Capítulo 5

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Já havia se passado algum tempo- que pra mim, parecia uma eternidade- quando recuperei totalmente os sentidos do corpo, e, foi também, quando vi uma silhueta. Estava esperando ver Lucas, mas não me surpreendi muito ao ver que era Arthur, mas me surpreendi ao ver minha mãe junto à ele. Simplesmente não consegui acreditar que ela seria capaz de tamanha maldade, principalmente comigo, que deveria ser a princesinha dela, a flor delicada que ela cuidaria, a pessoa a quem recorrer quando ela estivesse se sentindo sozinha, a única pessoa que estava lá, há mais de 15 anos atrás, quando meu pai nos deixou, ela me dizia que eu poderia mudar o mundo, porque ela queria que a "transformação" acabasse por ali?

-Gabriela, não tome decisões precipitadas, lembra-se quando eu te disse para tentar ver as coisas com outros olhos?- Arthur consegue tirar todos os pensamentos da minha cabeça com uma simples frase, focando todos eles em me preparar para o que viria a seguir.

-Não pense que queremos te machucar, não temos motivos para isso, além de estarmos fazendo o contrário nos últimos 10 anos- minha mãe tenta se explicar, o que não me fez sentir melhor em relação à ela, mas eu estava ansiosa por respostas, não era hora de fazer drama.

-10 anos? Isso está relacionado, de algum jeito, com meu pai?- foi a primeira coisa que veio à cabeça, sentia muito a falta dele, mesmo nem me lembrando de seu rosto.

-Gabriela- Arthur me chama, e logo em seguida, faz uma pausa de poucos segundos, mas que naquele momento, pareceram horas- isso vai soar estranho e difícil de acreditar mas -outra pausa- eu sou seu pai.

Eles tinham me sequestrado, de algum jeito, tem feito eu perder alguns sentidos, tinham me machucado e agora queriam caçoar desse jeito de um assunto tão delicado, não consegui fazer outra coisa à não ser gritar tudo isso e ficar muito, realmente muito, histérica. Não conseguia creditar que depois de tudo isso eles ainda se fariam de coitadinhos. O que o moço que um dia eu julguei ser meu amigo me disse, me fez perceber o quão tola eu sou, estava com medo de Lucas, quando um dos verdadeiros monstros dividia o mesmo teto que eu.

Era assustador e terrível imaginar que me sentia protegida no lugar em que mais corria perigo. Era como se toda minha vida fosse uma enorme mentira. Já estava perdida completamente em meus pensamentos quando fui interrompida:

-Me dê pelo menos a chance de me explicar...

Eu queria fugir e simplesmente ignorar, mas minha ansiedade por respostas não deixou.

-... Há 15 anos atrás, quando você tinha apenas 3 anos, eu te deixei, o que eu não queria ter feito, mas fui obrigado. Como aparentemente dá para perceber, eu parei de envelhecer. Você deve ter estranhado o fato de pessoas aparecerem em seus sonhos, e depois, na "vida real", mas o fato é que, não são sonhos, e não é "vida real". São apenas realidades diferentes. São poucas as pessoas que conseguem "viajar" entre as duas, e nós dois, somos umas delas. Ou outros, como Camilli ou Lucas, não são como nós, mas não incomum pessoas com quem nos relacionamos aparecerem na outra realidade, e, como ela é um pouco, digamos que, adiantada, também não é incomum as pessoas aparecerem primeiro na outra realidade, e depois, nessa realidade. Paulo e sua mãe são as únicas pessoas que sabem sobre seu "poder". Na outra realidade, estão sempre tentando te matar, faça tudo que puder para não os deixar conseguir, pois se você morrer, você morre nas duas realidades e vai para uma terceira realidade, que, entre as pessoas dessa realidade aqui, é conhecido como inferno.

Estava tentando absorver cada uma daquelas palavras, mas não fazia o menor sentido. Eu podia viajar pra outra realidade em que praticamente todo mundo tentaria me matar, mas porque eu iria querer isso, sendo que se elas conseguissem eu ia pro inferno? Eu também nunca consegui controlar meus movimentos, não seria difícil alguém conseguir-lo. Eu também não conseguia escolher quando eu ia ou não para essa outra realidade.

-Gabbie, sei que deve estar assustada, mas você precisa "assumir" esse poder. Pessoas inocentes vão pro inferno, e só pessoas como nós conseguimos impedir isso. Sei que você pode não se importar, mas para cada alma inocente no inferno, uma alma maligna vem para essa realidade. Imagine, milhões de pessoas morrendo, isso seria pior do que a destruição que 5 guerras nucleares fariam. Pense nisso, sei que você não escolheu isso, eu também não, mas precisam da gente. Mas não vamos descartar a possibilidade de você não aceitar, podemos reverter isso, porém, terá consequências inimagináveis.

Era coisa demais para minha cabeça, a pouco tempo atrás, eu era uma simples menina, agora o mundo precisava de mim. Me sentia prestes a explodir, quando novamente, meus pensamentos foram interrompidos.

-Eu posso te ensinar tudo que precisa saber, não se preocupe, mas a decisão é totalmente sua. Mas leve em conta, a sensação que terá toda vez que tirar uma alma da outra realidade, leve em conta, também, leve em conta de que você irá parar de envelhecer, ou seja, será como os elfos, só morrerá se alguém te matar.

Eu precisava aceitar, isso não era coo um conselho, era como uma ordem, mas a única coisa que eu conseguia naquele momento era pensar em mim mesma. Se eu não envelhecesse teria que me mudar constantemente, senão, as pessoas descobririam. Não poderia me relacionar com pessoas, pois, logo, as perderia. Parei de pensar nessa parte, e comecei a pensar na sensação que Arthur- era difícil acreditar que ele era meu pai- havia falado.

-Deixe-me apenas te mostrar como é salvar alguém, e depois você decide, pode ser?

Queria dizer não, mas não o fiz. Apenas concordei e segurei sua mão, que estava estendida para mim.

Já tinha até esquecido de minha mãe quando a mesma nos interrompeu. Ela me pediu desculpas por não me falar nada e me disse para tomar cuidado. Em seguida, Arthur me perguntou sobre minha dor, perto da costela, e, só então, eu percebi o quanto estava sangrando. Ele me disse que logo ia parar e que me explicava depois o por quê disso. Ele me deu a mão novamente, e do nada, estávamos no último lugar em que o vi em meus "sonhos".

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