Brasil. Rio de Janeiro, 09:30.
Havia um quarto coberto de sombras, iluminado somente pela tépida luz solar que penetrava entre as brechas deixadas nas grossas cortinas lilases. Lá, o silêncio predominaria, se não fosse pelo ventilador de teto ligado e pelo tic-tac de um despertador que, posto em uma das mesinhas-de-cabeceira, aguardava a hora de acordar alguém. Nele, roupas femininas largadas a "Deus-dará" contracenavam com os objetos de arte e com alguns equipamentos eletrônicos — tevê de LED, computador e som —, que decoravam aquele aconchegante aposento, repleto de livros voltados ao Antigo Egito empilhados em uma moderna estante, trabalhada em marfim. Isso, fora os tantos bichinhos de pelúcia, que davam àquele ambiente meiguice e ingenuidade.
Aquele era, sem dúvida, um cenário clássico-adolescente, com alguns dos pertences mencionados acima espalhados até com certo toque de desleixo pelos cantos. Entretanto, transformando aquilo tudo em simples coadjuvantes, uma bronzeada e voluptuosa menina... não, uma mulher... ou melhor, uma menina-mulher, ali marcava sua presença, nua e adormecida, enroscada ao lençol de uma solitária cama de casal. Que imagem instigante e tentadora que estava diante dos olhos apenas do seu anjo da guarda: seu corpo, estilo violão, largado de bruços, com as suas coxas e nádegas completamente à mostra. Era a mais pura arte do prazer!
Cópia quase perfeita da mãe — a falecida Elizabeth —, a jovem e doce Jennifer, quando criança, já abusava de certo charme. Um estilo marcante, baseado em um sorriso tão moleque que valorizava bastante aquele seu rostinho fotogênico. Mas, de uns tempos pra cá, agora, estação das flores, ela, que há poucos dias completara a sua tão sonhada maioridade, perdera por completo esse seu jeitinho de criança. Jennifer já estava ciente de que não eram mais só os expressivos traços do seu rosto, aqueles admirados por todos. Ela sabia perfeitamente que, com o passar dos anos, tinha se tornado era a morena mais gostosa e desejada do pedaço.
Agora, eram aquelas exuberantes e extravagantes curvas do seu corpo, as responsáveis por tamanho sucesso. Porém, mesmo apesar desses contornos ousados e eróticos, esculpidos por Deus em um raro momento de inspiração, para ela, com tão pouca oportunidade de gozar dos prazeres da vida, sexo, só nas suas fantasias. Preparada? Bem... talvez, ainda não estivesse, mas já pretendia entregar a sua virgindade na primeira oportunidade que aparecesse. Precisaria apenas para isso, confiar nessa pessoa, ao ponto de ter certeza que valerá a pena e que não se sentirá usada, depois. O difícil seria encontrar o felizardo, pois, durante os finais de semana, quase não saía para passear. E o que dificultava ainda mais, apesar dela morar de frente para a praia da Barra, quando queria pegar sol e etcétera, dava preferência à piscina de casa, onde se sentia muito mais à vontade.
Poderia namorar alguém da academia, se sua academia não fosse no andar de cima. Na escola, apenas o seu professor de História despertava algo nela — qual a adolescente que nunca passara por isso? —, mas o pouco contato que tinha com Cláudio, sem que ele estivesse ocupado, lecionando a matéria para a classe, fora somente em seus sonhos, fantasiando coisas que jamais teria a coragem de revelar a alguém. Nem para a sua amiga mais íntima, que, aliás, não tinha. A verdade era que Jennifer, após a trágica morte da sua mãe, limitou-se a enfiar a cara nos estudos. Só queria saber de se formar — de vencer na vida! — e quando chegava a noite, estava tão cansada que acabava na cama... dormindo!
Logo, ela aproveitava aquela quente manhã para descansar um pouco mais o corpo, a mente e a alma, exaustos depois do término de mais um dia agitado. Enquanto isso, Nicholas, outro que agendava até os segundos que tinha, acordava e, como constava em suas anotações, encaminhava-se para o telefone, preocupado com o lento andamento das pesquisas. Essa era parte da rotina, predominante nos dez últimos anos. Coitado do Sr. O'Neil que, devido a uma ligeira afinidade da filha com a preguiça, sempre se esgoelava ante a porta do quarto dela, tentando acordá-la, mas só conseguindo fazê-la rolar, nua, de um lado para o outro da cama.

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Relíquia
General FictionPoderia mesmo existir submerso em pleno Deserto Egípcio, um templo gigantesco, repleto de mistérios e segredos, de riquezas e armadilhas mortais... o recanto de uma joia diabólica, capaz de aterrorizar a mente humana e revelar até a origem de nossa...