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Kelvin

Cinco anos depois...

Pego o avião e volto para minha cidade, meu pai e Shannon esperam-me no aeroporto. O momento em que matamos a saudade é gratificante, me faz ter certeza que ir em busca do meu sonho não foi em vão; eles estão orgulhosos.

Vamos para casa e assim que entramos, digo que estou um pouco cansado, seguindo assim para meu antigo quarto. Tudo está da mesma forma, até minha antiga mochila rasgada está pendurada na cabeceira da cama. Abro minha mala e tiro um maço de papel. Todas as cartas endereçadas para o mar do atlântico estão amarradas e dentro de uma sacola. Eu nunca consegui esquecer Marie nesses cinco anos e tiveram vezes em que quis voltar para cá e vê-la. Mas isso a decepcionaria, pois ela era a que mais me incentiva - depois da minha família - por causa da faculdade.

Localizo a primeira e leio todas as coisas que contei à ela por minhas palavras. A última carta fala da minha formatura e de como eu estava feliz e queria tê-la comigo naquele momento.

Escuto batidas na porta e jogo o maço na mochila rapidamente. Meu pai entrar e me encontra olhando para o teto.

- Eu a visitei. - Ele diz e eu o encaro com uma ruga de desentendimento na testa. - Marie, eu fui vê-la.

- Por quê, pai? - Não quero ter que saber que ela não importa-se mais comigo ou tenha casado-se com algum tritão por causa de uma tradição idiota.

- A pergunta que devia fazer não é essa, meu filho. Ela não esqueceu-se de você, após todo fim de inverno ela volta e vem até a praia na esperança de te encontrar. Mas em todas as suas férias por aqui, você evita a praia... - Ela não esqueceu-se.

Deixo meu pai falando, levanto-me, pego a mochila na cabeceira e corro para praia. Tiro o maço de papéis e penso em joga-los de uma vez, mas não daria certo. Olho dentro da mochila, mas não encontro nenhuma garrafa, somente uma lanterna sem pilhas. Pensa, Vin, pensa!

Desmonto praticamente toda a lanterna até que ela vire um pote com tampa, pego os papéis e coloco dentro, fechando sem seguida. Aproximo-me de onde as ondas pequenas quebram e jogo a lanterna ao mar. Espero que minha Marie a encontre, como prometeu...

- Ei, moço? Pode sujar o meu mar desse jeito? - uma voz pergunta de repente atrás mim com certa ironia e respondo, girando sobre os calcanhares:

- Desde quando o mar é... Marie? - É ela! E está sem a cauda. Ela sorri e eu não perco tempo questionando coisas, apenas vou até ela e a tomo em meus braços. - Meu amor, oh Marie, eu senti tantas saudades!

- Eu também, Kelvin. - Ela responde e eu a beijo. Marie está mais alta e até madura, sua voz tinha ganhado firmeza, mas continuava doce como eu tinha conhecido. - Espera, são águas de março! O que você jogou?

- Suas... cartas! - Ela arregala os olhos e corre para o mar, fazendo brilhar quando suas pernas são cobertas pela água. Em minutos ela volta com a lanterna improvisada, virando humana de novo como se fosse algo costumeiro. - Como?

- Anos observando meu amor dormindo sem vim me visitar... - Diz. - Fiz um acordo com meu pai, todos os dias do verão eu me tranformo.

- Então nem o mar nos separa agora? - pergunto me inebriagando com seu perfume.

- Bom, tecnicamente não, somente os solstícios de inverno que eu irei migrar. - Ela sorri e beija minhas bochechas. Eu retribuo.

- Tempo de inverno nunca mais será problema para nós, meu amor.

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Marie - A Cinderela Das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora