Era ele...

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Os quatro dias passaram-se de forma tão célere que nem um atleta poderia alcançar tal marca. Pelo menos para quem acompanhava de fora a vida passar com a sua rotina chata e modorrenta de sempre. Já para a família Vitti os dias pareciam não passar, é impressionante como a ansiedade paralisa a capacidade humana de visualizar o mundo a sua volta, por um lado o indivíduo deixa de ser um mero medíocre e se transpõe para a vida de uma criança que espera com pressa pelo horário que o sinal da escola toca pro recreio, por outro lado a pessoa centraliza sua vida exatamente naquilo que é aguardado e faz todo movimento da vida com precaução para que nada fique errado quando o dia tão esperado chegar.

O apartamento aconchegante de Isabella mais parecia um monte de escombros depois de ser devastado por um furacão, só que na verdade a ação que causou total fuzuê não era da natureza, era a ação humana mesmo. Tinha roupas amarrotadas em cima do sofá, caixas de supermercado servindo de transporte de utensílios pessoais, fotos antigas espalhadas pelo chão da cozinha... a maior sorte ou azar (dependendo do ponto de vista), para a Isabella, foi ter alugado o apartamento com praticamente todos os móveis dentro, isso lhe poupava ocupar mais espaço ainda na casa de sua velha amiga, mas por outro lado, sabia-se lá quando ela conseguiria mobiliar uma casa própria...

No exato dia da mudança a situação tinha melhorado muito, as coisas estavam encaixotadas e a única sujeira que tinha ali eram papéis antigos com lembranças tolas e um odor deplorável de cigarro, já que iria sair mesmo, Isabella não se importava de exalar a fumaça no meio do apartamento todo, é como dizem, apesar da queda deixe sempre a sua marca no mundo. Em minutos a Nina chegou do colégio, com a mesma cara de enterro e humor de um velhinho de oitenta anos, estava acabada por dentro perante aquela situação, jamais havia imaginado que sairia daquele apartamento, não fosse para ter casa própria ou se algum dia a sua irmã resolvesse casar com o atual namorado. Sempre muito orgulhosa, se recusava dar o braço a torcer e sair dali, por conta disso enrolou mais do que tudo para juntar o restinho dos seus itens pessoais.

- Nina, arruma o que sobrou das tuas coisas, tava só esperando você chegar para finalizar a mudança. – Isabella disse e espirrou

- Sua voz tá um lixo. – ela comentou o fato da irmã está com a voz alterada, talvez pela poeira e os ácaros que poderiam ter causado uma alergia.

Isabella mesmo com o corpo exausto e a voz entorpecida, foi tragando mais um cigarro que foi praticamente arrancado da sua boca pela irmã. Ela franziu o cenho e fuzilou Nina com o olhar.

- Porque fez isso, ô garota? - Isabella perguntou irritada com a irmã

- Já decidiu com quem eu vou ficar?

- Como assim, garota? – perguntou confusa

- Tô perguntando se você já achou alguém para cuidar de mim depois que você morrer. – respondeu

- Que conversa bizarra, eu não vou morrer tão cedo.

A mais velha tentou puxar o cigarro da mão de Nina e ela afastou-a rapidamente jogando-o em um cinzeiro de vidro que a Isabella havia herdado da família. Foi mais um ponto de raiva para Isabella que tossiu em rompante.

- Me devolve, garota!

- Não. Você tá cansada, espirrando e tossindo sem parar e ainda quer fumar. Você quer morrer, Isabella?

Isabella destruída e arrastada sentou no chão encostando-se na parede, fez uma careta de dor, sua coluna também estava dando poucos sinais vitais. Nina balançou a cabeça negativamente e sentou ao lado da irmã, se entreolharam e começaram a rir sem motivo.

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⏰ Última atualização: May 23, 2016 ⏰

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