Não estou te perseguindo, Kate. É o destino. — ele me encarou por alguns segundos mais, levantou-se estendendo a mão pra mim. — Está um pouco atrasada, vem, vamos ver esses dentes.

Olhei para sua mão, seu palmar esticados, segurei e me levantei, me virei e segui até à sala com ele.

Destino gosta de brincar com as pessoas ou de mostrar pra gente o que é o certo... Talvez o errado, eu na verdade não sei o que o destino gosta de fazer, fiquei pensando durante a consulta sobre o que a vida têm reservado pra mim. Ao terminar, ficamos conversando um pouco mais e acabei ganhando uma balinha de morango, sem açúcar claro.

— Nos vemos na próxima consulta, ou se quiser podemos tomar um café ou ir em bar. — perguntou ele fazendo as últimas anotações.

— Vamos deixar o bar para amanhã, agora tenho algumas coisas pra fazer em casa, obrigado, Max.

Me levantei da cadeira e segui até à porta, ao passar por trás dele, dei uma leve cutucada em seu ombro, retribuindo a de mais cedo.

Caminhei até a saída do hospital ligeiramente, para evitar de ouvir mais gritos e choro de crianças. Atravessei a rua olhando para os lados, me sentei no banco da bicicleta e pedalei até rua principal para pegar um atalho até a rua de minha casa.

— O que você eu estou fazendo, meu Deus. — falei pra mim mesma, balancei a cabeça e continuei a pedalar.

Eu conseguia acreditar em um final feliz pra mim, mesmo passando por algumas barras no passado.
Parei com a bicicleta em frente de casa, apoiei o pedal no meio fio e dei uma pequena corridinha até a varanda. Adentrei em casa e joguei a bolsa na poltrona no canto da parede, retirei o sapato e deixei ali mesmo próximo da porta, prendi meu cabelo em um coque mal feito e andei até o som sobre a estante.

— Vamos ver o que temos aqui..

Disse pra mim mesma ao pegar uma pilha de CD's.

Era estranho por ninguém hoje em dia usava CD's, ou é em pendrive ou no celular, com fone de ouvido, mas eu sou daquelas pessoas antigas, gosto de possui o físico e o vinil, às vezes é melhor. Achei um cd sem nome algum, levei ao aparelho e apertei o play, começou a tocar 'Mickey', aumentei um pouco e comecei a cantar alto, remexer o quadril e balançar as mãos no alto, de forma exagerada.

— Oh Mickey, you're so fine, you're só fine blow in my mind, hey mickey, hey, hey..

Lily adentrou em minha casa e começou a gritar ao me ver dançando aquele hit clássico, ao ouvir seu grito me virei e fiz o mesmo, levei a mão esquerda até a boca tampando.

— Que merda você está fazendo aqui, Lily? — perguntei em um tom abafado.

— O quê? — ela se aproximou um pouco mais.

Retirei a mão de minha boca e suspirei. — O que você está fazendo aqui?

— Vim trazer umas coisas pra gente comer, mas que merda você estava fazendo com essa música? — ela perguntou, caminhou até o aparelho e desligou-o.

— Eu me empolguei, gosto dessa música, foi tipo por impulso.

Me sentei no sofá e deitei a cabeça no braço do mesmo.

— Gente, nem a minha mãe sabe se essa música existe ainda, tomara que seus vizinhos tenham fumado bastante para não ter gravado isso. — ela riu.

Eu espero que a Lily saiba, que eu tenho o vídeo dela dançando 'Girls just want to have Fun'. Eu só não postei, porquê sou muito amiga e a amo muito, mais me renderia muitas curtidas na página do facebook. Me levantei do sofá e abri a janela; avistando Max e Ted, brigarem dentro de casa, meus lábios se curvaram em um sorriso bobo.

— Como se usa o fogão? — perguntou Lily, gritando da cozinha.

Virei meu rosto, colocando meu queixo sobre o ombro e olhei para entrada da cozinha.

— Tenta fazer algo sozinha, acho que se usar a cabeça não vai explodir ela. — balancei a cabeça.

Acredito que eu possa conviver com a felicidade mesmo que seja difícil encontrar a minha, acho que em breve ela estará comigo e eu sei que isso pode demorar, mas a era confiante chega pra todas que acreditam e confiam em si mesmo, não é?

Antes de Irmos Onde histórias criam vida. Descubra agora