Capítulo 15

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Nunca pensei muito na morte. Como ia morrer, como é que as pessoas se iriam sentir, se haveria um céu ou um inferno à nossa espera... Na verdade, acho que nunca me importei com isso. Mas, durante os 12 meses que se passaram foi uma coisa que deveras me fez raciocinar bastante e cheguei a uma conclusão.

É verdade, acho que a todos a morte assusta, é assustador pensar que um dia, quando for o fim, olhar para trás, para o passado e ver que não aproveitei, que não vivi, que passei demasiado tempo a pensar nas coisas em vez de simplesmente as fazer, que passei demasiado tempo agarrada ao passado que não vi o presente. Sim porque, o ontem é história e o amanhã é um mistério, mas o hoje... O hoje é um presente, daí o nome Presente e deve ser aproveitado antes que se torne história.

Quando eu morrer, porque eventualmente isso vai acontecer, a mim e toda a gente. Bem não interessa, quando eu morrer, eu quero saber qual foi o meu propósito, qual foi o propósito da minha existência? O propósito da minha existência humana é um assunto complicado de compreender, porém eu acredito que quando descobrir vou saber que descobri. Apesar disso, não quero passar a minha vida inteira a pensar nesse enigma, eu quero viver e ser eu mesma, uma coisa que a maioria tem medo.

As pessoas têm medo de ser elas mesmas, têm medo da sua própria realidade, principalmente sobre os seus sentimentos... Os sentimentos são de difícil entendimento. Por exemplo, as pessoas pensam que a dor é maldosa e perigosa. E eis a pergunta: se isso é verdade, como é que podem eles lidar com o amor se estão com medo de o sentir? As pessoas tentam esconder a dor, mas elas estão erradas. A dor é algo para carregar, como um rádio. Sentes a tua força na experiência da dor. Está tudo na maneira como lidas com ela. Isso é o que importa. A dor é um sentimento. Os teus sentimentos são parte de ti. Da tua própria realidade. Se sentires vergonha deles, e os esconderes estás a deixar a sociedade destruir a tua realidade. Deves estar de pé e os enfrentares para teu próprio bem, sentires a dor e evoluir.

Então e o final feliz? Lamento dizer, mas não existem finais felizes, o único final possível, para todos, é a morte. Os finais são a parte triste em qualquer história, então tudo o que peço é um ótimo enredo e o melhor início de sempre.

Por alguma razão, eu percebi tudo isto agora, depois de enfrentar a dor, conclui que ela vai estar sempre comigo. E não é algo que me preocupe, porque sentir dor é uma maneira de saberes que estás vivo, uma coisa que eu não acreditava depois daquela noite.

Sim, eu estou a sorrir. E não sei o motivo, talvez o simples facto de me sentir viva outra vez. Não sei, simplesmente quero sentir isto todos os dias. Mesmo sem saber o que raio é que estou a sentir.

Os meus fantásticos pensamentos foram interrompidos com o habitual irritante som do despertador. Mais um dia, mais um dia do resto das nossas vidas. Mais um dia normal de escola, com adolescentes doidos a correr pelos corredores das salas. Mentira! Hoje era o dia mais assustador do ano. O dia em que os diabos saiam à rua! O dia que eu mais temi durante os últimos 12 meses. Hoje fazia 1 ano! Um ano desde a morte da Madison! E por incrível que pareça não estou tão mal como pensei. Sim, sinto imensa falta dela. Sim, preferia que ela estivesse aqui. Mas, as noites que passei acordada, os pesadelos, as conversas com o psicólogo, os desabafos com o Austin e o apoio de todos fizeram-me perceber que eu estou viva! E eu não posso ficar presa a uma pessoa que já não está entre nós. Mas isso não significa que eu não deva chorar, que eu não deva gritar e esmorrar uma parede se assim o entender, que eu não deva sentir a sua falta e desejar que ela estivesse aqui, apenas tenho que me agarrar as memórias em vez de continuar agarrada, não literalmente, ao seu cadáver. Hoje ia ser um dia de mudança! De um recomeço.

Levantei-me, dirigi-me ao chuveiro e tomei o meu banho relaxado. A seguir, vesti-me: uns jeans pretos, casaco preto, botas rasas pretas e camisola de lã branca, foram as minhas escolhas. Maquilhagem zero, é dia das bruxas posso mostrar o verdadeiro eu para o mundo sem medos talvez as pessoas ainda fiquem a pensar que as pequenas borbulhas que tenho na testa sejam pintas vermelhas a marcador, e que o cinzento debaixo dos meus olhos seja uma tentativa de parecer um zumbi.

Pluviophile |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora