Eu não quero te perder

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Point of view Camila

Dá porta para a janela, dá janela para a porta. Esse era meu percurso naquela noite. Andando de um lado para o outro, os medos me dominavam e transformavam minha noite em um verdadeiro caos.

- Ela está assim há horas, DJ - Sofia tentou sussurrar, mas não funcionou muito bem. Parei meus passos para fitar a garota e a mesma ergueu os braços em rendição, logo depois saiu do quarto e fechou a porta.

- Você viu a Lauren hoje? – Dinah perguntou, balancei a cabeça negando. – Vocês brigaram? – Balancei negando novamente. – Virou um camaleão que só balança a cabeça?

- Estou meio preocupada, Dinah... Meio não, muito.

- Por que? A branquela não aceitou? – Minha amiga perguntou, eu ri, mas, meu sorriso não durou muito, pois a resposta de sua pergunta já estava formulada e era dolorosa de ser dita.

- Sim... Mas, até quando, Dinah? Eu estou grávida! G-r-á-v-i-d-a. Não é uma gripe. Não estarei curada na próxima semana. É uma criança. Um bebê que não é dela, que é do meu ex noivo, que me traiu. Até quando vai durar essa aceitação, Dinah? Até a barriga aparecer? Ou melhor, até meus hormônios ficarem loucos? Ou até o bebê nascer e ela se der conta de que vai criar um filho que parece com meu ex? – Àquela altura já chorava e berrava feito uma louca, e Dinah apenas me olhava com os olhos arregalados.

- Mila... Calma...

- NÃO TEM CALMA! – Berrei ainda mais alto. – Ela vai me deixar. Eu encontrei o amor da minha vida e vou perder. É simples. – Limpei minhas lágrimas e comecei a andar de um lado para o outro. O surto que eu tanto evitava, estava acontecendo e o estrago estava começando.

- Amiga, você tem que se acalmar. Nervosa desse jeito, você vai acabar passando mal. E outra, duvido que a Lauren vá te deixar. – Ela disse e eu gargalhei alto, debochando.

- Dinah, ninguém normal convive bem com isso. Essa aceitação não vai durar muito. Uma hora, ela vai abrir os olhos, vai me ver gorda, barriguda e vai pensar: "Que merda eu estou fazendo com a minha vida? Esse filho nem é meu". - Quando findei, Dinah tinha os olhos ainda mais arregalados, quase saltando da cara. De morena, ela estava pálida feito uma folha de papel branco.

- É isso que você acha que vou pensar, Camila?

Aquela voz... Merda!

- Lauren... o que faz aqui...? – A pergunta vazou por meus lábios e quando a olhei, para meu maior susto e desespero, ela não estava só. Minha mãe estava ao seu lado, junto de meu pai e Sofia.

- Eu...acho que já vou! – Dinah se levantou rapidamente da cama e pegou sua bolsa. Quando vi, ela já estava passando pela porta, tentando não esbarrar nas criaturas de olhos grandes que me fitavam.

- Bom. – Meu pai pigarreou. – Acho que vocês precisam conversar. Estaremos lá em baixo para continuar essa conversa. – Ele deu um tapinha no ombro de Lauren e deu as costas, seguido por minha mãe e Sofia.

- Diz que você não ouviu tudo aquilo que eu disse...

- Eu ouvi sim, Camila. – Lauren falou séria e fechou a porta trás de si. Aqueles olhos verdes transpassaram minha alma e relaxando os ombros, ela deixou um sorriso escapar pelo canto de seus lábios. – Mas não vou brigar contigo, meu amor, eu estou com muitas saudades para brigar. – Ela apenas abriu os braços e eu me atirei naquele meio, sendo logo apertada por ela. Aqueles braços me cercavam como asas e protegida por elas, nenhum medo era capaz de me assustar.

- Eu não quero te perder... – Falei deixando as lágrimas escaparem por meus olhos. Sua mão tocou meu queixo e segurando ali, ela ergueu meu rosto. Olhando-a tão de perto, era possível perceber que não havia um defeito sequer naquele rosto. Cada risco que formava seus traços era extremamente milimétrico e bem pincelado. Seu nariz tão bem desenhado, tinha de quebra aquele piercing que a dava um ar ainda mais juvenil. Os tão cobiçados lábios rosados e aveludados e aqueles planetas verdes e intensos que ela chamava de olhos. Não era trivial, nem banal a intensidade que aqueles olhos tinham. Verdes ao fundo da íris, com fios castanhos, alguns fios azuis e o contorno cinzento. Retinas raras de poder devastador. E para minha sorte, aquela preciosidade esmeralda estava diante de mim, me observando até o respirar.

The Last CoffeeOnde histórias criam vida. Descubra agora