As tochas fincadas ao chão geravam a iluminação alaranjada presente na clareira. A lua, que provia luz todas as noites, começava a sumir em um eclipse há muito tempo esperado. Um eclipse necessário.
Os elfos saíam com curiosidade e cautela de dentro das árvores, no intuito de espiar o ritual que se preparava no centro da Floresta do Esgor. O lugar era conhecido por sempre ser um espaço de festejos e banquetes que reuniam humanos, elfos, fadas e todas as outras criaturas do reino, por menor que elas fossem. Assim como todo o resto de Sahran, aquela floresta costumava ser um lugar feliz. Agora, nada mais era que uma prisão verde. Um refúgio para cada vivalma que pretendia fugir das garras da rainha tirana.
Sahran era formada de vários pequenos reinos unificados, sempre liderada por reis e rainhas justos, que protegiam o povo de toda e qualquer ameaça externa. No entanto, ninguém pareceu notar a ameaça interna que destruiu o reino. Crescendo como uma erva daninha, só a notaram quando tomou toda a plantação. Essa erva maligna era a nova esposa do rei.
Após da morte extremamente suspeita da primeira esposa, o rei Thoros tomou para si uma mulher da corte chamada Muriel, que era próxima a falecida rainha. Thoros apenas casou-se com o intuito de que a filha, a princesa Celise, tivesse uma figura materna em quem pudesse se espelhar, e queria oferecer ao povo uma figura gentil em que pudessem confiar tanto quanto nele mesmo.
Para a infelicidade do reino, o plano de Thoros ocorreu terrivelmente errado. Muriel era tão cruel quanto bela, e depois de casada se mostrou uma exímia feiticeira assassina. Matar o rei foi seu primeiro passo para assumir o poder que almejava.
Por todos os vales e florestas, em cada pequena reunião ou assembleias secretas, ouviam-se múrmuros sobre o que ela era capaz de fazer. Dizia-se que havia tirado a vida do rei não por poder político, mas por poder místico. Que poderia fazer cortes profundos em seu corpo sem morrer. Que sua beleza só se mantinha por conta de sacrifícios de sangue.
Os sussurros se encerraram no instante que o corpo da princesa foi jogado da escadaria do castelo pelos soldados. Humanos e sobrenaturais se compadeceram da morte, recolheram o corpo e o protegeram de quaisquer outras desonras.
As perdas não pararam ali. Outras pessoas começaram a desaparecer, assim como membros de espécies mágicas e alguns tipos de animais, apenas para alimentar a busca incansável de supremacia mágica da rainha, que não tardou a receber o nome de Rainha Negra.
Percebendo que aquele caos não cessaria sem interferência, um velho feiticeiro morador da floresta tomou uma decisão, e ainda que esta causasse medo em todos que o cercavam, era a única saída. Magia de sangue só era combatida com magia de sangue, e então, o corpo da princesa foi desenterrado.

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Magia de Sangue
FantasySahran vivia seus melhores dias, até que uma tirana feiticeira assume o trono. As criaturas existentes no reino sofrem com a sede de sangue da monarca. Os sobreviventes depositam suas esperanças nas promessas de um velho feiticeiro, num ato desesper...