Capítulo 6

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Depois do meu pesadelo os meus pais e querido irmão encheram-me de perguntas sobre o que tinha acontecido ontem. Desviei-me a todas afirmando que estava com fortes dores de cabeça e que precisava de descansar.

Segunda-feira, outra semana de aulas. Hoje o dia ia ser fantástico, dentro dos possíveis, ia ter a minha primeira aula de dança. Depois do "acidente" tive de abandonar a companhia de ballet pois passei 10 meses sem sair de casa, mas ao fim de 6 decidi sair, mas só para ir para a casa dos pais da Made e me trancar no sótão a ouvir a música dela e dançar.

Mas hoje ia ser diferente. Depois do meu irmão me ter deixado à entrada apertei o meu casaco. Definitivamente hoje ia nevar, as nuvens estavam carregadas demais e o vento estava quase insuportável, não para mim, mas as pessoas reclamavam por isso...

Dirigi-me ao pavilhão desportivo e subi as escadas que me iam levar a uma sala do tamanho de um campo de futebol. Foi em direção aos balneários e troquei de roupa. Ia ter aula com a Mrs. Collins. Ela era uma pessoa difícil e extremamente rigorosa. Estava sempre com o seu cabelo loiro apanhado num coque e roupas simples e largas para dar as aulas.

Na hora de almoço sentei-me numa mesa perto da janela com o Taylor e os colegas dele. O meu olhar ficou preso com o do Austin. Usava, como sempre, os seus jeans pretos, t-shirt preta e botas pretas. Ele estava na fila para se servir mesmo à minha frente, ele olhou para mim com um ar preocupado? Quando olhou para a minha mão. Não tenho a certeza não o conheço assim tão bem, eu simplesmente não o conheço. Tentei perguntar ao Taylor mas ele disse que não tem nenhuma aula com ele, tal como eu.

Desviei a minha atenção do ser de olhos verdes e olhei para a janela atrás de mim. Uma grande camada de branco cobria todo o chão e relva do jardim. Estava a nevar. Fiquei uns minutos a apreciar a lentidão como os pequenos flocos brancos caíam. Mas, não tardou até que essa lentidão de pequenos flocos se transformasse numa onda gigante deles.

Os funcionários pediram para nos afastarmos da janela. Um grande barulho ecoou pela cantina e todas as luzes da divisão apagaram-se. A partir daí fomos divididos em grupos. Eu e mais 10 alunos estávamos com a Mrs. Collins, a professora de ballet, no laboratório de ciências por precaução devido à grande tempestade que se formou lá fora.

Eu estava mesmo aflita para ir à casa de banho. Depois de muito implorar, Mrs.Collins, deu-me permissão para sair com a promessa que tinha de voltar em 5 minutos senão ficava com uma punição de 5 semanas. Assenti e corri pelo corredor fora em direção às casas de banho.

2:35 segundos estava a ir em direção ao laboratório

De repente uma porta abre-se e uma mão puxa-me, pelo braço esquerdo, para dentro da divisão. Eu estava irritada, 2 vezes em 48 horas.

Levantei a cabeça para encontrar o Austin com os seus olhos verdes claros agora escuros a transbordar raiva.

"Tu estás doida!" E prontos voltamos com a conversa da doida. "Porque raio é que andas a passear pelos corredores de vidro com uma tempestade de neve lá fora?" ele gritou.

"Fui à casa-de-banho! E tu não tens nada haver com isso!" Estava irritada, zangada. Este rapaz tirava-me do sério em segundos.

"Casa de banho, outra vez a merda da casa de banho! Eu começo a achar que tu queres morrer! Não te valeu o susto de há 10 meses. Tiveste sorte, muita sorte de teres a oportunidade de estares a respirar! Tenho a certeza que a outra rapariga não pode dizer o mesmo, não é?!" ele puxou o seu cabelo para trás num gesto de nervosismo.

Não sei qual é o problema dele. Primeiro chama-me doida, depois salva-me de ser violada e agora grita comigo e acusa-me de querer morrer.

"O quê? Estás-te a passar, não me conheces de lado nenhum para me julgar, não sabes nada sobre mim!" cuspi com raiva e firmeza na minha voz.

"Sei sim! Sei que te deves achar a melhor de todas por seres conhecida por todo o estado de Seattle por teres sobrevivido a um dos piores e inexplicáveis incêndios de sempre!"

"Isso é mentira. Eu nunca pedi nada disto! Tu achas que é fácil passar na rua e ver as pessoas olharem de lado para ti? Tu achas que eu me exibo por ter sobrevivido à porcaria daquele incêndio?! Pois fica a saber que não! Não ouve uma noite em que eu não adormecesse a pensar o porquê de eu ter escapado e ela não! Não ouve um estúpido momento em que eu não quisesse trocar de lugar com ela! Não ouve um segundo em que eu não desejasse ter partido com ela em vez de passar o resto dos meus dias a culpar-me por tudo o que aconteceu!" Tentei segurar as lágrimas, mas foi em vão "Tu não sabes o que é carregar a dor de não saber como é que tudo isto aconteceu, num minuto ela estava comigo e no outro, simplesmente desapareceu sem pelo menos me deixar despedir"

Escondi a minha cara com as mãos e caí no chau ao lembrar-me da última frase que ela proferiu "Não importa onde ou quando, eu vou estar sempre contigo." Ela prometeu-me, mas não cumpriu. Ela abandonou-me e eu deixei-a ir.

Senti uns braços quentes à minha volta a segurarem-me para me levantarem. Os seus olhos esmeralda adquiriram uma tonalidade mais clara e calma. Quando finalmente estava de pé, com o Austin ainda a segurar-me, levei as costas das mãos aos olhos numa tentativa de limpar as lágrimas embaraçada pelas vezes que ele já me viu chorar. Ele retirou-me as mãos da cara e disse:

"Tens razão, eu não sei quem é que tu és, mas sei que não és o que pensei que fosses."

Dito isto ele passou os seus dedos grossos pelo meu rosto e limpou as lágrimas secas escorridas á minutos atrás.

Longos segundos passaram até ele abrir a boca para falar.

"Desculpa se te chamei doida, duas vezes" o Austin passou a mão para trás do pescoço e ri involuntariamente ao ver como estava embaraçado devido ao seu pedido de desculpas.

"Não faz mal. E obrigada por me salvares daquele homem no sábado e ainda me teres levado a casa" disse também um pouco embaraçada.

O rapaz ia abrir a boca quando a porta de entrada se abriu de rompante, era Mrs. Collins. Ela estava com uma cara de zangada e vermelha como um tomate.

"Menina Holmes, eu disse-lhe para voltar no máximo em 5 minutos! E já passaram 15!" Antes que eu pudesse responder a mulher focou a sua atenção no Austin "E o menino Clark está aqui a fazer o quê? Sabe que mais, não me diga! Mas quando quiserem namorar vão ter muito tempo na detenção das próximas 5 semanas!" Senti as minhas bochechas arderem ao ouvir o que a mulher disse.

"Desculpe?" o Austin perguntou incrédulo.

"Menina Holmes e Menino Clark, acompanhem-me até ao laboratório ou ficarão com 10 semanas de punição." Deixei um suspiro sair e fiz o que a mulher disse como Austin atrás de mim irritado.

Pluviophile |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora