Agora

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Foi um pipoco.

Tulk jogou-se no chão por reflexo, percebendo envergonhado que fora o único. Os outros três apenas sacaram os trabucos e agacharam-se.

Quando o jovem viu a mercenária que quebrou seu nariz, um embolo surgiu em seu estômago. Ela soltava uma grande quantidade de fumaça para trás e voava por cima do rio. Parecia um balão após receber um furo.

— Peguem aquela mulher, seus inúteis — Bencrof gritou.

Deus do céu!

Tulk olhava incrédulo para o procurador, o homem havia sobrevivido a um tiro no peito. Seus companheiros foram correndo atrás da mercenária. Ele decidiu que a cota de surra na semana estava esgotada, foi ajudar o chefe.

A bala ficou presa na roupa do procurador, Tulk viu quando ele a retirou e guardou no bolso da calça. Quero uma roupa dessas. Ele ajudou o chefe a se levantar e ambos foram buscar refúgio na igreja. Dentro do templo, escutou o xerife dar ordens para que todos se afastassem das portas e janelas. Bill Lester tentava acalmar aqueles fidalgos.

— Xerife, por deus, como essa mulher ainda está à solta? — Bencrof vociferou.

— Julguei que as ações dela contra seus homens foram motivadas por legítima defesa.

— Ela estava tentando me assassinar, idiota!

Um tiro de fuzil!

Tulk percebeu que mais uma vez havia escapado por pouco. Aquele serviço estava muito perigoso. Concluiu que merecia um aumento no salário. O jovem percebeu que Bencrof havia parado de discutir com o xerife e sentado em um canto. O procurador revirava a roupa, estava inquieto.

— O senhor está com coceira? Se quiser, posso pedir um chá para uma tia minha, vai resolver seu problema em um instante.

— Vira pra lá, capanga, não tá vendo que estou ocupado? — o procurador sussurrou.

— Sei que o senhor paga em dia e tal, mas eu tenho nome. Bom, vou deixar pra lá dessa vez. Mas, falando em dinheiro, esse trabalho está muito arriscado. Meu nariz quebrou e eu não recebi nada, o senhor deveria pensar mais na gente, talvez um aumento melhorasse a situação.

— Sai, caralho!

As pessoas próximas voltaram os olhos para os dois. Tulk sentiu a bochecha ruborizar.

— Calma, não precisa gritar — disse, afastando-se.

Antes que se distanciasse, uma imagem surgiu sobre Bencrof. Tulk piscou algumas vezes e arregalou os olhos. Não podia acreditar no que via, o procurador desaparecera, dando lugar a um demônio vermelho, chifrudo e com uma face igual a um filhote de cruz credo.

— Ai, meu deus do céu — Tulk chiou.

A imagem sumiu da mesma forma que veio. Bencrof olhava ao redor, parecia não entender o que estava acontecendo. As pessoas estavam boquiabertas, algumas saíram correndo da igreja, mas Tulk decidiu que aglutinar perto do padre era mais seguro.

Foi nesse momento que um pivete gordo entrou no templo. Apontava o dedo para o procurador. Sua roupa era de gente importante, um terno de cauda e um lenço no pescoço. No entanto, ele estava imundo.

— Não há como escapar, bruxo — ele gritou. — A bala que usamos era feita de prata Vuskuri. Foi abençoada pelo próprio arcebispo Doniqueli Van Durkeim. O projétil possuía propriedades meromânticas, que fazem com que um bruxo seja revelado assim que é atingido. Xerife, por favor, prenda esse inimigo de deus.

O Bruxo da Capitania São VicenzzeOnde histórias criam vida. Descubra agora