Sem Medo voltou a Dolisie, acompanhado pelos civis. Os guerrilheiros que tinham vindo em
reforço aceitaram ficar mais uns tempos na Base, para participarem no ataque. Ficou
combinado que as coisas deles seguiriam imediatamente para o interior: cobertor, mochila,
etc. O Comandante estava maravilhado com o entusiasmo desses combatentes. O Chefe do
Depósito queria ficar, mas Sem Medo insistiu com ele para voltar a Dolisie.
No caminho, Sem Medo sentiu alegria por ir reencontrar Ondina. Logo se reteve. Pensou no
Comissário e na sua hostilidade. Isso passa-lhe! Lamentava apenas que tivesse de ficar em
Dolisie e não poder participar na operação. O Comissário seria capaz de a chefiar? Há muito
tempo que se não fazia uma acção tão importante e fora sempre ele, Sem Medo, que as
comandara. João ainda poderia fazer asneiras. Lá estou a pensar que ele é um miúdo! As
metamorfoses são bruscas e nós continuamos a ver os outros na sua antiga pele. Ele forja-se a
couraça dum Comandante, couraça cheia de espinhos agressivos, e eu vejo-o ainda como larva
de borboleta.
Ao chegarem à cidade, Sem Medo encontrou logo o envelope com aviso da Direcção: Mundo
Novo era nomeado provisoriamente responsável de Dolisie; Sem Medo retomava
imediatamente as suas funções de Comandante, dado o perigo iminente de um ataque
colonialista; estava a preparar-se a sua transferência para o Leste. Sem Medo saiu a correr
do bureau,
foi mostrar a mensagem a Ondina.
– Estás tão contente assim?
– Oh, sim, tudo corre à medida dos meus desejos. Posso participar no ataque e, mais tarde,
arranco para a Frente Leste, abrir uma nova Região. Mas não digas a ninguém, isto são
segredos militares.
– Então não me devias ter dito...
– É o meu eterno liberalismo, como diria o Mundo Novo!
– Reencontrar-nos-emos no Leste – disse ela. Sem Medo olhou-a e perturbou-se.
– Não creio. O Leste é grande e vou muito para o interior. Sobre ti, de qualquer modo, ainda
não veio nada. Não, não nos encontraremos.
– Porquê?
Ela fitava-o, num convite mudo. Sem Medo saiu, sem responder, dominando o desejo.
Despachou imediatamente um camarada para a Base, a convocar Mundo Novo. E correu à
cidade, escolhendo os poucos guerrilheiros que restavam, preparando os morteiros e as armas,
comprando conservas para a missão. Não jantou.
Voltou a casa às onze da noite. Quando entrou no seu quarto, Ondina estava deitada na cama, acordada.
– Que fazes aí?
– Esperava-te.
– Vai para o teu quarto.
– Porquê?
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Mayombe
RomanceO Mayombe começa com um comunicado de guerra. Eu escrevi o comunicado e...o comunicado pareceu-me muito frio, coisa para jornalista, e eu continuei o comunicado de guerra para mim, assim nasceu o livro." - Pepetela Escrito no período em que Pepetela...