Capítulo 33
Pov. Dakota
Acordei estranhamente ansiosa na quarta-feira, começando a lembrar com mais frequência do tempo que ainda restava para sábado. De alguma forma, me acalmei um pouco assim que Grace nos informou que tudo o que faríamos aquele dia se resumia a provar o buffet. Tudo já havia sido organizado por ela e Jhulie. Por isso, Jamie e eu só tivemos que ir até o local marcado - um tipo de salão de festas um pouco longe dali - para decidir o que entraria ou não no cardápio. Elas foram conosco, apenas para ajudar em alguma eventualidade.
Passamos horas provando doces, chocolates, salgadinhos, canapés, frios de diversos tipos, porções de massas, pratos de sopas e mais outras coisas. Jhulie ajudou na tarefa, talvez porque quisesse parecer útil ou talvez porque sua gravidez a estava deixando com fome. Jamie parecia interessado nesse assunto, e me lembrei por seu gosto pela culinária. Como minhas costas começavam a doer agora com mais rapidez, sentei em uma das cadeiras e permiti que ele resolvesse aquele assunto, escolhendo o que quisesse. Eu realmente não me importava com nada, contanto que ele não faltasse ao casamento.
Naquela noite, Jamie e eu tivemos uma pequena discussão. Ao pedir meu documento de identidade e minha certidão de nascimento para finalizar os últimos documentos que faltavam para tornar o casamento possível, descobri que ele havia decidido, sozinho, que nos casaríamos em comunhão total de bens.
Eu não entendia absolutamente nada sobre assuntos jurídicos de matrimônios, mas sabia o suficiente para ter certeza de que casar com Jamie, assinando um papel que dizia que toda a fortuna dele era minha também, era, no mínimo, injusto.
– E o que você sugeriria? Separação total de bens? - Ele debochou.
– Seria mais plausível, não?
– Não!
– Me explique então de que maneira eu tenho alguma influência sobre a SUA fortuna.
– Se estou me casando com você, quer dizer que quero que as nossas vidas se unam. O que é meu é seu, e essa é a minha idéia de união.
– E por que eu não posso me unir a você sem precisar tomar as suas coisas...
– Você não está tomando nada. Eu estou dividindo...
– É injusto e claramente vantajoso unicamente pra mim! Só eu ganho com isso!
– E eu não perco nada! Por que você é tão teimosa?
– E por que você sempre decide as coisas sozinho?
– Mas você concordou em deixar os assuntos jurídicos sob minha responsabilidade!
– Mas eu não lembrava que tínhamos que decidir o tipo de regime de bens!
Discutimos por algum tempo, até que minha cabeça começou a doer e Jamie pareceu profundamente arrependido de ter começado uma discussão, preocupado demais com o meu estado de nervos e como aquilo poderia afetar a gravidez. Quando eu já estava deitada e sendo devidamente paparicada, ele tentou me convencer em um tom mais calmo de que não havia porquê optarmos por outro tipo de regime de bens, e que, caso eu continuasse com a mesma opinião, poderíamos mudá-lo depois do casamento.
Para tornar as coisas mais fáceis, eu aceitei. Sabia que se continuasse com a minha ideia o casamento provavelmente acabaria não acontecendo dali a três dias. Além do mais, Jamie estava certo: Ele não tinha muito a perder, porque se dependesse só de mim, divórcio não era uma opção.
Na quinta-feira eu já não conseguia esconder minha ansiedade, que foi agravada quando Jamie comunicou que iria fazer a prova do terno e que eu não poderia ir junto.
– Por que não? - Perguntei com cara de choro.
– Também quero ser uma surpresa pra você no dia. - Ele falou com um sorriso no rosto enquanto me abraçava.
– Mas... Eu não quero ficar sozinha! - Falei, sentindo o choro chegar bem devagar.
– Você não vai ficar sozinha. Vai ficar com a minha mãe e a minha irmã.
– E quem vai com você? Arthur e Diego não contam, precisa de uma opinião feminina...
– E vou ter uma opinião feminina.
Encarei-o cheia de dúvidas. Ele ainda sorria de forma gentil, beijando minha testa como se eu fosse uma criança.
– Quem vai com você? - Repeti, um pouco desconfiada, embora não soubesse realmente com o quê. Mas se não era a mãe ou a irmã dele, era alguma mulher aleatória. E qualquer mulher aleatória me incomodava.
Quando Jamie se preparou para responder, a campainha tocou ruidosamente.
– Ah, acho que ela chegou. - Ele disse, segurando minha mão e me levando para o hall de entrada.
Quando Duda entrou na casa junto com Micael, Julia e Emily, me perguntei como eu não havia me dado conta da ausência deles para o casamento. Talvez eu estivesse um pouco alheia a tudo, fosse pela correria ou pelo estado letárgico em que eu ainda me encontrava desde que Jamie havia pedido a minha mão.
– Sabe há quanto tempo essas malas já estão feitas? - Duda perguntou, se soltando do abraço de Jamie e apontando para a porta.
– Relaxa, Du. - Arthur disse, surgindo do nada e indo falar com ela - Os convites não vão chegar a tempo pra nenhum dos convidados, então temos mais um motivo pra zoar com a cara dele pelo resto da vida.
Todos se cumprimentaram entre si e eu permaneci ali feito uma pamonha, assistindo a tudo sem me mexer.
– A noiva! - Duda falou, me tirando daquele estado catatônico. Abracei-a e agradeci aos parabéns, tanto dela quanto de Micael. Dei um beijo em cada uma das meninas, me sentindo repentinamente mais alegre pela presença delas ali.
– Você está mais gorda... - Julia falou calmamente, já que era muito nova para entender coisas como sutileza. Ela soou tão sincera que não tive como não rir, mesmo com os pedidos de desculpas envergonhados da mãe.
– Julia, ela está grávida. - Micael falou, rindo também.
– Ah! Tem um bebê aí dentro? - Ela perguntou, encostando a mão na minha barriga. Emily imitou seu gesto, mesmo sem saber o motivo.
– Tem. Uma menina. - Respondi.
– Mas essa casa fica a cada dia mais linda! - Grace falou, aparecendo tão de repente quanto Arthur e indo abraçar Duda e Micael.
Julia parecia um pouco vidrada na minha barriga, e Jamie começou a ficar com medo dela. Ele foi grato à Jhulie por aparecer com sua barriga ainda maior e fazê-la momentaneamente se esquecer de mim.
Depois de um grande almoço, incluindo Jim que fizera questão de dar uma escapada do trabalho para a reunião familiar, Jamie pediu para Duda e Arthur que o acompanhassem na prova do terno. Me senti deixada de lado, mas não quis confessar isso a ninguém, tentando parecer mais madura do que eu realmente era.
Aquela tarde teria demorado mais caso eu não tivesse me preocupado em ajudar todo mundo nas finalizações para a cerimônia. Jhulie tagarelava animadamente no telefone com floristas, enquanto Grace se virava para conseguir enviar, com urgência, os últimos convites que faltavam. Micael, por algum milagre, havia conseguido fazer com que Julia e Emily dormissem de tarde, em um dos quartos de hóspedes, e Diego coordenava o trabalho dos jardineiros, que precisavam deixar o jardim "impecável", segundo Jhulie, até o dia seguinte.
Agora que as pessoas começavam a correr, literalmente, para finalizar as últimas pendências da festa, meu coração e meus nervos pareciam entender a realidade aos poucos, deixando claro que dali a dois dias eu me casaria com Jamie. Aquilo era real. Aquilo estava acontecendo.
Tentei ficar quieta, escondendo de qualquer um meu nervosismo e minha ansiedade, e pedindo silenciosamente aos deuses que nada desse errado. Que nada que pudesse adiar aquele casamento, de qualquer forma, em qualquer sentido, viesse a acontecer
Sexta-feira chegou sem a quinta ter realmente ido embora. Quando o relógio marcava 6h da manhã, resolvi me levantar, já que cair no sono parecia uma tarefa impossível para o meu estado de nervos.
Eu sabia que não havia muitos motivos para ficar ansiosa daquela forma, mas não podia evitar. Não era algo que eu controlasse, e o martelar incessante daquele mesmo pensamento dentro da minha cabeça só fazia com que eu não conseguisse me distrair de forma alguma: "Amanhã eu me caso com ele. Amanhã eu me caso com ele."
Jamie se levantou trinta minutos depois de mim, alegando que seu sono havia sido interrompido unicamente pela minha ausência na cama. Invejei-o pela sua calma, como se o dia seguinte fosse ser apenas só mais um sábado qualquer.
– Você dormiu bem? - Ele perguntou, me encarando com uma expressão preocupada.
– Sim. - Menti. Ele não precisava saber que meus olhos não haviam sido pregados nem mesmo por dez minutos, mas eu tinha certeza que o tom de roxo nas minhas pálpebras deixavam esse fato bastante óbvio.
Durante o resto daquele dia, Jamie insistiu em me perguntar se estava tudo bem, e conforme as horas passavam, me aproximando mais do grande dia, mais difícil era mentir sobre aquela pergunta. Em determinado ponto, acabei perdendo a paciência e comecei a ser grosseira - mas não era por mal. Tudo que eu queria, realmente, era que ele me deixasse quieta.
O jardim da casa de Grace e Jim estava uma loucura. Um caminhão havia trazido várias cadeiras de madeira, mesas, bancadas e algumas tábuas que já estavam sendo unidas a pregadas por alguns homens desconhecidos. Tudo estava mais ou menos empilhado em um canto, e do outro lado podia-se ver mais homens montando ferros e desdobrando forros brancos, como toldos, fazendo força em todas as direções. Diego, Arthur, Jamie, Micael e até Jim, que havia faltado propositalmente ao trabalho, estavam ajudando na arrumação. Havia tanta gente ali, dentro e fora da casa, fazendo tantas coisas diferentes e falando tantas coisas confusas que eu comecei a me sentir realmente agitada.
– Ei... Tudo bem aí? - Ouvi uma voz atrás de mim e me virei, encontrando Duda com um sorriso simples no rosto vindo parar ao meu lado.
– Nervosa... - Consegui pronunciar, encostada em uma pilastra enquanto assistia a toda aquela preparação.
– Por quê?
– Não sei. - Admiti.
– Bom, é normal ficar nervosa perto do casamento, mesmo sem motivo. É mesmo um dia muito importante.
– É... Importante... - Balbuciei, tentando afrouxar os nós dos dedos - Só espero que eu não acorde agora.
Duda me olhou de forma divertida.
– Você não está dormindo.
– Eu não tenho essa certeza...
Continuamos em silêncio por algum tempo, assistindo aos homens trabalharem. Jamie olhava para a nossa direção sempre que podia, de longe, me dando espaço. Talvez estivesse com medo de mim depois da última resposta que dei a ele.
– Tenho que admitir uma coisa. - Duda falou outra vez, chamando minha atenção. Ela olhava para longe, sem me encarar - Quando soube o que ele sentia... Eu tentei fazer com que ele esquecesse de você.
Embora eu não soubesse daquilo, não foi um choque ouvir suas palavras. Na verdade, seria estranho caso ela NÃO tivesse tentado, já que qualquer uma na posição dela faria a mesma coisa pelo melhor amigo que, de repente, resolveu se apaixonar por uma puta.
– Tudo bem... - Respondi, sem realmente me ofender - Mas fico feliz que você não tenha conseguido.
– Eu também. - Ela pontuou, dessa vez se virando para mim - Você sabe o poder que tem sobre ele, não sabe? Sabe que ele come na sua mão, e é por isso que é tão fácil fazê-lo sofrer.
Sorri, voltando a encarar as pessoas que trabalhavam no fundo do jardim.
– Ele também tem um poder um pouco estranho sobre mim... Então acho que estamos quites.
– Talvez... - Ela finalizou, um pouco distraída, seguindo meu olhar.
Jamie surgiu à nossa frente, e eu me perguntei quanto tempo ele havia demorado para cruzar aquele enorme campo e vir em nossa direção sem que nenhuma das duas tivesse realmente notado isso.
– Ei, está tudo bem?
– Jamie, sabe quantas vezes você já me perguntou isso hoje? - Respondi calmamente.
– Eu vi Duda falando com você... Achei...
Interrompi-o, segurando seu pescoço e dando um selinho gentil em seus lábios.
– Vamos fazer assim: Se eu sentir alguma coisa, eu te digo. Prometo. Ok?
– Ok... - Ele respondeu, ainda não muito convencido.
– Só estou um pouco nervosa. Se ao menos eu pudesse me ocupar com alguma coisa pra ajudar na arrumação...
– Nem pensar. Você não vai fazer esforço nenhum.
Jamie era adorável na maior parte do tempo, mas às vezes ele era simplesmente teimoso como uma mula. Antes que eu começasse a gritar com ele, ou o que era pior, começasse a chorar feito uma criança contrariada, virei as costas e entrei, batendo o pé e deixando clara minha indignação por estar sendo tratada como uma inválida.
Ao final da tarde, tudo parecia estar pronto, ou pelo menos era o que haviam me dito. Jamie queria que a arrumação da festa também fosse uma surpresa para mim, e talvez eu tivesse conseguido escapar e dar uma espiada nos fundos do jardim caso Arthur não estivesse ajudando o irmão naquele plano.
Mas, de qualquer forma, não era exatamente por aquilo que meu coração disparava o tempo todo.
– É amanhã-ã-ã! - Arthur falou em uma voz dramática, me sacudindo pelo ombro e conseguindo exatamente o que queria: Me deixar um pouquinho mais desesperada.
– Pára com isso, idiota. Não está vendo que ela está nervosa? - Julie falou em um tom de reprovação.
– Qualquer noiva fica nervosa na véspera do casamento, anã.
– Ela está grávida. - Grace lembrou - Não a deixe mais ansiosa, Arthur. Não é bom.
– Amor... - Jamie começou, perto da minha orelha - Quer que a gente vá pra casa?
– Quê? - Arthur se meteu outra vez - Casa? Jamie seu retardado, amanhã você vai estar casado! Temos que sair pra sua despedida de solteiro!
Eu continuava muda, apenas escutando todo mundo à minha volta. Era mais saudável ficar quieta, porque talvez, no momento em que eu abrisse a boca, acabaria me descontrolando de verdade.
– Não acha que talvez seja melhor Jamie ficar fazendo companhia pra Dakota filho? - Jim perguntou, provavelmente notando o quão esquisita eu estava.
– Ele vai sufocá-la pelo resto da vida! Só temos que comemorar, já que hoje é o último dia! - Ele falou animado, virando-se para mim e fazendo uma cara de intelectual - Dak, não se preocupe. Só vamos encher a cara e passar a noite com algumas garotas de programa.
Por algum motivo, aquilo me fez rir e falar pela primeira vez em muito tempo:
– Ele pode beber, mas não vai passar a noite com uma garota de programa.
– E como a senhorita tem tanta certeza disso? - Arthur provocou, levantando uma sobrancelha.
– Eu só sei. - Falei, encarando Jamie e rindo sem querer.
– Ok. - Ele falou, ainda tentando fazer drama - Jamie, Diego... Vamos nos arrumar e botar pra foder.
– Cara... Eu sou casado. - Diego concluiu calmamente.
– Foda-se! Vamos logo!
– Ok. - Jhulie falou, sorridente - Dak, vamos nos divertir também.
– QUÊ? PORRA NENHUMA!
Me assustei com o berro agudo de Jamie. Eu nem sabia que ele podia fazer aquilo com a voz.
– Ah, e só os bonitões podem aproveitar a noite? - Ela provocou com ar de autoridade.
– Se deixar a minha noiva com você, eu não caso amanhã!
– Não seja tão dramático.
– Isso é injusto! Diego está com a gente, é o suficiente pra vocês saberem que não vai acontecer nada demais!
– Nossa, estou me sentindo muito pouco divertido agora. - Diego falou baixinho, e eu ri.
– E eu estou com a Dak! - Jhulie falou, como se fosse um ótimo argumento.
– Porra! É exatamente por isso que eu não quero...
– Jamie, respire. - Duda se meteu, falando pela primeira vez - Eu fico com elas.
Ele encarou a irmã, como se a desafiasse a me convencer de fazer alguma merda na presença de Duda.
Demorou um bom tempo até que todo mundo ali convencesse Jamie de que, "pelo amor de Deus", nós não faríamos nada que pudesse se aproximar da palavra "ousado". Tanto Jhulie quanto eu estávamos em estágios de gestação relativamente avançadas, e se ele realmente achava que aquele papo de beber vodka e ir parar em um clube de mulheres era verdade, Jamie precisava de tratamento psiquiátrico urgentemente.
Quando Arthur, Diego e ele estavam prontos para sair, fui me despedir.
– Ei... - Agarrei-o pela gola, trazendo-o propositalmente para perto e falando em um tom divertido.
– Ei. - Ele respondeu, se encostando em mim e me abraçando com força - Se chegar mais perto, eu fico.
Sorri, beijando-o de forma simples mas provocante, falando contra seus lábios:
– Lembre-se que você casa amanhã.
– Não tem como esquecer.
– Ah, tem sim. Não sei quantas doses de qualquer coisa o seu irmão vai fazer você beber, e não sei onde vocês vão. Mas só quero que você se lembre de mim.
– Não se preocupe. Vamos acabar bebendo em uma boate qualquer. E, de qualquer forma, eu estou sempre pensando em você, então não tem perigo.
Ele disse isso com sua voz sedutora e carinhosa, como um gato manso, e eu me senti um pouco instável.
– Certo. - Falei, ainda contra sua boca - Vou fingir que você não está tão cheiroso e lindo, e que não vai servir de isca pra vadias solteiras.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Burning Desire
RomanceDakota Jonhson é uma mulher que na sua vida sofreu mais do que podia aguentar. Perdeu seus pais cedo e por não ter como se sustentar, recorreu ao trabalho que mais abomina nessa vida, mas era o único trabalho que a manteria viva. Jamie Dornan é um...