Parte I

8.1K 199 6
                                    

     Termino as últimas anotações sobre a explicação da professora e fecho o caderno. Olho para o lado e lá está ela conversando e zoando na sala como de costume. Que menina sem noção! ainda não sei o porquê dela ter entrado na faculdade se não presta atenção em nada!
Ah claro, a popularzinha, a favorita de todos, a que todos dão moral e querem beijar. Eu nunca achei ela tudo isso.  Alana é morena clara, com cabelo liso, preto azulado na altura dos ombros, olhos mel e aproximadamente 1,65 de altura. Uma lésbica assumida. Nada feminina, muito menos masculina. Ela faz o tipo meio termo, acho que é assim que se fala. Nunca a vi de maquiagem, mas também nem precisa, a ordinária tem uma pele de pêssego, lábios levemente rosados que nem precisam de retoques e cílios de boneca... Invejável!
Ela nunca falou comigo a não ser pra pedir as respostas das provas, mas eu nunca passei. Como ela pode ser tão descarada a ponto de me pedir algo? Será que ela não percebe que eu não vou com a cara dela?
     De repente os seus olhos encontram o meu, e ela para de rir. Automaticamente desvio o olhar.
     A aula termina e todos saem da sala, menos Alana. Pego minhas coisas e também saio, estou com mais fome do que o normal e não vejo a hora de chegar em casa para almoçar.
— Ei Carine, espere!  - Reconheço a voz — Carineeee!
Continuo andando. O que será que essa garota quer comigo? Com certeza vai me pedir para ajudá-la fazer o seminário. Acelero os passos.
— Carine espere, tô falando com você!  - Alana grita mais alto e eu me viro.
— O que você quer? - Respondo secamente.
— Nossa, isso é jeito de falar com os outros?  - Sorri sarcasticamente exibindo dentes bem alinhados e brancos, que eu não tinha reparado antes.
— Temos que conversar sobre algo do nosso interesse.
— Deve estar enganada pois não tenho interesse algum em comum com você.  - Sorrio, devolvendo seu sarcasmo à altura.
Seu olhar rapidamente fica sério. Ela tira a mochila das costas e a abre em procura de algo. Pega um envelope e o segura a altura do rosto e me olha agora sorrindo como uma criança travessa
— Suponho que você não queira que todos saibam o real motivo de você ter se mudado pra essa cidade a três anos atrás.
Puxo o envelope de sua mão e o abro com rispidez. Retiro um CD que está escrito “Carine na web cam 2013”. Meus olhos enchem-se de lágrimas, e sinto uma pontada no estômago, era como se tivesse acabado de levar um soco. As minhas pernas tremem e um filme em câmera lenta passa na minha cabeça...
"Eu transando com meu primeiro e último namorado na web cam. Pessoas compartilhando meu vídeo nas redes sociais. Meus amigos se afastando de mim. Pessoas desconhecidas me odiando. Todo mundo me chamando de puta. Noites em claro e eu trancada no meu quarto chorando. Meu pai me xingando. Eu adentrando o avião em rumo à outra cidade."  Queria falar mas a minha voz não saía. Eu não suportaria reviver este pesadelo novamente, preferiria a morte.
— Parece que viu um fantasma, senhorita Certinha... Ora ora, quem iria imaginar que a nerd da sala tinha um passado tão interessante como este. Até que será bem útil para mim. - Ela parecia se divertir com o desespero estampado no meu rosto.
Num salto de fúria, comecei a quebrar o CD em vários pedaços. Os deixando cair no chão, juntamente com o sangue da minha mão que foi cortada acidentalmente.
— Pronto! Agora você não tem mais nada contra mim sua vadia.  - Meus olhos faíscavam de ódio.
— Como você é inocente... Eu tenho cópias desse CD. Escuta bem, eu quero algo em troca do meu sigilo. Algo simples, vantajoso para ambas.
— O que você quer? Fala! Vai, fala!  - Grito histericamente.
Ela ri com maldade jogando a cabeça para trás. Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e sussurra vagarosamente:
— Você será meu objeto sexual por três dias.  
— Tudo menos isso Alana. Eu não sinto atração por mulher.  - Suplico.
— Calada. Você não tem escolha. Toma aqui este endereço  - Coloca um papel dobrado no bolso do meu camisete -  Vamos começar amanhã. Esteja neste endereço as 20h00

     Ela sai andando sem olhar para trás, me deixando atordoada no meio da rua deserta.

Três Dias Mais Quentes Onde histórias criam vida. Descubra agora