Capitulo 1 #part 2

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Desviei e escapei de suas mãos, deixando-o furioso. Na verdade, não pensei pra onde poderia fugir, desejava adiar apenas um pouco o inevitável.

A caneca meio vazia acertou a parede atrás de mim com um estrondo que fez chover cerveja dentro do quarto. Ele gritou e se lançou em minha direção, mas algo dentro de mim não ia- NÃO PODIA- facilitar aquilo para ele. Saltei e saí de seu alcance. 

Mas não era longe o bastante. Senti um puxão, depois ouvi um som de tecido rasgando quando ele dilacerou minha chemise fina e puída. 

O silencio encheu o quarto, um silencio de surpresa tão denso que ate a respiração arfante dele parou. Senti seus olhos enquadrilharem minhas costas, absorverem as cicatrizes, marcas vermelhar deixada pelo veneno. Olhei para trás e vi que seu rosto ficou pálido como queijo fresco. Os olhos estavam arregalados, quando nossos olhares se cruzaram ele -SOUBE- que tinha sido enganado. Ele gritou uma nota profunda e continua que contia porções iguais de fúria e medo.

Então sua mão bruta acertou meu crânio e me fez cair de joelhos. A dor da esperança perdida era pior que seus punhos e botas. Quando a raiva de Guillo passou ele se abaixou, e me agarrou pelos cabelos.

-Vou achar um padre de verdade desta vez. Ele vai queimar ou afogar você. Talvez os dois. - Ele  me arrastou escada abaixo. Meus joelhos ao bater em cada degrau. Ele continuou a me arrastar pela cozinha, depois me enfiou em uma pequena despensa subterrânea e a trancou.

Ferida e possivelmente quebrada, deitei no chão com o rosto machucado encostado contra a terra fria. Foi impossível conter um sorriso.

Consegui evitar o destino que meu pai planejara para mim. Sem dúvida, era eu quem tinha vencido e, não ele.

O som da tranca se abrindo me despertou. Sentei rapidamente e puxei sobre mim os restos rasgados de minha combinação. Quando a porta abriu, me surpreendi ao ver o padre intinerante, o mesmo homem inexpressivo que abençoara nosso casamento havia apenas algumas horas. Guillo não estava com ele, e qualquer momento que não tivesse meu pai nem Guillo era um momento feliz.

O padre olhou para trás, depois gesticulou para que eu o seguisse. Fiquei de pé e a despensa girou. Me apoiei na parede e esperei que a sensação passasse. O padre gesticulou outra vez, com mais urgência.

-Não temos muito tempo até que ele volte.

Suas palavras acalmaram minha mente como nada conseguiria. Se ele estava agindo sem o conhecimento de Guillo então sem duvida alguma estava me ajudando.

-Estou indo.- Eu me afastei da parede, passei cuidadosamente por cima de uma saca de cebolas e segui o padre pela cozinha. Estava escuro. A unica luz vinha das brasas acumuladas na lareira. Eu devia ter me perguntado como o padre tinha me achado, por que ele estava me ajudando, mas não me importei. Só conseguia  pensar que ele não era Guillo nem meu pai. O resto não interessava.

 Ele me conduziu até a porta  dos fundos e, em um dia cheio de surpresas, tive outra ao reconhecer a velha curandeira de nosso vilarejo parada ali perto. Se não precisasse me concentrar  tanto em botar um pé na frente do outro, teria perguntado a ela o que estava fazendo ali, mas tudo o que consegui por me manter ereta e evitar cair de cara na terra. 

Quando saí para a noite, soltei um suspiro de alívio. Estava bem escuro, e a escuridão sempre foi minha amiga. Uma carroça aguardava nas proximidades. Tocando-me o mínimo possível, o padre itinerante me ajudou a subir na traseira antes de dar a volta no acento do cocheiro e se acomodar. Ele irou-se para trás e olhou para mim, depois desviou o rosto, como se tivesse sido queimado.

Perdao MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora