Um Amor Por Contrato

-Grammy Latino terá performance especial que ainda será revelada – Leio essa noticia em um site de famosos da Colômbia. Sei que é sobre mim, mas eles não sabem.

Durante as próximas 2 semanas farei ensaios intensos para me apresentar no Grammy Latino. Vou me dedicar o máximo possível, como em todas as outras apresentações que faço. Mas nessa eu sinto que algo vai me atrapalhar. Na verdade, alguém vai me atrapalhar: Maluma. E pode ser mais dificil ainda pelo fato de que eu vou interpretar a musica "Take My Hand, Precious Lord".

Não sei porque e como que isso aconteceu mas ele mexe muito comigo. Pior ainda: Existe fortes motivos para ele me fazer balançar.

Será dificil mas tentarei me segurar.

***

Cheguei cedo ao local de apresentação. Não tinha quase ninguém no teatro, apenas alguns câmeras, uns assistentes e outras pessoas.

- Hey, Rafa – ah, me chamo Rafael – chegou cedo, ainda vamos começar a ensaiar daqui a 1 hora – disse um dos diretores da premiação.

- Sim, cheguei mesmo – dei uma leve risada – gosto de conhecer o lugar de minha apresentação antes.

- Tudo bem. Ainda estamos resolvendo algumas coisas então você pode ficar por aqui pelo cenário. Sinta-se a vontade. Se quiser pode cantar algo por enquanto.

- Okay. Obrigado – esse rapaz, que não sei o nome, me deixou ali e foi para os fundos do palco. Estou no segundo corredor entre dois grandes blocos de poltronas do teatro. Logo na frente de minha visão tem um palco bastante largo e cumprido com um telão extenso que parece ser em HD ao fundo. Muito bonito, da pra abusar bastante das luzes, cores ... Mas farei algo simples, apenas eu, minha voz, meu eu e uma luz pra me localizar nesse espaço enorme.

Para subir nesse palco tem uma escada da mesma largura do palco enorme. Decido me sentar, praticamente, no meio dessa escada. Eu estava apenas com fone e celular então decidi deitar meu corpo no palco e minha pernas em cima da escada. Coloco meu fone e dou play em meu celular que começa a tocar Froot da Marina and The Diamonds.

Sinto que está apenas eu e minhas músicas.

Passa algumas musicas e decido me levantar e sentar no começo da escada e vejo que chegou alguns artistas que estão sentados nas poltronas da frente. Entre eles está o Maluma. Olha, vai ser difícil, viu.

- Hey, Rafa. Chegou que horas? – Pergunta Thalía.

- Umas 7h30, Thalía – falo muito bem espanhol e inglês sendo brasileiro. E percebi que são 7h50 ainda.

De repente o diretor que me recebeu chega pelo palco, atrás de mim – Rafa, gostaria de ensaiar logo? Já que é algo simples?

Digo que sim e me posiciono no meio do palco. Me entregam um microfone todo preto, focam uma luz de cima pra baixo em mim e apagam todas as outras luzes do ambiente.

É agora, a musica se inicia – Precious Lord ... Take My Hand.

Não sei como mas consigo saber o que está havendo comigo durante minha cantoria. Estou sentindo algo muito forte dentro de mim. Está muito estranho. Não estou sentindo capacidade em cantar essa musica, mas continuo. Algo está mexendo comigo, dentro de mim. Ainda não abri os olhos e sinto eles encherem de lágrimas. O que está acontecendo? Chego ao ápice da musica – TAKE MY HAND, PRECIOUS LORD – minha voz está trêmula e choro, mas me recomponho e a finalizo.

Ainda estou chorando. Me sinto ofegante. Lembro de muitas coisas. Lembro de algo que ele me fez.

Sei que não vou controlar e vou acabar chorando mais ainda. Jogo o microfone no chão, desço as escadas e vou correndo para os fundos do palco. O que é isso que está acontecendo comigo? É ele quem ta fazendo isso? Encontro uma porta a minha esquerda e entro com tudo e fecho a porta. Percebo que é um simples banheiro, apenas com uma pia de frente pra porta, um sanitário ao lado e um box ao lado do sanitário e o lugar todo branco. Me sinto seguro ali, me apoio na pia e sinto que estou desaguando em lágrimas e pedaços de mim desmontando. Tudo por causa dele? Não sei!

- Rafa! – escuto ao fundo – está tudo bem? É o Maluma!

É ele – sim, estou bem.

- Abra aqui, posso falar contigo?

- Já estou saindo.

- Abra, Rafa. Por favor –insiste ele.

- Pronto, já estou indo – abro a porta enxugando as lágrimas mas ele me empurra de volta para o banheiro, entra e tranca a porta. Depois me preciosa na parede a minha direita e a esquerda dela.

- Eu sei o que aconteceu naquele dia, Rafael!

- Não sei do que você está falando.

- Você sabe sim. E se aquilo está te machucando imagina a mim, motivo daquilo.

- Mas pelas suas palavras daquele dia você só está arrependido amargamente daquele outro dia.

- Não, eu estou arrependido por não ter continuado com isso – de surpresa ele me força um beijo mas eu empurro ele pra parar.

- Você ta me achando com cara de besta? Eu sei que você está tentando uma aproximação a mim pra tentar aumentar mais sua fama. Eu te conheço, Maluma. Você sempre foi interesseiro, egoísta ... – ele me interrompe.

- CALA Á BOCA! – ele grita – eu não sou mais aquele Juan que você conhece.

- Eu até acreditaria se eu não tivesse escutado de sua boca que você tinha se arrependido tanto de ter ficado comigo pra conseguir um contrato – alguém bate na porta.

- Rafa? – parece ser aquele diretor.

- Oi, já estou indo.

- Tudo bem?

- Tudo sim, estou indo.

- Okay, estamos esperando.

- Licença, preciso fazer meu trabalho digno, ao contrario do seu – abro a porta mas antes de sair ele segura meu braço.

- A gente ainda não terminou isso.

- Eu já terminei. Na verdade eu nem queria ter começado. Bom dia.