II

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Por volta das 22 horas subo à superfície, Kelvin já me espera sentado ao lado de sua prancha na areia. Ele nota-me de imediato e joga-se na água. Chego onde ele dá altura e espero ele nadar até mim.

- Que saudades, Marie. - Ele segura no meu rosto e distribui beijos no mesmo.

- Tenho uma notícia para te dar. - Olho em suas íris castanhas que parecem sorrir para mim e me olham curioso. - Meu pai vai me transformar, vou poder ir ao baile de outono com você, Kelvin.

- Sério, meu amor? - Assinto e ele beija-me nos lábios - Que notícia maravilhosa!

- É sério! Só que tem um probleminha, eu não sei... hum... me vestir?

- Não tem problema então, Shannon pode cuidar disso para você, mas cuidado! Minha irmã irá te fazer de boneca.

- O que é uma boneca? - pergunto confusa e ele coça a cabeça.

- Eu definitivamente não sei explicar isso, mas no dia te mostro. - Promete rindo. Nós continuamos a passar parte da noite juntos e combinamos onde nos encontraríamos, até ele ter que ir embora, pois tem aula (que ele conta que é um tipo de horário onde ele fica numa sala aprendendo coisas humanas, estranho né?) amanhã.

Volto para minha casa submersa, onde todos já sabem que no final do outono eu irei, por uma noite, ser humana. A ansiedade toma meu corpo e os momentos que tive com Kelvin meus sonhos.

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O dia do baile de outono, enfim, chega eu estou apavorada e com medo do que está por vim. Sei lá, vai que eu não me enturme? Que Kelvin me deixe de lado por não saber me misturar? E se eu ficar tropeçando nos meus próprios pés?

Espanto essas dúvidas quando Audrey e Nico entram no quarto discutindo e cheios de águas marinhas nos troncos e enroladas nas caudas de ambos. Eles discutem e eu sorrio, nós vamos juntos almoçar e eu noto o quanto estou perto de realizar meu sonho.

Eu e meu pai saímos de casa e nadamos até a praia mais afastada da cidade, poucas pessoas vão lá e dificilmente alguém veria uma sereia se transformar em humana. Espera, eu ia ficar nua? Pergunto isso ao meu pai e ele fecha um pouco a cara e diz não ter ideia, mas que daríamos um jeito nisso.

Chegamos no raso e ele pega seu tridente e o ergue. Diz algumas palavras que nem mesmo eu sei a língua, toca com o tridente na minha cauda e desde a nadadeira começa a brilhar. Esse brilho vai subindo e quase cega meus olhos. Quando volto a olhar para baixo vejo que no lugar da minha cauda verde-água está um par de pernas igual as do Kelvin! E minha parte íntima está coberta por um biquíni da mesma cor do meu top e da minha cauda.

- Deu certo! Obrigado, pai! De verdade!

Ele sorri e fala que eu devia ir para mais perto da areia e tentar andar dentro da água mesmo. Faço como ele diz e só não caio por já estar acostumada com o movimento das ondas. Mesmo assim, digo ao meu pai que consigo sozinha a partir daqui. Ele olha as horas à partir do sol e diz que às 01:05 eu devo estar no mar novamente. Agradeço mais uma vez e ele se vai.

Em alguns minutos olho para a orla e vejo Kelvin, eu balanço minhas mãos para cima e ele vem correndo. Noto que trouxe uma mochila rasgada, que me permite ver roupas e uma toalha dentro. Resolvo fazer uma supresa, uso todo meu equilíbrio e saio da água. Kelvin para no meio do caminho e fica observando-me chegar perto dele.

- Uau! - Ele murmurra passando uma das mãos nos olhos como se não acreditasse no que vê. - Você está linda com...

- Essas duas cenouras em forma de pernas - Kelvin gargalha do meu modo dizer. E eu sorrio olhando para meus pés miúdos - Aqueles dez são tão pequenos!

- "Aqueles" são seus dedos. - Explica e puxa-me para um abraço. - Sonhei tanto com esse dia! Você está conseguindo andar normal?

- Na verdade eu só não caí ainda porque você está me segurando. - Confesso segurando em seus braços moldados a surfe. Kelvin ri. - Parece que você está ainda mais encostando em mim, sem aquele mar em nosso redor! É reconfortante!

Kelvin passa a toalha sobre meus ombro e me leva para o que ele contou-me que se chama calçada, começa a tirar toda água do meu corpo e eu sinto-me um pouco estranha, afinal, eu vivia no oceano. Ele ajuda-me a vestir uma roupa e vai me falando o nome de cada coisa para que eu não fique perdida com algumas diferenças que temos entre nossos mundos. Passo um short nas minhas novas pernas e vejo que ficou até bonito, só não entendo porque Kelvin me encara tanto.

- Cara, já te amava como sereia, mas como humana tenho que ficar de olho para não ser trocado por outro mero humano. - Ele diz passando seu braço direito por meu ombro para me firmar, eu sorrio e beijo seu pescoço.

- Não irei te trocar! - Para reafirmar isso lhe dou um beijo profundo. Sinto que estamos sendo observados e olho para o mar no mesmo momento. Senhor Hank! - Podemos sair daqui? Meu pai está nos vigiando.

- Vem, vamos para minha casa. Shannon está louca para te conhecer!

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Marie - A Cinderela Das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora