4. Eyes

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Fui pra casa pensando em tudo o que tinha acontecido e em tudo o que eu teria que falar para Lauren no dia seguinte. Como pode a vida mudar tanto em um só dia?
Assim que entrei no meu apartamento, arranquei os sapatos que estavam me matando, fui ao banheiro, tirei minhas roupas e liguei a banheira. Esperei um pouco para que ela enchesse, adicionei os produtos que costumo usar e finalmente depois de um péssimo dia, eu teria um minuto de descanso. Fechei os olhos e foi inevitável. Ela veio na minha mente. Comecei a lembrar do momento em que vi Lauren correr em direção à filha. Lauren estava ali. Diante de mim. Ninguém imagina o quanto eu desejei isso a um tempo atrás. Agora era tarde demais. Eu era casada e ela provavelmente também era. Mas a minha mente nunca iria sossegar enquanto eu não descobrisse porque ela nunca voltou, ou ao menos deu alguma satisfação ou sinal de vida. Quando Lauren foi presa, toda a família dela desapareceu, deviam estar morrendo de vergonha. Não atendiam telefonemas, muito menos visitas. Mudaram-se para uma cidade diferente e não contaram pra ninguém. Fiquei sabendo o motivo da prisão no colégio, apesar de imaginar. Lauren não era usuária de drogas pesadas. Ela se satisfazia com os seus cigarros, mas fazia o transporte para ganhar dinheiro. Sim, eu sabia disso. Mas eu não conseguia me distanciar. Ela era a minha droga. Durante dois anos ela foi a minha droga. E de repente, eu me vi em completa abstinência.
Ouvi barulhos no apartamento e conclui que Robert havia chegado.

- Camila? - Robert perguntou batendo na porta.

- Oi. - respondi e ele abriu uma fresta da porta.

- Nossa. Você faz de propósito? Chego em casa e você toda coberta de espuma desse jeito? - ele falou passando os olhos por mim.

- Na verdade, eu nem sabia que horas você estaria em casa. Minha tentativa era a de relaxar um pouco mesmo. - falei antes que ele fizesse suposições do que aconteceria. Depois do dia que eu tive, o que eu menos queria era sexo.

- Então tá. Vou fazer algo pra comermos. - ele falou fechando a porta do banheiro.

Sai do banho, vesti um dos meus moletons e me deitei no sofá, esperando que Robert acabasse de preparar o jantar. Apesar de eu estar com fome, o sono falou mais alto. Adormeci ali mesmo.

Mais uma manhã, mais uma vez o despertador chato. Levantei com cuidado para que Robert não acordasse e me toquei que ele havia me carregado pra cama depois que eu dormi no sofá. Tomei um banho rápido, me arrumei e peguei um sanduíche que ele já deixava preparado na geladeira e fui para o hospital. Assim que cheguei, a primeira coisa que fiz foi solicitar os resultados dos exames de Mia. Li o nome completo da pequena: Mia Lana Jauregui. Dei um sorrisinho ao imaginar o motivo de Lauren ter escolhido o segundo nome da filha. Isso era a cara dela. Levei os resultados até a sala do Dr. Evans, o ortopedista com quem eu operaria a pequena. Expliquei a ele toda a situação dela e mostrei os exames. Por fim, chegamos ao acordo de que o melhor procedimento a ser feito era a colocação de hastes de metal.
Depois disso, dei a alta de alguns pacientes que eu havia operado e prescrevi algumas medicações que eles deveriam usar em casa. Feito isso, fui para a minha sala estudar sobre o procedimento. Eu não conseguia tirar os olhos do relógio. Eu sabia que a cada segundo que se passava, a hora de falar com Lauren se aproximava. Eu juro que estava tentando agir com a razão, mas o meu coração se apertava só de me imaginar falando com ela depois de todos esses anos. Ainda mais, isso não era algo fácil de falar para qualquer mãe. Muito menos pra ela.
Normani bateu na porta e entrou logo em seguida, desviando meus pensamentos da futura conversa com Lauren.

- Dinah está uma gestante de gêmeos em trabalho de parto que se recusa a fazer uma cesárea, mas mandou eu vir aqui falar com você. - Normani falou sentando na cadeira de frente para minha mesa. - Você consegue fazer isso? Consegue falar com ela? - ela perguntou preocupada.

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