Capítulo 2

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Fito o relógio com os olhos quase fechados e reparo que ainda são 7:00hrs, o frio penetrando em meu cobertor, me obrigando a usar um segundo cobertor por cima, decido que ficarei deitado por mais alguns instantes, afinal não tem ninguém acordado para me apressar, faço isso sempre que dou a sorte de meu pai não me acordar. Depois de uns 10 minutos vou ao banheiro para o ritual matinal, escovo meus dentes e lavo o rosto, odeio o gosto doce da pasta de dente, sigo até a cozinha para fazer um café já que acordei antes de todos, volto para minha cama com o café em mãos  e me sento cobrindo minhas pernas com o cobertor, para que me proteja do frio que faz nessa segunda.
Quando já se está no último ano do ensino médio, chegar no colégio no horário certo já não é mais uma prioridade, então visto meu uniforme calmamente e me preparo para a guerra com o frio que faz lá fora.
Faço o mesmo trajeto todo dia de manhã, passo pelas mesmas ruas com as mesmas casas, reparo nas mesmas pichações enquanto ouço quase sempre as mesmas músicas e fumo um cigarro, engraçado é que eu tenho sempre essa sensação de que algo está diferente, de que há algo novo no que não há, mas sigo em frente sem me importar.
No colégio, me sento no lugar de costume me preparando para desabar em cima da minha mesa, mas não é bem isso que acontece.
- Ei, Dante - Ted me chama.
- Cara, como você consegue ficar tão disposto na manhã?
- Café cara, mas isso não importa, me diga, aconteceu de novo?
- Falando nisso, ontem foi um dos mais bizarros, eu me matava de verdade no final, mas valia a pena, passava uns 20 minutos conversando com ela...
-  Você tem que esquecer essa garota mano, ela não existe, como pode se apaixonar por algo fictício?
- Pensei que você não conseguia esquecer aquela Chloe do Life is...
- Tá tirando o foco D - Ted me interrompe - além do que, nos seus pesadelos ela é minha prima, isso não era para ser bizarro?
- Cara, relaxa, não vou te agarrar na hora da saída.
- Muito bem turma - Entra o professor de matemática, Sr. Roger - espero que tenham tido um ótimo final de semana e tenho certeza que seus amigos querem ouvir como se divertiram, mas isso terá de esperar o final da aula, então abram o livro na página...
- Tá, ele te livrou dessa, mas no intervalo temos que falar sobre esses sonhos cara, to meio desconfortável
- Ok, ok - e ignorando Ted completamente, durmo como um bebê em cima de minha mesa.
Acordo com o toque alto do sino antigo sinalizando o intervalo, levanto, me retiro da sala e vou ao armário de Kin, com o Ted.
- Certo, Kin dormindo, uma batida e um grito - disse Ted, dando um batida e um grito tão alto que os alunos no corredor olham estranho - Ei, japa, acorda, tá na hora de comer.
- Vocês são dois babacas, sabiam? - disse Kin com raiva por ser acordado - se vocês não podem dormir, pelo menos me deixem
- Caro Kin, para que serve  o colégio mesmo? - disse Ted.
- Tá, oque querem? - disse Kin.
- Quero que você diga pro D de uma vez por todas que a ''Zoey" não existe - disse Ted
- Sério cara, já está nessa de novo? - disse Kin - me lembro de você abordado umas 3 garotas que você dizia ser a Zoey
- Eu sei, eu sei, mas sinto que estou mais perto como nunca de a encontrar
- Você também lembra dos tapas que tomou por ter errado as chamado de Zoey? - disse Ted
- Qual o problema? Nós passamos a vida toda procurando alguém, e quando descobrimos que ela mora apenas nos meus sonhos, dói
- Mano, esquece disso, vamos comer - disse Kin.

É verdade, dói nós sabermos que nossa inspiração, nosso motivo para não parar de procurar, para acordar todo dia com esperança não existe. Eu vi todos os meus amigos andarem, progredirem com o tempo, uns com namoradas, outros já na faculdade como Gregório e Karen, e eu parado no tempo, qual o meu defeito afinal?

Fomos todos para a cantina da escola, o cheiro e a fumaça da fritura excessiva correndo pelos corredores, enjoando os alunos antes mesmo de chegarem até la, a comida que mais parece uma gororoba, todos os estudantes presentes parecendo os mais felizes do mundo, é notório que não estão, mas eles sabem fingir bem, e eu que pareço ser o único a reparar tudo isso me sento no lugar de sempre com Kin e Ted. Estou animado com o acampamento que o colégio organizou, sei que preciso disso, um tempo destinado apenas a acender um cigarro e olhar as estrelas, sentir a presença das nossas vizinhas sem a poluição visual da cidade, esta marcado para depois das provas de junho, durante as férias, oque ainda está longe, estamos em fevereiro, mas minha ansiedade permanece no mesmo lugar.

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