Dollhouse

II

Por Connor

Tereza arrumava minha gravata pela decima terceira vez naquela noite, elas sempre acham que podem conseguir o coração de meu pai se me agradarem... Iludidas, Martinez não se importa comigo... Sou apenas um boneco de sua coleção

Para muitos somos a família perfeita, meu pai um homem de negócios que ama sua mulher incondicionalmente e sempre esta presente na vida dos filhos. Minha mãe, uma bela mulher e rainha do lar, sempre doce e cuidadosa com todos... A mulher perfeita. A caçula, uma verdadeira princesa, a mais popular da escola que tem toda a educação do mundo... E por fim o filho mais velho, um garoto educado que esta pronto para assumir o negocio da família, aluno exemplar, capitão do time de futebol, o que ira se casar com a garota perfeita

Pena que eles não sabem da verdade, meu pai é um mafioso que espanca a mulher constantemente e não se importa de não levar as prostitutas para dentro da própria casa. Minha mãe, uma mulher quebrada e entregue ao dilaceramento. A caçula, viciada em drogas e sexo... Uma verdadeira vadia... E eu, bom... Eu sou tudo que meu pai não queria que fosse... Eu sou apenas eu.

Hoje é mais uma daquelas noites em que tenho que passar por um ritual de "formação" como Megie diz, ela fala que sou o boneco perfeito de meu pai... Ela nem mesmo sabe que so fasso isso por elas... Por Meg e por mamãe

Afasto Tereza com um aceno de mão e caminho para fora do grande quarto de paredes azuis que durmo, ja são quase meia noite então decido passar no quarto da mulher que mais amo em toda minha vida, enquanto caminho pelo corredor passo pelo quarto de Megie, não preciso entrar para saber o que ela esta fazendo, posso ouvir seus gemidos do corredor. Continuo a caminhar ate o ultimo quarto do corredor, aquele onde minha mãe dorme todas as noites; Dou duas leves batidas na porta e entro sem esperar sua resposta, sei que a essa hora ela ja deve estar drogada o suficiente para  quase não conseguir abrir os olhos

Seu corpo esbelto esta deitado na grande cama de casal, ela sempre preferi dormir do lado esquerdo perto do abajur, ao me aproximar vejo que o lado esquerdo de seu rosto esta inchado e seus lábios cortados, o fino cobertor provavelmente esconde hematomas... Me ajoelho ao seu lado e seguro sua fina e delicada mão, ate hoje me pergunto como uma mulher como ela foi se apaixonar por um monstro como meu pai, Martinez nunca se importou em agredir mamãe em nossa frente... Porem mamãe sempre fez questão de nos dizer que estava tudo bem... Que ela estava bem... Hoje eu sei que ela nunca esteve bem...

—Oh, meu anjo... Ainda não foi com seu pai?

Sua doce voz soava fraca e frágil, porem aquele sorriso doce surgiu em seus lábios como sempre surgia, mamãe era a única pessoa com quem eu e Meg nos importamos de verdade

—Perdão por lhe acordar, mamãe. Volte a descansar... Ja estou de saída

Sussurrei me levantando, ela se acomodou com dificuldade na cama e me puxou para perto de si, me inclinei em sua direção e deixei um beijo em sua testa, o cheiro dela sempre continuou o mesmo, seu perfume de flores e ervas era incomparável...

—Não faça nada que não queira, meu anjo... Escute seu coração antes de tudo

Mamãe agora segurava meu rosto, os dedos longos e delicados da mulher que tinha tudo para ser a maior pianista de todas tremiam pela fraqueza

—Eu amo você, mamãe

Sussurrei lhe beijando novamente a testa

—Eu também amo você, meu pequenino

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Quando cheguei na sala, Martinez estava sentado em sua poltrona com Tereza em seu colo. Ao contrario do que a televisão diz da aparecia de homens mafiosos -barrigudos, carecas e baixinhos- meu pai tem 1,82 de altura, um porte físico intimidador, os cabelos castanhos perfeitamente arrumado, o terno bem passado e o que chama a atenção depois de toda sua fortuna... O rosto de o que Tereza diz ser um "galã"

—Pensei que não viria

Fala Martinez enxotando Tereza de suas pernas, a mulher de cabelos ruivos se levanta fazendo um bico que deveria ser manhoso mas se parece mais com um ornitorrinco... Martinez a dispensa com uma palmada na bunda e a vadia da vez sai saltitante

—Perdão pelo atraso, pai... Estava com Mamãe

Minhas palavras saem no automático, neste momento ja estamos caminhando para fora da mansão na área nobre da cidade, o carro preto ja nos espera do lado de fora

—Não sei pra que perder tempo com essa mulher... Você ainda tem muito a aprender, Connor

Tenho vontade de socar a cara dele enquanto grito "AQUELA MULHER É A MINHA MÃE!" Porem em vez disso fico calado, sei que se responder ele provavelmente a mataria para fazer de mim "um homem mais forte"

E assim entramos os dois no carro, pai e filho... Ou eu e o monstro.

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Quando chegamos na boate, entramos na frente de todos pois somos os Franta, e os Franta tem o poder de tudo como meu pai diz, sei o que tenho que fazer hoje e por deus... Eu so farei isso para continuar vivo

Logo meu pai esta rodeado de homens como ele, assassinos e estupradores sem alma

—Connor! Venha se sentar meu filho! Aproveite e escolha a carne que ira degustar!

O homem que chamo de pai grita por sobre a musica, somos guiados ate uma mesa grande e redonda onde o que acredito ser um poste de ferro se encontra no meio, para todos os lados que olho vejo homens passando as mãos em corpos quase nus, que vão se balançando de um lado ao outro, a meninos e meninas, todos sobre mesas ou em gaiolas fazendo poses obscenas ou se insinuando para os homens que lhe dão mais dinheiro

—Connor! Escolha logo sua vadia e a chame para uma dança especial!

Pai fala enquanto me observa do outro lado da mesa, ele parece fazer questão de se vangloriar pelo sucessor de seu império para os outros ali, grita e paga rodadas de bebidas a qualquer um que se aproxime da mesa... Estou enojado de tudo isso, mas não viu contra a vontade dele, ao passar os olhos pelo mar de pessoas que agora ocupam as mesas meu olhar para sobre um par de olhos azuis como o céu, o garoto tem feições delicadas e a pele alva... Pronto, ja tenho minha escolha

—Gostei muito daquele ali

Falo tirando os olhos do quadril do rapaz que se vai de um lado ao outro, uma rizada explode na mesa, um dos amigos de meu pai recolhe dinheiro de outros inclusive meu pai que me olha com orgulho, estou me sentindo sujo com esse seu olhar sobre mim

—Porra, Connor! Você me deve mil dólares

Ele grita botando um maço de dinheiro na mão do homem que apenas ri e me olha

—Todos querem o Anjo...

Mais uma vez me viro a procura da minha companhia da noite, e a primeira coisa que olho são seus olhos azuis como um céu que nunca pude ver... Um céu sem nuvens

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Para os próximos capítulos...

"Por deus... Eu estava perdido... Perdido naqueles verdes olhos. Porem por momento algum ele me olhou... Sua atenção não estava em mim... Eu farei qualquer coisa para ser dele mais uma vez... Qualquer coisa"