REVELAÇÕES ESPANTOSAS DA SRª GIRY, RELATIVAS ÀS SUAS
RELAÇÕES PESSOAIS COM O FANTASMA DA ÓPERAAntes de acompanhar o delegado de polícia Mifroid ao gabinete dos
diretores, o leitor me permitirá discorrer sobre certos acontecimentos
extraordinários que acabavam de se desenrolar no escritório onde o secretário
Rémy e o administrador Mercier tinham em vão tentado penetrar, e onde os Srs.
Richard e Moncharmin se tinham fechado tão hermeticamente com um objetivo
ainda ignorado pelo leitor, mas que é de meu dever histórico - quero dizer, do
meu dever de historiador - não lhe ocultar por mais tempo.
Tive a ocasião de dizer quanto o humor dos senhores diretores se havia
modificado desagradavelmente de algum tempo para cá, e dei a entender que essa
transformação não devia ter tido como causa única a queda do lustre nas
condições já sabidas.
Informemos pois ao leitor - em que pese o desejo que teriam os
diretores de que tal acontecimento ficasse escondido para sempre - que o
fantasma tinha conseguido receber tranqüilamente os seus primeiros 20 mil
francos! Ah! tinha havido choro e ranger de dentes! A coisa se fizera, entretanto,
com a maior simplicidade do mundo:
Uma manhã, os diretores tinham encontrado um envelope já preparado
sobre a sua escrivaninha. Esse envelope estava assim sobrescrito: Ao senhor F. da
Ó. (confidencial) e vinha acompanhado de um bilhete do próprio F. da Ó.: "E
chegado o momento de executar as cláusulas do caderno de encargos: os
senhores colocarão 20 notas de mil francos neste envelope que fecharão com o
seu próprio lacre e o entregarão à Sra. Giry que fará o necessário".
Os diretores não se fizeram de rogados; sem perder tempo com
perguntas sobre como essas missões diabólicas podiam chegar a um gabinete que
tinham o maior cuidado de trancar à chave, acharam que era uma boa
oportunidade para meterem a mão sobre o misterioso mestre de canto. E depois
de terem contado tudo a Gabriel e a Mercier, sob o cunho do maior segredo,
puseram os 20 mil francos no envelope e o confiaram, sem pedir explicações, à
Sra. Giry, reintegrada em suas funções. A lanterninha não manifestou nenhum
espanto. Nem é preciso dizer quanto ela foi vigiada! Aliás, ela se dirigiu
imediatamente ao camarote do fantasma e colocou o precioso envelope na
plaqueta do apoio de mão. Os dois diretores, assim como Gabriel e Mercier,
ficaram escondidos de tal sorte que por nem um segundo perderam de vista o tal
envelope durante todo o tempo da representação e mesmo depois, porque, como
o envelope não fora tocado, os que o vigiavam não se mexeram tampouco e o
teatro se esvaziou e a Sra. Giry foi-se embora enquanto os diretores, Gabriel e
Mercier permaneceram ali. Finalmente eles se cansaram e abriram o envelope,
depois de verificarem que os lacres não tinham sido violados.
À primeira vista, Richard e Moncharmin acharam que as notas
continuavam ali, mas depois deram-se conta de que não eram as mesmas. As 20
notas verdadeiras tinham sumido e sido substituídas por 20 notas da "Santa
Farsa". Tiveram um acesso de raiva e depois também de pavor!
- É mais impressionante do que com Robert Houdini - exclamou
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O Fantasma Da Ópera - Gaston Leroux
RandomDentro da Ópera de Paris viveu um fantasma - pobre de quem duvidou disso. O fantasma da Ópera habitava o imenso subterrâneo do teatro mais famoso de Paris, e de lá só saía para acalentar suas duas paixões, a música e a jovem cantora Christine Daaé. ...