Versus

4. Daremos Um Jeito

18 de Julho de 2014 às 10h05. Hotel The Venetian, Las Vegas, NE

Metade de seu corpo estava na cama e a outra metade, pendendo dela. Seus cabelos compridos e escuros encostavam no chão. A mãe diria que daquela forma todo o seu sangue escorreria para a cabeça, mas aquela sempre fora a posição mais confortável para Bloody conseguir pensar, aquela posição lhe dava alguma forma de conforto necessário para que esvaziasse a sua cabeça de qualquer outro pensamento e lhe ajudasse a tomar as decisões mais acertadas.

Fora naquela mesma posição que um dia, há anos atrás, decidira que iria seguir com a carreira no crime, com outra aparência, outro nome e ainda mais determinação. Lhe dava um prazer secreto saber que estava indo contra todas as leis, fazendo o que mais dava adrenalina a Ethan. De alguma forma, estava vivendo a sua memória, porém agora descobrira que estava vivendo por uma mentira.

Talvez alguém ligaria para reclamar do som, Jay-Z tocava tão alto dentro daquele quarto que era possível ouvi-lo do corredor, mas Bloody não estava preocupada com isso, estava tentando tomar uma decisão. Depois do que acontecera na noite anterior, o seu corpo insistia em tomar uma direção, completamente diferente da que o seu coração tomava e ainda mais diversa que a da sua mente. Mas qual dessas direções era a correta?

Missy continuava observando a amiga sem dizer qualquer palavra. Mantinha o celular na frente dos olhos, observando as mensagens chegarem, perguntando da disponibilidade da melhor assassina do continente americano. Tinham uma boa clientela, todos os brinquedos tecnológicos caríssimos de Missy eram uma prova disso. Bloody fazia parecer como se tudo fosse apenas mais um trabalho comum, até mesmo se divertindo em alguns momentos, mas o dinheiro dos seus pagamentos era sempre impressionante. No começo, ganhavam cerca de cinco mil dólares por morte. Missy, na época, achava a quantia exorbitante, depois de passar tanto tempo nas ruas sem nem ao menos um centavo. Com o tempo, as técnicas foram se aperfeiçoando e os próprios clientes subiram o seu preço. Hoje a fama de Bloody a precedia e Missy era a responsável por todas as conexões onde os clientes permaneciam anônimos e satisfeitos com os assassinatos encomendados.

A lista de mensagens crescia e Missy continuava parada, observando Bloody e todo o seu tormento psicológico, sem se importar com o volume em que Holy Grail tocava no quarto. Tinha de deixar Bloody se decidir sozinha. Ainda que não concordasse com as coisas que Ethan Wyatt havia feito, haviam conversado sobre seus planos. O homem de olhos azuis havia sido misterioso em relação a certos aspectos de seu retorno, mas deixara bem claro que queria Bloody como sua assassina em um assalto que faria na França.

Se as contas dele estivessem certas, e pelo que Missy ouvira falar, elas sempre estavam, ela e Bloody embolsariam uma quantia razoável que as permitiria se aposentar em qualquer ilha do Pacífico, belas e relaxadas sem precisar se preocupar com quantias e novas mortes.

Se fosse pela loura, já estariam em um avião a meio caminho da França. Mas tudo dependia de Bloody.

Era ela quem faria o trabalho e, infelizmente, ela quem tinha toda a história com Ethan Wyatt, o seu amado noivo ao qual ela achara por tantos anos que havia morrido no mar.

- Diga logo, não aguentarei por muito mais tempo você fingindo que nada está acontecendo. – pediu a garota na cama, cansada depois de passar tanto tempo pensando e não chegar a conclusão alguma.

- Está realmente pronta para escutar o que eu tenho a dizer?

Eram amigas há um longo tempo, o que permitia que se conhecessem como verdadeiras irmãs, Missy não tinha papa nenhuma na língua e Bloody deveria sentir a consideração da amiga naquele momento perguntando se ela estava pronta. Nesse caso, o que Missy tinha a dizer provavelmente terminaria de arrancar a casca das feridas que Bloody trazia no coração naquele momento.