Quando sai de casa naquela manhã eu não sabia que teria que resolver tantas coisas. Uma delas a escola.
Claro isso é fácil, a maioria pode pensar. Meus pais podem pagar a melhor escola desta cidade, mas eu não queria me misturar com a hierarquia mesquinha dos ricos caridosos que esnobam os estudantes bolsistas ou os alunos de escolas filantrópicas que são gerenciadas pela escola modelo e que usa esse artificio para dizer ao mundo que se importa com a sociedade.
Hipócritas.
Eu não estava interessado em nenhuma dessas escolas, sentia falta da minha. Ao chegar no velho prédio da escola pública onde estudei quando era criança a nostalgia tomou minha mente, adentrei na minha velha sala e sentei no me antigo lugar e então a lembrança de uma das aulas me veio à cabeça.
- Como se chama Professor em inglês Chaves? - o professor linguiça me olhava enquanto esperava uma resposta óbvia aquela pergunta enquanto colocava o charuto na boca.
- Teacher.
- Muito bem Chaves! - disse ele em meio a um sorriso e retirou o charuto da boca - E professora?
- Teachar - disse completamente confiante.
- Não Chaves no inglês a palavra Teacher pode ser usada tanto para professor quanto para professora. Esta entendido?
- Sim professora! - disse triunfante enquanto ele fazia uma cara de lombriga escorrida.Era impossível não rir.
- Olá Chaves! - disse o professor Girafales ao me ver.
Ele estava mais velho. Os cabelos brancos quase domavam todo o seu cabelo. Continuava o "encanamento de 1km" de sempre. Mas não era tão magro como antes. Havia ganhado alguns quilos. O terno e o chapéu ainda estavam ali e é claro o charuto que ele carregava no bolso do palito.
- Olá professor. - disse em meio a um sorriso enquanto ele se aproximava.
- Você cresceu Chaves. Como você esta?
- Um pouco - disse coçando a cabeça - Estou bem. Então o senhor ainda dá aulas aqui?
Ele riu.
- Sou diretor agora.
- Que bom professor. Fico feliz.
- Você mudou. Não parece ser...
- Mas a criança peralta que vivia em um barril. - completei sua frase.
- Agente cresce professor.
- Que bom. Parece que abraçou os estudos. Estou orgulhoso. E o que faz por aqui?
- Vim me matricular.
- Aqui?
- Sim.
- Porque?
- É onde eu devo estar.
Ele riu e me puxou para um abraço.
- É bom tê-lo de volta Chaves.
Seguimos para a diretoria onde fiz a minha matricula. Logo em seguida fui ao hospital, falei com o médico responsável Dr. Valdez e ele me informou que se ele seguisse o tratamento com a medicação logo estaria bem.
Peguei Don Ramon e Chiquinha, passei em uma farmácia e comprei todos os remédios que seu Madruga precisaria, ele era orgulhoso e não queria aceitar mas no final das coisas acabou aceitando.
Retornamos a vila, acomodei seu Madruga no quarto e quando sai encontrei Chiquinha sentada na velha mesa de madeira. A casa não havia mudado por dentro.
Continuavam os velhos moveis velhos e surrados. A sala se mantinha com sofá apoiado por tijolos assim como a poltrona. A cômoda com a TV pequena em preto e branco. O pequeno espelho de vidro ao lado da porta. E as bandeirinhas acima do sofá presas a parede. A mesa de madeira com quatro cadeiras e o armário a sua frente.
- Sinto muito. - ela murmurou.
- Sente? Pelo que?
- Pelo beijo de ontem. Eu...
Me aproximei dela e me sentei ao seu lado, segurei suas mãos e a olhei nos olhos.
- Eu te amo Chiquinha, mas não como você quer. Eu a amo como uma irmã e nada mais...
Seus olhos se encheram de lagrimas e estas começaram a rolar pelo seu rosto.
- Eu sinto muito. - disse por fim.
Ela não disse nada, tirei minha mão de cima da sua, me levantei e caminhei até a porta. A olhei e sai pela mesma.
Ao fechar a porta e me virar esbarro em alguém e caímos no chão. Tudo foi rápido e quando me foco novamente, vejo que estou em cima de alguém. E ele era...
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Velha Vizinhança | Fanfic BL do Chaves
FanfictionJá fazia oito anos que ele não pisava naquele pátio, onde todas as suas lembranças de repente vieram a tona. Ele havia crescido e mudado assim como todos ali. Ele esperava encontrar apenas os amigos daquela época, mas ele acaba encontrando o amor.