Capítulo 2

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Jake Evans


Que diabos ele estava tentando fazer? Se matar?

Desde que recebeu a notícia de que a filha do presidente foi sequestrada, Trevor estava agindo completamente fora do normal. Primeiro a desobediência em não ficar com o resto do esquadrão e me seguir até a cabana de reuniões. Agora isso. Onde ele estava com a cabeça?

Trevor McGregor nunca havia sido tão imprudente ou desobediente quanto estava sendo naquela noite. O cabo sempre recebeu muito bem minhas ordens e obedecia sem questionar, até a última vez em que voltou de Washington. Desde então, esteve quase sempre nervoso e questionava minhas decisões com uma resposta afiada na ponta da língua.

Eu entendia que alguns acontecimentos tinham poder para traumatizar as pessoas. Eu mesmo era prova viva disso. Entretanto, McGregor entendia sua posição de cabo e subordinado antes de ser atingido pela explosão da bomba e ser enviado a Washington. Por que agora ele não a aceitava mais?

Lembrei-me vagamente de ter lido ou ouvido alguma coisa sobre a irmã de Trevor cuidando dele depois do incidente com a bomba.

Por um instante pensei que ela poderia ser considerada culpada pelo novo comportamento do cabo. Tendo passado tantos dias com ele e sendo uma civil com ideias liberais, deve ter sido simples para ela colocar as próprias ideias na cabeça do irmão ferido. Mesmo que eu nunca o tivesse visto como o tipo de pessoa que era persuadida facilmente.

Eu não a conhecia. A irmã de Trevor, quero dizer. Mal me lembrava de seu nome. Também nunca a havia visto em fotos. Trevor era um tanto reservado quanto a ela. Talvez temesse que alguém se interessasse por ela. Tudo o que me lembro é de ouvi-lo dizer que ela era, ao menos fisicamente, uma versão feminina dele, de tão parecidos que eram.

Contudo, a semelhança física que Trevor afirmava ter com a irmã não era suficiente para explicar meu próprio comportamento. O cabo McGregor era um homem bem apessoado, com traços atrativos, sedosos cabelos loiros e brilhantes olhos azul esverdeados. Tinha aparência quase delicada demais para um cabo do exército. Mas isso não era motivo para eu tentar beijá-lo.

E era exatamente isso que eu estava fazendo à beira do rio quando Finnigan chegou. Eu devia ter perdido a cabeça.

Eu havia passado tanto tempo pensando nele e me preocupando com seu trauma nos últimos dias e, por um instante, parado à luz da lua, me senti atraído por ele. Fiquei enfeitiçado por aqueles olhos azuis brilhantes e finalmente alegres de novo depois de passarem tantos dias transtornados.

O que era ridículo. Aquela atração repentina não fazia o menor sentido. Eu nunca tivera um traço homossexual sequer em minha personalidade durante toda a vida. Nunca havia me interessado romanticamente ou sexualmente por outro homem. Não começaria naquele momento.

O fato de que naquele instante, à beira do rio e sob a luz da lua, a pessoa à minha frente não parecera ser um homem, apesar do uniforme, não vinha ao caso. Eu preferia pensar que toda a preocupação dos últimos dias, com a missão a Charikar, a menina afegã e o trauma de Trevor, haviam confundido minha mente. Eu estava confuso e exausto e tinha confundido isso com atração.

Mas não dava mais para negar que eu com certeza tinha perdido a cabeça em algum ponto dos últimos meses.

A confusão dos meus sentimentos era uma coisa, eu podia culpar o cansaço e o estresse por isso. Mas o que eu culparia pela insubordinação de Trevor? Ou melhor, o que eu culparia por deixar que ele fizesse aquilo?

Porque não havia qualquer explicação para eu ter desistido de impedir que ele me seguisse.

É claro que eu sabia que ele não ia desistir facilmente, ainda mais se ele insistia que precisava ajudar porque era amigo pessoal da filha do presidente. Mas eu podia ter insistido e, como oficial superior dele, poderia ter feito alguma coisa para impedi-lo...

Usada pela Guerra (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora