Prólogo

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A escuridão varria a pobre aldeia litorânea de Ashai. Seus miseráveis moradores estavam escondidos em suas decrépitas choupanas.
Um vento frio soprava vindo do mar. Capaz de congelar as mais corajosas almas.
As ondas arrebentaram sobre as rochas da baía. Os frágeis barcos usados pela cidade para pesca, batiam violentamente nos cais em que estavam amarrados.
Era uma noite sem lua. E o terror rondava os moradores da vila.
Não havia conversas nas moradias dos aldeões. Há um tempo mesmo possuindo pouco recursos as pessoas cantavam ao anoitecer em suas moradias. Mas isso agora faz parte do passado. O que as pessoas tem é medo.O silêncio reina. Até os animais estavam quietos naquela noite. Nenhum mugido, nenhuma canto se ouvia.
Um trovão retumbou no negro céu. Mas a chuva não veio.
Uma esfarrapada rede de pesca tremeluzia ao sabor do agourento vendo marítimo.

O ar da região sempre foi carregado pelo sal do grande mar. E gora traz algo mais. Um odor de morte que varre as vias da aldeia.

Em suas casas as pessoas se escondem com medo, e tentam acalmar a fome presente em suas barrigas mordiscando os últimos pedaços de raízes que crescem ao redor da aldeia.

As crianças sofrem com a mordida da fome. De tanto chorar agora seus olhos estão cansados. A dor atroz provocada pela fome intensa varre de suas vidas qualquer esperança.

Há um mês que os aldeões estão assim. Presos em suas choupanas. O temor abate suas almas.

Em uma habitação quase fora da fronteira da aldeia, um jovem aperta sua barriga com força. Seus pais e seu irmão menor estão como ele. Apertando suas barrigas. Deformando seus rostos pela dor. A fome é um inimigo implacável.

O rapaz olha pra sua família e o desespero toma conta de seu coração. Um mês atrás tudo era diferente, ele pescava com seu pai e trazia o sustento para sua família. Porém, tudo ficou para trás.

- Eu não aguento isso! - Vociferou o rapaz.

- Shhhhh, quer nos matar - Sussurrou seu pai.

O jovem olhou furioso para o pai.

- Vou buscar algo para nossa família pai. E você não tem como me impedir.

O rapaz levantou-se com tanta rapidez que o pai não teve o que fazer, ele estava fraco e não teria como impedir que seu filho saísse para a morte.

Ele fechou a porta atrás de si, e seu corpo foi fulminado pelo frio impetuoso. Suas pernas vacilaram, Ele começou a tremer como uma árvore assolada por uma tempestade.

- Não posso desistir. Melhor morrer tentando do que covardemente e com fome.

Ele recobrou o ânimo.

O jovem correu em direção a saída da aldeia.

-Só na floresta poderei encontrar algo.

Seu coração martelava.

Ele conseguiu deixar as cabanas para trás. E entrou na floresta.

Estava escuro. A escuridão era quase palpável. Seus pés descalços pisaram nas úmidas folhas do chão. O farfalhar que o contato do seu pé com o chão lhe perecia como a queda de uma grande árvore pelo barulho que a ação provocava.

Quando ele passou por uma grande árvore ele ouviu um som.

Vuuuuum.

Depois do som veio uma forte luz amarela e vozes. Vozes humanas.





Caverna do Dragão a Sombra de AshaiWhere stories live. Discover now