Capítulo 9

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Estavámos deitados no sofá,eu em cima de Haymitch com as mãos em seu peito,enquanto a sua permanecia espalmada em minhas costas,o único som presente é o de nossas respirações aceleradas.

Eu tinha esquecido o quão prazerosa era a sensação de sentir sua pele quente e macia,seus músculos rígidos sobre mim.

- Você ainda vai ficar com Aguida? - pergunto hesitante,quebrando o silêncio.

Ele demora um pouco para responder.

- Você sabe que é de você que eu gosto.Mas terei que ser cauteloso e conversar delicadamente com ela.Não quero mais engana-la e muito menos machuca-lá.Quando eu voltar,terei que leva-lá ao médico pois ela não estava se sentindo muito bem quando saí de casa e então depois poderemos conversar e resolver isso de uma vez por todas.

Assinto.

Voltamos a ficar em silêncio,até que um toque de celular ecoa pelo cômodo. Percebo que é o de Haymitch e o mesmo se levanta para atender.

- É Aguida. - ele diz franzindo a testa e olhando a tela do celular.

Ele vai até a varanda para atender a ligação,enquanto isso levanto e aproveito para preparar um café.
Passado um tempo consideravelmente longo em que não só deu tempo de fazer o café,como de arrumar a bagunça que estava a sala de estar,ele volta cambaleando da varanda.

Quando ele chega mais perto de mim,percebo o quanto está pálido.
Me levanto e caminho até ele,que parou no meio da sala,aparentemente incapaz de continuar em movimento.

- O que houve,Haymitch? - pergunto preocupada.

- Aguida. - ele responde simplesmente e a minha preocupação aumenta.

- O que tem ela? Ela ainda está mal?

Ele volta a caminhar em direção ao sofá e eu o acompanho,sentando ao seu lado.

- Haymitch,o que houve? Por favor,responda.

Ele me encara,abaixa os olhos para as próprias mãos e depois volta a me encarar novamente.

- Aguida foi ao médico.Ela continuava se sentindo mal.Pediu para Victor leva-lá. - ele fechou os olhos e respirou fundo, suas mãos tremiam muito,voltou a abrir os olhos e continuou a falar,desviando o olhar - O médico a examinou e...

- Haymitch,conte logo. - o encorajei,pois já estava ficando impaciente.

- Aguida está grávida,Effie.

Eu o encarei e ele retribuiu o olhar.Percebi que ele ficava mais pálido a cada minuto.

Eu não sabia o que fazer ou falar,então apenas desviei o olhar e deixei que a realidade me atingisse como um soco.

Se Aguida estava grávida,Haymitch não poderia deixa-lá. Teria que ficar com ela e ajuda-lá a cuidar do bebê.
Quaisquer esperanças que eu tinha de ficarmos juntos se foram ao ouvirmos essa notícia.É incrível como uma hora estamos bem,acreditando que há possibilidades de ser feliz ao lado de quem amamos,mas um minuto depois vemos que tudo não passou de uma ilusão.

Senti que Haymitch me observava,esperando alguma reação minha.

- Effie...eu...

Eu o interrompi antes que ele pudesse concluir sua frase.

- Haymitch não fala nada.Eu já sei que você não pode...simplesmente não pode deixá-la.E eu não te culpo. Afinal,ela vai ter um filho seu.Um filho.

Não pude impedir que uma lágrima deslizasse pelo meu rosto.

- Como é que eu posso ter um filho com alguém que eu não amo?Isso é loucura - ele balançou a cabeça como se estivesse tentando clarear seus pensamentos - Mas você tem razão, não posso abandona-la agora. - ele completou abaixando a cabeça.

Ignorando o nó na garganta,tentei sorrir.

- Meus parabéns,Haymitch. Você será um pai maravilhoso. - falei,forçando tanto um sorriso que chegava a doer.

Já conseguia visualizar ele no futuro.Futuro no qual eu não fazia parte.

Outra lágrima desceu pelo meu rosto e ele se apressou em limpa-lá.

- Eu queria poder mudar o passado - ele disse enquanto acariciava minha bochecha,um gesto tão carinhoso,que me fez fechar os olhos - E espantar aquele medo.E ter te procurado.Estaríamos em uma situação tão diferente,com certeza você seria a mãe do meu filho.

Mas agora é tarde demais,pensei,Aguida cumprirá esse papel muito bem.

Mais lágrimas deslizaram pelo meu rosto,sem que eu pudesse evitar.

Até que ele tirou a mão do meu rosto e eu abri os olhos sentindo falta do contato dos seus dedos com minha pele.

Haymitch se levantou e percebi que estava preparado para partir.Para ir ao encontro de sua mulher e de seu futuro filho.

Me levantei também e o observei se aproximar mais de mim e me beijar delicadamente.

Aproveitei o máximo que pude daquele beijo, pois sabia que era o último.Eu com certeza o veria mais vezes,mas não o beijaria mais.

Ele separou seus lábios dos meus mais continuou próximo.

- Eu te amo. - ele disse tão sério,tão sincero que quase o pedi para ficar. Mas eu não podia fazer isso.

Ele tinha uma família para cuidar.E eu não permitiria que ele os abandonasse.

- Eu também te amo,Haymitch - eu disse aquilo pela primeira vez em voz alta e para ele,e percebi o quanto era forte o significado daquelas palavras.

Ele se afastou sem desgrudar os olhos dos meus,neles haviam a mesma dor que eu estava sentindo.Mas ele superaria. Dali alguns meses seria pai. Teria motivos para sorrir, aprenderia a amar Aguida.

Mas e eu?O que eu tinha?

Quando chegou na porta,percebi que ele hesitou ao pegar a maçaneta para abri-lá,era como se travasse uma batalha interna.

Então ele finalmente abriu a porta e se virou para mim,deu um sorriso triste e foi embora fechando a porta atrás de si.

Kiss me - HayffieOnde histórias criam vida. Descubra agora