Diário De Uma Víbora

Introdução

 Eu andava pelo quarto sem saber o que fazer.

 Fitei o Diário em cima da cama, sabia que estava autorizado a abri-lo, mas ainda assim sentia certo receio, não tinha certeza se estava preparado para saber os segredos mais profundos dela, afinal ela é igual a mim. E é disso que tenho medo.

 Não deveria, mas tenho. Não gosto nem um pouco da perspectiva de conhecer o outro lado dela, o lado em que ela chorou por mim em vez de me bater, que clamava por amor em vez de jogar seu veneno por aí. 

 Eu sei, eu sei, isso parece idiota, mas tenho medo de que por dentro, na verdade ela seja uma pessoa tão machucada quanto eu. 

 Sento na cama e o pego em minhas mãos, é incrível como se parece com ela, é de um verde escuro e desafiador, como se desafia-se alguém a abri-lo para depois aguentar as consequências. Eu não a desafiaria se fosse você.

 Mas comigo foi diferente, ela me entregou, ela confio-me os seus segredos mais íntimos, mais vergonhosos e constrangedores. Ela quer que eu abra, que eu leia-o, que eu a conheça por inteiro, até as partes mais profundas e obscuras de seu coração.

 Fecho os olhos e a visualizo, visualizo seus longos cabelos negros juntamente com sua pele levemente bronzeada, sua boca carnuda, seu corpo de deixar qualquer um louco, seus olhos... Aqueles olhos maliciosos, que me prendem... 

 Solto um longo suspiro, desejando que as férias acabem logo, querendo ela comigo novamente, para então,  começarmos a espalhar nosso veneno juntos, sozinhos somos maus, mas juntos, ah acredite, você não iria querer problemas com a gente.

  Eu a amo, sim, por mais estranho que possa parecer, eu a amo. E com esse pensamento sei que não tenho o que temer. O que estiver escrito, não vai mudar o que eu sinto por ela.

 E com as mãos tremendo finalmente o abro...