Eu ainda me lembro... Vagamente, mas me lembro daquela tarde. Aquele desespero, aquela angústia. O sangue em minhas mãos, as pessoas, inconscientes, deitadas ao meu lado. Estava tudo tão claro, e de repente as luzes se apagaram. Se passaram alguns minutos, ou horas, ou dias; eu não me lembro muito bem, daí as luzes se acenderam de novo. E desta vez, eu não tinha me perdido na escuridão. Pelo contrário: eu estava perdido em meio à claridade, com dúzias de pessoas à minha volta.
Eu tentei olhá-la fixamente nos olhos; eram vazios, negros como a noite e não possuíam nenhum rastro sequer de humanidade. Ela pôs minha mão em seu peito, onde pude sentir uma enorme cicatriz, mesmo por cima de sua blusa. Suas mãos eram geladas, seus lábios não tinham cor. O que me deixava mais perturbado era o fato de que não dava para sentir seu coração batendo.
Nós caminhamos por alguns minutos, e conversamos um pouco. Não me lembro o que aconteceu depois; eu havia apagado e quando acordei, estava deitado em minha cama. Pensei em voz alta:
-Deve ter sido outro pesadelo. É tudo tão confuso!! Exclamei com raiva.
Olhei para os meus sapatos, e ambos estavam sujos de terra; a mesma terra que havia no cemitério da minha cidade.