Ache o que você ama e deixe isso te matar.

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"Observava as pessoas à distância, como numa peça de teatro. Apenas eles estavam no palco e eu era plateia de um homem só". - Charles Bukowski

***

Seis anos depois.

Point of view Lauren.

Era uma manhã agradável de céu azul, sol brilhante e brisa leve; o melhor do blues tocando no rádio de minha Range Rover. A paisagem se movimentava depressa do lado de fora do vidro; árvores, flores, montanhas. Parecia uma daquelas manhãs que você acorda e cheio de alegria, pensa: Hoje ninguém vai estragar meu dia!

Pena que esse tipo de otimismo já não me atingia mais.

Eu estava a caminho de Huston, no Texas, para mais uma entrevista na qual eu deveria estar animada, mas tudo que eu conseguia sentir era arrependimento por ter esquecido meu cantil em casa. Que eu não me sentia realizada há bastante tempo era fato, e isso era notório. Só não me recordava de quando havia começado a não sentir mais nada.

Eu gostava de escrever. Gostava não, eu amava!

Escrever, para mim, era como o voo para as aves: Libertador e necessário. 

A cada verso sentia-me viva como plantas na chuva, era como se minha existência, minha essência, dependesse daquilo. Escrever era meu respirar, o meu pulsar. Todavia, já fazia algum tempo que as palavras me escapavam do laço.

"Um escritor é a soma de suas experiências", disse um pensador que me foge o nome.

E eu? Bom, eu já não tinha mais nada para contar.

Meu coração não estava partido, não havia nenhum amor desgraçando ou iluminando minha vida – o que era até bom –, e não estava bêbada em algum lugar luxuoso ou nostálgico.

Nada de grandioso me acontecia.

O fato é que, um escritor só consegue transpassar com maestria aquilo que sente ou já sentiu, e por um longo período, eu senti muitas coisas.

Felicidade, amor, tristeza, mágoa, raiva.

Por um bom tempo pude contar a todos sobre as flores que brotaram em meu peito, falei sobre o cheiro das gardênias e a delicadeza de suas pétalas, e também pude dissertar a dor dilacerante de ver o jardim sendo pisoteado por brutais pés. Também espalhei esperança de que novas flores viessem a brotar, e todas essas coisas sentimentais que nos movem.

Só que, de tanto semear as flores, vê-las brotar cheias de beleza e, por consequência, vê-las sendo pisoteadas, aos poucos o jardim foi se entristecendo, o solo perdendo a saúde.

Eu fui cansando de sentir.

Se toda vez que eu sentia algo, no final, eu me resumiria a lágrimas, meu coração por legítima defesa decretou que daquele outono em diante, não sentiria mais nada. Foi então que ocorreu em mim uma ditadura poética, as palavras se calaram em protesto, da caneta não saia nenhum verso, nenhum manifesto.

Cheia de ego e vazia de alma.

A criatividade se esvaia feito água corrente pelos meus dedos.

- Maldições... – Rangi os dentes, resmungando, quase rosnando, ao ver a fachada envelhecida da editora que haviam me encaminhado para a tal entrevista.

Deprimente; essa seria a palavra ideal para descrever a visão que eu tinha.

Era tudo muito feio, a começar pelo lugar que era no meio do nada, numa vizinhança quase vazia e pacata; diante de meus olhos o prédio de dois andares muito surrado pelo tempo, tinha o letreiro luminoso em curto, saindo algumas faíscas volta e meia; as paredes com a pintura descascando, os vidros empoeirados. E, essa união de detalhes, me dava a leve impressão de tudo viria à baixo a qualquer momento.

The Last CoffeeOnde histórias criam vida. Descubra agora