Ano de 2597 a.C.
Egito. Planície de Gizé.
I
Naquela época, o desejo de se obter a vida de além-túmulo ou "descanso eterno" era tão excessivo que, antes mesmo de ascender ao poder, Quéops já planejava a construção da grande pirâmide. Realização que, obviamente, depois da sua morte, viria a ser o seu "túmulo nobre". Os arquitetos, então, após o início do seu reinado, aguardaram apenas o envio de determinada mão-de-obra, para transformarem aquele projeto audacioso e imponente em realidade. Mão-de-obra que seria mandada pelas aldeias, através da corveia, para a região da obra ou para as pedreiras, enquanto que os depósitos reais forneceriam tudo aquilo que fosse necessário, como ferramentas, roupas e outros utilitários.
Agora, precisariam encontrar o local certo para a construção da subestrutura do túmulo. Por sorte, uma ampliatiforme elevação de pedra que se erguia acima do nível do deserto encaixou-se perfeitamente nos planos do faraó. Logo, o lugar fora demarcado pelos agrimensores, de modo que a base da pirâmide formasse um quadrado perfeito. Após concluída essa fase, alguns arquitetos coordenaram turmas para talhar terraços, parecidos com degraus, nos lados irregulares do monte. Ali, seria a fundação para todos os blocos de pedra serem assentados. A parte mais complicada desse trabalho viria quando precisassem nivelar a obra, pois tinham que evitar que toda a sua estrutura colossal saísse torta. Então, em torno da sua base, abriram uma vasta rede de valas cheias d'água e, em seguida, com o nível da água como guia, puderam nivelar enfim determinado local, de cinco hectares de extensão. Um trabalho tão perfeito que, recentemente, por uso de instrumentos modernos, peritos apuraram que o canto sudeste da grande pirâmide era somente um centímetro mais alto que o canto noroeste.
Assim, com tudo devidamente preparado, os blocos, com mais de duas toneladas cada, seriam retirados da Cadeia Arábica por um árduo trabalho nas pedreiras. Tão árduo quanto transportarem determinados blocos de pedra por tamanha distância. E olha que eles ainda lidavam com a existência dos blocos de granito, os quais aumentavam o sacrifício. Esses blocos, além de serem infinitamente mais pesados, ainda traziam outro grave problema, pois, por serem muito duros, suas talhadeiras e serras de cobre sequer eram capazes de fazerem neles mossas. Fator que os obrigou a raciocinar de uma forma brilhante e astuta, mesmo que primitiva. Com o uso de martelos especiais de dolomita, eles criavam medianas fendas nas paredes laterais da pedreira e adaptavam cunhas de madeira nessas fendas. As encharcavam d'água e a madeira se dilatava, desprendendo esses pedaços de pedra que, depois de serem retirados, por intermédio de rampas, e arrastados, junto com os blocos de pedra calcária, sobre roliços troncos de madeira, eram transformados a martelo em blocos toscos.
Os blocos, em geral, ainda seriam pintados com diversas marcas da pedreira, como: "esse lado para cima", ou com o informar dos seus destinos, representados por inscrições do tipo: "turma vigorosa" ou "turma resistente". Isso, fora algumas mensagens, deixadas pelos mais engraçadinhos, como: "o nosso rei deve estar bêbado". Somente após e devidamente supervisionados pela guarda do faraó, que os blocos seriam acomodados em um tipo de trenó e levados, por intermédio de um trilho formado pelos mesmos troncos, até a margem do rio Nilo. Pouco mais de uma dezena de operários puxavam os blocos por resistentes cordas, enquanto outros os empurravam, vindo de trás. O esforço era tão monstruoso que eles ainda necessitavam de mais dois trabalhadores para auxiliar na locomoção, usando uma espécie de alavanca, feita por uma longa vara de madeira.
Seus destinos, após navegarem mansamente sobre barcas pelas águas do Nilo, era a Planície de Gizé, situada a quilômetros e quilômetros de distância. Mas, apesar dessa distância absurda, o calor conseguia ser o maior dos obstáculos, já que o límpido céu egípcio era dominado por um sol abrasador, queimando impetuosamente sobre todos. Sorte deles, seus trajes se basearem em leves tangas, pois só assim conseguiam suportar as horas mais quentes do dia, que poderiam ultrapassar os cinquenta graus centígrados. Rampas ainda eram construídas juntas, como se fizessem parte da estrutura externa da grande pirâmide, uma seguindo a outra e começando em cada canto seu, sendo três delas de subida e a última de descida, com todas se encerrando no atual topo da obra. Elas serviam para que fosse humanamente possível erguerem os seus blocos, rumo ao topo. Então, quando alcançassem finalmente o vértice, de cento e quarenta e sete metros, os pedreiros cortariam os blocos daquelas rampas e assim moldariam os lados lisos e inclinados da pirâmide do faraó.

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Relíquia
General FictionPoderia mesmo existir submerso em pleno Deserto Egípcio, um templo gigantesco, repleto de mistérios e segredos, de riquezas e armadilhas mortais... o recanto de uma joia diabólica, capaz de aterrorizar a mente humana e revelar até a origem de nossa...