Fome

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Densas trevas cobriam a aldeia. Os guerreiros e o jovem Ruah caminhavam lentamente até a cabana do ashainiano. Ele instruiu o grupo a percorrer as vielas de Ashai fazendo silêncio absoluto. Pois segundo ele, perigos maiores que os insetos Ettercaps que eles haviam acabado de derrotar.

Ruah deu duas leves batidas na precária construção que servia como porta de sua cabana e ouviu sussurros vindo de dentro. Seus pais temiam pelo pior e ficaram amedrontados em um canto da cabana. Ruah então empurrou a porta, seus pais gemeram.

- Sou eu – Sussurrou o jovem. Mas mesmo assim não obteve resposta. Não havia luz dentro da cabana, assim como nas demais da aldeia.

- Pai, mãe . Sou eu, não tenham medo. Eu trouxe pessoas que podem nos ajudar.

- Ruah? É você mesmo? Pensei que nós nunca mais fôssemos lhe ver.

A família de Ruah então levantou-se e chegou perto do jovem. Atrás deles mesmo no escuro puderam ver que Ruah não estava sozinho.

- Presto, nos dê um pouco de luz aqui – Hank falou.

- Não, Não – A mãe de Ruah disse temerosa – Eles podem vir até nossa cabana.

Hank estendeu a mãe para Presto o mago sinalizado que ele deveria esperar um pouco.

- Mãe, não tenha medo. A senhora deveria ter visto. Eles derrotaram os insetos da floresta.

- Do que você está falando? – A mãe de Ruah rebateu. Muitos fortes guerreiros já lutaram com aquelas feras e foram todos mortos. O que um grupo de jovens poderia fazer?

- Eu estou falando a verdade mãe – Ruah disse, os jovens guerreiros ficaram observando a conversa que se seguia.

A mãe de Ruah olhou incrédula para o grupo.

- Pelo grade mar! Há até uma criança no meio deles – A mulher falou .

Bobby sentiu-se envergonhado e ia falar algo, mas foi interrompido por sua irmã Sheila.

- Por favor, você pode nos dar um pouco de luz ?- Ruah perguntou a presto.

- Cla-claro – Gaguejou o mago – Eu posso sim – Após pronunciar algumas palavras mágicas e algumas rimas ele tirou um lampião do seu chapéu mágico.

A moradia foi iluminada.

Os jovens guerreiros viram o medo que os pais e o irmão de Ruah tinham em seus olhos. Seus corpos como o do jovem eram magros.

Todos se sentaram ao redor da estranha fonte de luz. O irmão de Ruah intrigado não tirava os olhos do incomum objeto. Antes ele só tinha visto luz sendo emitida durante a noite por meio de fogueiras e archotes.

Bobby sentou-se ao nado do menino, e Uni, o unicórnio o seguiu dando um relincho, que fez com que a mãe de Ruah estremecesse. A pobre mulher temia que a qualquer momento monstro adentrassem em sua cabana.

Hank percebeu a situação das pessoas e pediu que seus amigos dividissem o alimento que eles possuíam.

- Hank ! – Eric o cavaleiro falou , preocupado com a fim das provisões do grupo – Hank apenas o fitou com ar severo. O cavaleiro nada mais disse.

Cada um dos jovens pegou dos seus alforjes um pouco do alimento que levavam e ofereceram a família de Ruah. As famintas pessoas olharam os alimentos que lhes estavam sendo oferecidos, suas barrigas rangeram. Mesmo sendo pouco, fazia tempo que eles não viam coisas tão saborosas: Um pão velho com recheio de frutas cristalizadas; nacos de carne salgada; algumas poucas frutas secas; quatro batatas; duas cenouras.

A família de Ruah olhou incrédula para a comida que estava diante de si, o jovem já havia sido alimentado pelos novos amigos durante o caminho, mas sabia que sua família estava faminta.

- Sirvam-se – Hank disse – Os três familiares de Ruah se entreolharam e depois vorazmente atacaram a comida.

O grupo de guerreiros ficou triste, pois viram o qual grave era a situação que o povo da aldeia estava passando. Eles estavam vendo o sofrimento de penas uma família, entretanto sabiam que muitos outros enfrentaram igual provação.

Enquanto os três se alimentavam, o grupo ficou em silêncio e já quase não sentiam a alegria por terem derrotados os insetos há poucas horas.

A luz bruxuleante do lampião era observada por todos, mesmo Ruah fitava a fonte luminosa. Ele sentia um misto de esperança e temor. Esperança, pois ele sentia que de alguma forma as pessoas que estavam em sua cabana poderiam ajudar o seu povo. Temor, pois muitos já haviam sucumbido na luta pela aldeia de Ashai. Um grupo de insetos já havia sido derrotado. Entretanto muitos outros insetos ainda povoavam a floresta que circundava Ashai. Sem contar as outras criaturas que rondavam a pobre aldeia.

- Ruah – Hank disse – o que aconteceu aqui em Ashai, por que os moradores estão passado por isso? – Muitas perguntas pairavam a mente do líder do grupo.

- Não faz muito tempo que nossa aldeia está assim – O jovem falou tirando os olhos do lampião – Antes nós vivíamos felizes com o que obtínhamos com nossa pesca.

Os familiares de Ruah pararam de comer e observavam o jovem. Temendo que a simples narração do que houve na aldeia fizesse com que o mal entrasse na cabana da família.

- Mas tudo mudou – O jovem continuou. Os guerreiros ouviam a história com sombras cobrindo seus olhos, Ruah via somente os olhos de Hank que estava mais próximo da fonte de luz – Primeiro nossos barcos já não vinham mais com a quantidade de peixe como antes, parecia que os peixes estavam simplesmente fugindo de nossas áreas de pesca. Mesmo passando muitos dias no mar, nós trazíamos poucos peixes.

- Depois – Ruah continuou – Pessoas começaram a sumir durante a noite de nossos barcos, dez pessoas saíam para pescar, mas somente sete voltavam. Até o dia que nossos barcos não mais saíram dos cais. Mas mesmo assim pessoas continuaram a desaparecer. Mesmo em terra, na nossa aldeia ou dentro da floresta, e já não conseguimos mais colher nada, nem pescar. Depois os insetos apareceram.

O jovem contava e ficava mais e mais taciturno.

- Mesmo o clima da aldeia mudou, o sol já não brilhava como antes, um forte frio veio sobre nós assim que a neblina desceu sobre Ashai. E ficamos presos em nossas casas com medo do que nos aguardava lá fora.

- Por que encontramos você lá na floresta então? – Sheila perguntou.

- Pois eu não aguentava mais, era fazer algo ou morrer de fome aqui.

- Nós iremos ajudar vocês – Hank falou – Nós fomos orientados a vir até essa região, então creio que ajudar vocês faz parte da missão que recebemos.

Um fio de esperança novamente brotou sobre Ruah. Até mesmo seus incrédulos pais foram tomados de assalto pelas palavras do jovem de cabelos loiros.

Uni relinchou aprovando o que Hank havia falado, e o grupo todo pôs-se a rir.  Mesmo cercados por sombras.

Caverna do Dragão a Sombra de AshaiWhere stories live. Discover now