Capítulo V - A AMOREIRA

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Sem Medo voltou a Dolisie, acompanhado pelos civis. Os guerrilheiros que tinham vindo em

reforço aceitaram ficar mais uns tempos na Base, para participarem no ataque. Ficou

combinado que as coisas deles seguiriam imediatamente para o interior: cobertor, mochila,

etc. O Comandante estava maravilhado com o entusiasmo desses combatentes. O Chefe do

Depósito queria ficar, mas Sem Medo insistiu com ele para voltar a Dolisie.

No caminho, Sem Medo sentiu alegria por ir reencontrar Ondina. Logo se reteve. Pensou no

Comissário e na sua hostilidade. Isso passa-lhe! Lamentava apenas que tivesse de ficar em

Dolisie e não poder participar na operação. O Comissário seria capaz de a chefiar? Há muito

tempo que se não fazia uma acção tão importante e fora sempre ele, Sem Medo, que as

comandara. João ainda poderia fazer asneiras. Lá estou a pensar que ele é um miúdo! As

metamorfoses são bruscas e nós continuamos a ver os outros na sua antiga pele. Ele forja-se a

couraça dum Comandante, couraça cheia de espinhos agressivos, e eu vejo-o ainda como larva

de borboleta.

Ao chegarem à cidade, Sem Medo encontrou logo o envelope com aviso da Direcção: Mundo

Novo era nomeado provisoriamente responsável de Dolisie; Sem Medo retomava

imediatamente as suas funções de Comandante, dado o perigo iminente de um ataque

colonialista; estava a preparar-se a sua transferência para o Leste. Sem Medo saiu a correr

do bureau,

foi mostrar a mensagem a Ondina.

– Estás tão contente assim?

– Oh, sim, tudo corre à medida dos meus desejos. Posso participar no ataque e, mais tarde,

arranco para a Frente Leste, abrir uma nova Região. Mas não digas a ninguém, isto são

segredos militares.

– Então não me devias ter dito...

– É o meu eterno liberalismo, como diria o Mundo Novo!

– Reencontrar-nos-emos no Leste – disse ela. Sem Medo olhou-a e perturbou-se.

– Não creio. O Leste é grande e vou muito para o interior. Sobre ti, de qualquer modo, ainda

não veio nada. Não, não nos encontraremos.

– Porquê?

Ela fitava-o, num convite mudo. Sem Medo saiu, sem responder, dominando o desejo.

Despachou imediatamente um camarada para a Base, a convocar Mundo Novo. E correu à

cidade, escolhendo os poucos guerrilheiros que restavam, preparando os morteiros e as armas,

comprando conservas para a missão. Não jantou.

Voltou a casa às onze da noite. Quando entrou no seu quarto, Ondina estava deitada na cama, acordada.

– Que fazes aí?

– Esperava-te.

– Vai para o teu quarto.

– Porquê?

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