Capítulo 28

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Nathan

A sombra do meu passado me apavora a cada vez que fecho os olhos, desde a primeira vez que vi George conversando por telefone com alguém sobre o tráfico de mulheres. Eu sabia que o que ele fazia era errado. Depois de diversas pesquisas na internet, descobri que um dos países que mais exportam mulheres é o Brasil, e lembrei que a maioria das meninas que vi serem leiloadas era de nacionalidade brasileira, mas dentre elas também haviam americanas, asiáticas, indianas, europeias, e muitas outras etnias.

Então me recordei das noites mal dormidas desde que entrei nesse meio, cada maldita vez que eu ia para casa sem poder fazer nada, com as mãos atadas, porque a polícia não queria ainda que George descobrisse sobre a investigação. Liguei para a polícia quando escutei a conversa no telefone, contei quem eu era, e eles me fizeram entrar no meio para descobrir através de mim algo que pudesse realmente incriminar George. Foram os piores anos da minha vida. Eu era um garoto e sempre fui um filho da puta moralista. Visualizar o que acontecia naquela casa durante cada maldito leilão, era o mesmo que ir me matando aos poucos. Fui muito bem criado, para jamais maltratar uma mulher ou alguém indefeso, e por diversas vezes quis deixar aquelas meninas fugirem e seguirem seu caminho, mas a polícia não permitia. Sempre vinha com a maldita frase "Se fizer isso, estragará a investigação". Eu estava me lixando para a investigação, ainda mais depois que Jéssica voltou naquele estado, suja, machucada e grávida.

Seis meses após ter Jéssica na minha casa, recebendo todos os cuidados merecidos, fui à polícia e disse que não participaria mais da investigação, ao mesmo tempo cheguei a George e disse que estava saindo do ramo, que aquilo não era para mim.

Seis anos antes...

— George, estou saindo.

— Você não pode sair assim, Nathan. Você sabe demais.

— Eu disse que estou saindo. — Falei, olhando-o nos olhos.

— Nathan, as coisas não são assim. Você passou cinco malditos anos comigo, e acha que é só chegar e falar que não quer mais? — Ele estava bravo.

— É o que eu quero. Não vou mais permanecer no negócio. Já consegui o que queria. Ganhei uma fortuna, agora estou saindo. — Falei, dando-lhe as costas.

— Olhe para mim, seu moleque. Acha que é só vir aqui e jogar na minha cara que está saindo? Não é assim que funciona, Nathan. — Ele vociferou, segurando em meu braço. Me virei, dando-lhe um soco que o fez cambalear para trás. Segurei-o pela gravata quase o sufocando com ela.

— Eu não sou mais moleque. Talvez fosse quando entrei aqui, mas já não sou mais. Muito em breve estarei assumindo o império do meu pai e não preciso mais disso. E se você se aproximar de mim novamente ou se essa história vier à tona, eu mando matar você, ouviu bem? — Ele assentiu. — Espero que tenha ouvido mesmo. — Soltei-o.

— Nathan, você brincou com fogo.

— Todo e qualquer envolvimento meu aqui deve ser apagado. E não se esqueça: se algo me acontecer, este lugar será caçado, não só pelas pessoas que me conhecem, mas também pela polícia, FBI e todas as outras do mundo inteiro.

— Nathan...

— Estou falando sério. Nunca falei tão sério em minha vida.

Dei-lhe as costas e saí do escritório.

Cheguei a casa e Jéssica dormia profundamente. Seu rosto estava lindo como antes, sem aquelas manchas roxas. Passei a mão por seu cabelo e dei-lhe um beijo nos lábios. Em breve ela seria minha mulher.

Tempo presente...

Eu odiava lembrar os dois anos seguintes, quando apresentei Jéssica para meus pais e eles ficaram animados por finalmente eu estar com uma mulher, pois achavam que eu era gay. Conheci sua família, que morava em Miami. Seus pais eram mexicanos, mas ela havia nascido nos Estados Unidos. Eu havia tratado Jéssica como uma pedra preciosa, dava-lhe tudo o que queria. A mimava como jamais mimei outra mulher. Muitas passaram por minha cama, mas jamais ficaram tempo suficiente para fazer com que me apaixonasse. A fiz voltar a estudar, terminando o colegial e depois fazendo faculdade. No penúltimo ano da faculdade, ela se tornou rebelde e começaram as brigas. O meu ciúme me deixou cego por diversas vezes. Foi então que ela conseguiu um maldito emprego como secretária de um empresário russo e se envolveu com ele. Ambos saíram do país sem avisar a ninguém. Jéssica sequer se despediu de mim. Simplesmente sumiu, deixando-me com uma aliança de noivado no dedo e tendo que me explicar para todos, inclusive para sua família. Agora, quase dois anos depois, e quando já superei a dor da traição, ela volta e quer me ameaçar com um passado que ela não sabe nem a metade do que realmente aconteceu.

Entrei e fui para o quarto. Tirei a roupa, tomei um banho, relaxei e pedi comida, pois não queria cozinhar, e minha empregada não havia deixado nada pronto, afinal passei o fim de semana fora.

Katherine agora assumia todos os meus pensamentos. Ela deve estar indignada comigo pela forma como a tratei. Eu fui um filho da puta, duvidando daquilo que eu sabia que era verdade. Eu a tinha quase todo tempo sob meus olhos. Sabia que aquele bebê só poderia ser meu, pois ela não tem encontrado com ninguém além de mim.

O choque inicial de descobrir que vou ser pai assim, de repente, fez com que eu agisse como um verdadeiro idiota e babaca, tratando-a como se ela fosse uma qualquer que se deita com o primeiro que vê na esquina.

Após comer, entrei na minha biblioteca e procurei por um livro que havia começado a ler na época em que Jéssica estava grávida: "O que esperar quando se está esperando". É um livro incrível que eu particularmente indicaria para todos os futuros papais e mamães do mundo inteiro.

Kate

Eu estava incrivelmente chateada. Cheguei a casa, joguei minha bolsa sobre o sofá e caí sobre ele. Nathan jogou na minha cara que eu era uma prostituta, que o bebê poderia ser de outro. Tudo bem que havíamos começado de forma errada, mas duvidar que o bebê era dele, quando tudo o que mais fazíamos era transar sem camisinha? Passava das 20h quando meu celular vibrou sobre a mesinha de centro da sala.

— Pronto.

— Gata, se prepare. Acabamos de fechar um contrato de U$ 50 mil dólares para a campanha dos perfumes da Carolina Herrera. Precisam de você no máximo até sexta-feira em Milão, para gravarem um comercial. — Sim, com esse "gata" eu confirmei, ele é gay.

— Está falando sério, Alex?

— Nunca falei tão sério, Katherine.

— Tenho que lhe contar algo, Alex.

— Sim, minha pequena de um milhão de dólares, conte-me.

— Tem que ser pessoalmente. Posso ir à agência amanhã após a aula? — perguntei.

— Sim, claro. Estarei aguardando você. Preciso desligar, boa noite. — E desligou.

Pulei do sofá e comecei a dar pulinhos. Meu Deus era U$ 50 mil dólares, caramba! Como assim? Eu virei da noite para o dia a mais requisitada? E tudo por causa do bendito comercial.

Meu celular vibrou novamente. Era uma mensagem:

AH, ESQUECI-ME DE AVISAR! AMANHÃ ÀS 17H, NO INTERVALO DO CSI PASSARÁ O COMERCIAL QUE VOCÊ ESTRELOU COM O TOM. NÃO PERCA!

Ah! Ele acha mesmo que vou perder? Nunca! Fui dando pulinhos para o quarto e comecei a tirar a roupa para tomar um bom banho e relaxar.

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