Egito. Cairo, 09:15.
Houve uma longa curva no ar ante o azul do céu egípcio, como se aquele avião contornasse o planeta, e pronto... após Jennifer se maravilhar com uma vista privilegiada e fascinante das pirâmides e da Esfinge de Gizé, o 747 foi enfim nivelado para que pudesse pousar com suavidade. A manhã estava quente e reluzente... e o toque ao solo das suas rodas, confirmado pelo som da borracha roçando à pista, transmitira aos passageiros, segurança. Agora, o piloto e comandante da EgyptAir já taxiava na pista, permitindo que a jovem pudesse apreciar, pela janela, a moderna estrutura do Aeroporto Internacional do Cairo — um dos maiores da África, com três belíssimos terminais. Tudo aquilo só poderia ser um sonho... não, não era. Era realmente veraz! Tão veraz que, em pouco tempo, ela iria respirar o Egito... poder tocar e senti-lo, além de ouvi-lo e vê-lo ao vivo e à cores.
Jennifer e o seu pai desembarcaram de mãos dadas e quando alcançaram a terra firme, se dirigiram em largas passadas a um hangar, situado ali mesmo no aeroporto. Enquanto andavam, ela vislumbrava embasbacada o horizonte retilíneo se perder nas areias do deserto, tão distante que não conseguia ter noção nem de tempo ou espaço. Curtia o vento acariciando seus cabelos e sorria, como se quisesse agradecer ao soberano rio Nilo por tudo aquilo existir. E a jovem O'Neil só despertou-se daquele seu estado de transe, quando uma gota de suor lhe correu pelo rosto, notando que transpirava um pouco. Ela havia percebido somente agora, a presença daquela bola de fogo alaranjada, baforando ardor e aquecendo inexoravelmente a manhã. Era o sol, acompanhando pai e filha dês das escadas de desembarque até o moderno helicóptero do instituto.
O objetivo do voo era levá-los rapidamente até a sede do instituto, onde Albert já os aguardava desde cedo. Diante da chegada de ambos, David andava bastante impaciente... e Andréia, demasiadamente ansiosa, pois há quase dois anos que não via o maior responsável pelo concretizar das pesquisas e escavações. Ainda mais dessa vez, que finalmente todos conheceriam sua filha. Assim que Nicholas e o piloto do helicóptero se encontraram, se cumprimentaram. Ele apresentou a filha e então, partiram em direção à porta entreaberta da pequena aeronave. Jennifer estava bastante tensa, já que jamais imaginara voar em algo do gênero. Não que ela tivesse medo de altura, era a adrenalina que começava a subir.
Eles puseram os cintos e logo que as hélices começaram a girar, uma poeirada danada foi levantada lá fora, pela tamanha força do vento. Jennifer percebeu que o aparelho subia e sentiu um friozinho na barriga. E, sendo dominada por inteiro, fechou os olhos, segurando firmemente no assento. Era uma sensação diferente de voar de avião. Agora, meio que sentia-se como se voasse com as suas próprias asas e não, em um foguete, indo ao espaço. E quando abriu os olhos, tomando coragem para admirar o enigmático território egípcio, aquela tensão que seus nervos ressaltavam deu lugar para que a fascinação tomasse conta dela. Também pudera... estava diante de mais de cinco mil anos de cultura! E olha que o helicóptero ainda sobrevoava o Cairo: a cidade das torres e mesquitas.
Enquanto largavam a tumultuada capital do Egito para trás, Jennifer apreciava o Delta do Nilo: uma rede triangular de braços formados pelas águas do rio, campos férteis, vinhedos e pomares, estendendo-se por uma área de duzentos e cinquenta quilômetros de largura. Sentia-se perfeitamente a continuidade da vida, se comparada essa área com o vasto e inóspito deserto circundante. Ela ainda fitava alguns camponeses a trabalhar, percebendo o quanto que sabiam aproveitar ao máximo suas terras. E, ao longo de todo o rio Nilo, cardumes inteiros eram apanhados pelas redes, feitas de cordas de linho atadas e presas com pesos de chumbo. As mesmas que, quando fechadas por uma corda trançada, assinalavam uma importante sentença: "alimentai o nosso povo com a dádiva do Nilo, dos peixes à farta colheita após o seu período de cheia, não permitindo que passemos fome jamais".

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Relíquia
General FictionPoderia mesmo existir submerso em pleno Deserto Egípcio, um templo gigantesco, repleto de mistérios e segredos, de riquezas e armadilhas mortais... o recanto de uma joia diabólica, capaz de aterrorizar a mente humana e revelar até a origem de nossa...