2. Amor e Amizade - Dois Inimigos

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Capítulo 2

Amor e Amizade – Dois Inimigos

 

Luke Summers era, provavelmente, o ser humano mais simpático, carinhoso, pontual e irritante à face da terra. Mas esses não eram os seus únicos atributos. Cada pequena ação do dia a dia revelava um pouco da personalidade do meu melhor amigo, principalmente o seu sucesso como máquina que indica as horas e faz um barulho estridente, pelo menos, uma vez por dia – despertador.

Todas as manhãs, por voltas das oito, servia de meu despertador pessoal. A música extremamente alta enchia o prédio e depressa percebi o porquê de não haver queixas dos vizinhos. O edifício de quatro andares, à exceção de nós e um casal que vivia no primeiro andar, estava vazio. Não se sabia ao certo porquê, mas ninguém ficava por ali durante muito tempo.

Geralmente, dava-me meia hora para me arranjar, antes de bater à minha porta para irmos correr. Pelos vistos, ele tinha uma estranha obsessão por deslocar-se pelas ruas da cidade em t-shirt e calções, muito rapidamente e completamente soado. Nada disto me incomodaria particularmente, se não fosse pelo facto dele me obrigar a ir. Embora fosse mais do que capaz de o acompanhar, detestava tudo o que tivesse a ver com atletismo. Basquetebol era algo muito mais inato em mim. Ainda me lembro da minha cara de confusão quando ele me arrastou do apartamento com as minhas sapatilhas de desporto velhas na mão.

Estava a ver televisão enquanto cozinhava, ligeiramente irritada pelo facto de ter sido acordada tão cedo. O Luke, mesmo depois da nossa conversa de ontem, continuava a achar música aos berros uma coisa incrivelmente interessante. Isso tinha-me feito levantar da cama muito mais cedo do que tinha planeado e agora só queria que ele saísse de casa e me desse um pouco de sossego.

O pequeno-almoço estava na mesa quando a música foi, finalmente, desligada. Ele podia ser divertido e tal, mas ter o hábito de me deixar surda assim que o sol nascia era algo que começava a fazer-me odiá-lo ligeiramente. Estava a dar a primeira dentada na minha torrada, quando a campainha tocou. Suspirei, triste por deixar a minha comida deliciosa indefesa, e fui ver quem era. Abri a porta. Realmente, só podia ser ele. Era a única pessoa que conhecia.

- Luke, que estás aqui a fazer? – perguntei, com voz de sono. – É muito cedo para andares a tocar à campainha das pessoas.

- Pode ser muito cedo, mas não te acordei – disse, olhando para mim – a não ser que durmas vestida.

- Não, não me acordaste ao tocar à campainha – depois elevei o meu tom de voz, mostrando que estava zangada. – Acordaste-me há meia hora atrás quando puseste a música tão alto que me rebentaste com os tímpanos.

- Problemas com rock, Catherine? – questionou, num tom de gozo. Aliás, ele dizia tudo como se estivesse a brincar. Das duas vezes que tinha falado com ele, esta incluída claro, nunca o tinha visto dizer nada com um ar minimamente sério.

- Para dizer a verdade, gosto e muito. O meu problema é com o volume que as tuas colunas são capazes de atingir – reclamei. Não sabia bem como, mas havia de fazer tudo ao meu alcance para ele se aperceber que não vivia numa casa, sozinho, no meio do nada.

- Bem, obviamente não estou aqui para levar na cabeça por causa da música – afirmou, o que me fez olhá-lo com um olhar inquiridor. Realmente, que estava ele a fazer em minha casa tão cedo?

- Então, qual é a razão para me interromperes o pequeno-almoço? – ele ia interromper-me, mas eu fui mais rápida. – Não, não vou partilhar contigo.

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